Carlos Sá deixa a unidade depois da morte de uma grávida e do seu bebé e de um dia em que o tempo de espera nas urgências chegou a ultrapassar as 20 horas
O presidente do Conselho de Administração do Hospital Fernando Fonseca, também conhecido como Amadora-Sintra, apresentou esta segunda-feira a demissão, na sequência de dois casos polémicos em poucas horas. A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, confirmou essa mesma demissão, tendo aceitado a saída de Carlos Sá.
O responsável está, assim, de saída da gestão daquele hospital, precisamente a unidade onde morreu uma mulher grávida que tinha sido enviada para casa horas antes, e cujo bebé também acabou por não sobreviver.
Este mesmo hospital teve, já durante o fim de semana, uma nova polémica, uma vez que as urgências chegaram a um tempo de espera superior a 20 horas no domingo.
A demissão surge também depois de um comunicado relativo ao caso da grávida que morreu, em que o hospital reconhece que a mulher era acompanhada desde julho, informação que a administração garantiu que a ministra não sabia, o que levou Ana Paula Martins a equivocar-se nas declarações no Parlamento.
Em comunicado, o conselho de administração da Unidade Local de Saúde Amadora-Sintra (ULSASI) revelou que, “devido à inexistência de um sistema de informação clínica plenamente integrado, que permita a partilha automática de dados e registos médicos entre os diferentes serviços e unidades […], só hoje ao final da tarde foi possível verificar que a utente se encontrava em acompanhamento nos cuidados de saúde primários da ULSASI desde julho de 2025, na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Agualva”.
Segundo o comunicado da administração hospitalar, a mulher fez duas consultas de vigilância de gravidez, em 14 de julho e 14 de agosto, tendo realizado consultas de obstetrícia no Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, nos dias 17 de setembro e 29 de outubro, esta última dois dias antes de morrer.
A administração daquela ULS realçou que esta informação do acompanhamento desde julho só transmitida à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, no domingo, esclarecendo que as declarações feitas pela governante na Assembleia da República, onde disse que a mulher não tinha tido acompanhamento prévio, tiveram “por base informação e o comunicado emitido pela ULSASI, que se referia ao episódio em concreto que antecedeu o desfecho fatal, que teve lugar no dia 31 de outubro, no Hospital Fernando Fonseca”.
Na sexta-feira, dia em que a grávida de 38 semanas morreu, o diretor do serviço de urgência obstétrica e ginecológica do Hospital Amadora-Sintra, Diogo Bruno, explicou que a mulher estava em paragem cardiorrespiratória quando deu entrada no hospital, tendo sido imediatamente socorrida com todos os procedimentos previstos.
Na altura, a ULSASI referiu que a grávida foi na quarta-feira ao hospital Amadora-Sintra “assintomática” para uma consulta de rotina, durante a qual foi identificada com hipertensão ligeira.
A mulher, segundo o especialista, “foi apenas por extra cuidado enviada à urgência”, onde foi despistada pré-eclâmpsia, uma das complicações da gravidez, e teve alta com indicação para internamento às 39 semanas de gestação.
Segundo o diretor, a grávida, natural da Guiné-Bissau, tinha chegado recentemente a Portugal e foi referenciada para a consulta de especialidade de obstetrícia com uma gravidez de termo precoce.
De acordo com o site do SNS24, “a duração normal de uma gravidez oscila entre as 37 e as 42 semanas, sendo a data do parto calculada para as 40 semanas de gestação, o que significa que um bebé que nasce antes das 37 semanas de idade gestacional é considerado prematuro”.
Na mesma altura, Diogo Bruno referiu que o conselho de administração determinou a abertura de um inquérito interno para apurar todos os contextos deste caso, “sendo certo que depois hão de haver desfechos desse inquérito”.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde também determinou a instauração de um processo de inquérito para avaliar a assistência prestada à grávida, assim como a Entidade Reguladora da Saúde que anunciou a abertura de um processo de avaliação com o mesmo objetivo.
No sábado de manhã, também a bebé que nasceu da cesariana de emergência morreu, um dia depois da morte da mãe.