"Mais um bocadinho nasciam em Vigo e eram espanhóis": autarca critica fecho mais longo de sempre da urgência de Leiria

3 ago, 15:38

Várias urgências registam constrangimentos no primeiro fim de semana de agosto. A situação mais grave acontece em Leiria

De Leiria ao Porto são quase 200 quilómetros. Esta é a distância que várias grávidas vão ter de percorrer até 19 de agosto para ter um bebé. Nunca um encerramento foi tão longo e foi com “enorme surpresa” que o presidente da Câmara Municipal de Leiria recebeu a notícia.

“Acho que isto é um exagero de distância, sobretudo quando falamos de soluções mais próximas como é o caso de Coimbra. Mais um bocadinho estavam a nascer em Vigo e eram espanhóis”, atira Gonçalo Lopes, em entrevista à CNN Portugal. O autarca fala de uma “medida desajustada”, atendendo às 400 mil pessoas que o hospital serve.

Para o Porto vão ser apenas encaminhadas as grávidas com partos mais complexos ou já com cesarianas programadas. As restantes - a maioria - vão ser atendidas em Coimbra. Tudo isto se deve à falta de médicos, que já obrigou a fechar a urgência de Leiria por várias vezes, mas nunca por um período tão prolongado.

“Um hospital não é uma fábrica. Estamos habituados a que durante o período de verão as fábricas encerrem. O que está envolvido num processo de fabrico são peças, mercadorias - não são seres humanos”, acrescenta o presidente da Câmara Municipal. “Um hospital tem de garantir o que seu funcionamento 24 horas por dia todo o ano, mesmo em períodos complicados como é o caso do Natal ou do mês de agosto”, continua.

Também os deputados do PSD eleitos por Leiria já escreveram ao Governo a pedir esclarecimentos. Na pergunta à tutela, os cinco parlamentares referem que “a prestação dos cuidados de saúde no distrito de Leiria, e em particular nos concelhos de Leiria e das Caldas da Rainha, tem vindo a degradar-se e a criar uma incapacidade de dar respostas efetivas às necessidades dos utentes, gerando até um clima de insegurança perante o cenário”.

“Com efeito, os serviços de urgência nos hospitais de Leiria e das Caldas da Rainha à data continuam de forma intermitente a estarem encerrados, obrigando ao ‘desvio’ dos utentes para outros hospitais”, explicam, num documento no qual também abordam os cuidados de saúde primários, considerando que há muito se chegou ao “ponto de rutura”.

A ULSRL confirmou o encerramento do seu serviço de urgência ginecológica/obstétrica desde as 09:00 de sexta-feira e as 09:00 do dia 19 de agosto, justificando com a “falta de recursos humanos”. “Este encerramento já estava programado de forma a dar uma resposta consistente às utentes e grávidas da ULSRL até ao final do presente ano e foi articulado com a ULS de Coimbra”, adiantou.

Segundo a ULSRL, “as utentes e grávidas da área de influência da ULSRL deverão ligar previamente para a Linha SNS Grávida – 808 24 24 24, para serem encaminhadas, antes de se deslocarem para qualquer unidade de saúde”.

Os constrangimentos não se ficam, no entanto, por aqui. O primeiro fim de semana de agosto começa com dez urgências de obstetrícia e pediatria fechadas por falta de médicos. Na região de Lisboa e Vale do Tejo apenas quatro dos dez hospitais mantêm as urgências para grávidas abertas.

Esta é uma situação que se tem vindo a agravar e que, de acordo com Susana Costa, do movimento Médicos em Luta, vai continuar a evoluir nesse sentido, estimando que “abranjam mais especialidades”. “O acesso à saúde está altamente condicionado e vai agravar-se muitíssimo. Isto é o que está plasmado à frente de todos", garante à CNN Portugal.

Para Susana Costa, a culpa é de "quem tem responsabilidade de dirigir e gerir", reforçando que os médicos têm vindo a alertar para esta situação ao longo dos meses. Ainda assim, os constrangimentos mantêm-se e a representante dos Médicos em Luta garante: “Falta planeamento e vontade de resolver os problemas”.

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