Há cinco anos, um casal multimilionário foi encontrado morto junto à piscina. Família oferece 33 milhões de euros para encontrar o assassino

CNN , Faith Karimi
21 dez 2022, 10:10
Honey e Barry Sherman

 

 

As mortes dos multimilionários canadianos Barry e Honey Sherman são um grande mistério.

No dia 15 de dezembro de 2017, um agente imobiliário estava a fazer uma visita guiada à mansão do casal em Toronto quando, por volta do meio-dia, encontrou os corpos junto da piscina interior na cave da casa. Estavam sentados lado a lado completamente vestidos, presos ao corrimão da piscina interior com cintos amarrados ao pescoço, relata a polícia.

Barry Sherman tinha 75 anos e a esposa Honey tinha 70. Levaram cerca de dois dias a encontrar os corpos e não havia sinais de entrada forçada em casa, revelou a polícia.

A história fez-se ouvir pelo mundo inteiro. A polícia considerou as mortes suspeitas e, assim, nasceram teorias sobre quem poderia querer matar um dos casais mais ricos do Canadá: o fundador da Apotex, uma grande empresa de medicamentos genéricos canadiana, e a sua esposa filantrópica.

A polícia e os inspetores têm feito o seu melhor para descobrir a verdade, mas já se passaram cinco anos e ainda não chegaram a nenhuma conclusão. Esta semana, na data do aniversário dos homicídios, o filho dos Sherman ofereceu mais 24 milhões de euros por informações que levassem a uma detenção. A recompensa é agora de 33 milhões de euros.

“Esta semana marca a passagem de cinco anos desde que os meus pais foram assassinados em casa. Desde então, todos os dias têm sido um pesadelo. Estou sobrecarregado com dor, perda e tristeza e estes sentimentos só se agravam incessantemente”, afirmou Jonathon Sherman numa declaração à CBC News do Canadá, na qual anunciou a recompensa monetária.

“Só será possível obter um desfecho quando os responsáveis por este crime forem levados à justiça”, acrescentou ele. “Ficarei a aguardar o dia em que tiver de dar esta recompensa, pois será o dia em que posso finalmente descansar”.

A Polícia à porta da casa de Barry e Honey Sherman em Toronto depois de terem sido encontrados mortos a 15 de dezembro de 2017.

Inicialmente, especulou-se que era um caso de suicídio

Desde o início, o caso deixou os investigadores e detetives amadores bastante confusos.

Dias depois de terem encontrado os corpos, uma autópsia revelou que o casal morreu devido à “compressão da ligadura ao redor do pescoço”, ou estrangulamento. A investigação estava ainda na sua fase inicial e as mortes não estavam a ser tratadas como homicídios, relatou a polícia na altura.

“A forma foi indeterminada, sendo as únicas opções apresentadas o duplo suicídio, homicídio/suicídio ou duplo homicídio”, afirmou a inspetora-chefe Susan Gomes.

O filho de Barry e Honey Sherman descreveu-os como “uma fechadura e uma chave, bastante inúteis individualmente, mas capazes de destrancar muitas portas juntos” 

A proeminência das vítimas implicou que o caso fosse de grande visibilidade desde o início.

Segundo o website da empresa, Barry Sherman fundou a Apotex em 1974 e transformou-a numa empresa farmacêutica global que doou mais de 47 milhões de euros a instituições de caridade. Na altura da sua morte, a Forbes estimou que o seu património líquido era de 2.8 mil milhões de euros. A riqueza, os vastos investimentos e o trabalho filantrópico dos Sherman permitiram que eles se cruzassem com as elites empresariais e políticas do Canadá.

O seu funeral contou com a presença de milhares de pessoas, incluindo o primeiro-ministro Justin Trudeau e Kathleen Wynne, a primeira-ministra da província de Ontário.

Durante a cerimónia, Jonathon Sherman, emocionado, subiu ao palco acompanhado pelas suas três irmãs, e criticou a especulação de que os pais tinham morrido por suicídio.

O primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau, à direita, e a primeira-ministra de Ontário Kathleen Wynne, centro, assistiram à cerimónia em memória do fundador da Apotex, Barry Sherman, e da sua esposa, Honey, em Mississauga, Ontário (Nathan Denette/AP/FILE)

“Os nossos pais nunca deixaram ninguém para trás. Alguém os levou”, disse, em lágrimas, acrescentando que a família sente conforto em saber que os Sherman estão juntos na vida após a morte. “Vocês eram como uma fechadura e uma chave, bastante inúteis individualmente. Mas juntos, abriram as portas do mundo para vocês próprios, para nós, e para tantos outros”, disse ele.

Os filhos do casal contrataram a sua própria equipa de patologistas forenses e investigadores privados, o que os levou a entrar em discordância com as especulações da polícia.

A polícia de Toronto revelou, mais tarde, que os investigadores nunca declararam precocemente que o caso era um homicídio-suicídio, afirmando que se tratava de um mal-entendido. As autoridades disseram que apenas queriam tranquilizar o público de que não havia sinais de que se tratasse de um arrombamento ou roubo com violência.

Polícia concluiu depois que alguém os tinha assassinado

Seis semanas após os corpos terem sido encontrados, a polícia de Toronto anunciou uma revisão das provas que revelavam que o casal tinha sido vítima de um homicídio. Os investigadores mencionaram o tempo adicional necessário para revistar a casa dos Sherman e outras questões relacionadas na conclusão tardia da causa de morte do casal.

Os investigadores forenses recolhem provas no exterior da casa de Barry e Honey Sherman, onde os seus corpos foram encontrados em dezembro de 2017 (Lucas Oleniuk/Toronto Star/Getty Images/FILE)

“Dado à natureza litigiosa dos negócios de Barry Sherman, as complexidades legais têm sido desafiantes, especialmente na busca e apreensão dos equipamentos informáticos e do espaço de trabalho de Barry Sherman na Apotex”, afirmou Gomes em janeiro de 2018.

“Foram revistados dois imóveis residenciais pertencentes aos Sherman. A residência principal dos Sherman é uma grande residência familiar de três andares. São necessárias seis semanas de buscas, análise forense e apreensão de provas”.

De acordo com a CBC, uma afiliado da CNN, as autoridades policiais referiram que existem possíveis motivos financeiros por detrás do duplo homicídio. Um porta-voz da polícia de Toronto recusou pronunciar-se sobre esse relatório à CNN.

Ao longo dos anos, Barry Sherman processou dezenas de pessoas. No último dia em que foi visto vivo, Sherman apresentou uma ação judicial contra alguém que o enganou num investimento de 141.000 euros, informou a CBC. Barry Sherman era conhecido por emprestar dinheiro a amigos e familiares, e investir em outros negócios.

Gomes recusou-se a fornecer detalhes sobre que provas foram encontradas na busca ao domicílio ou se alguma coisa foi roubada. Afirmou não haver suspeitos, mas acrescentou que a polícia está a interrogar várias pessoas que tinham acesso à casa.

A CBC informou que a mansão Sherman não tinha câmaras de segurança. Sem sinais forçados de entrada, é possível que alguém tivesse uma chave, tivesse acesso ao cofre que continha as chaves ou fosse um conhecido do casal, informou Gomes.

A faixa de segurança cerca a propriedade de Barry e Honey Sherman, que foram encontrados estrangulados dentro da sua casa em dezembro de 2017 (Rob Gillies/AP/FILE)

A inspetora pediu encarecidamente a qualquer testemunha que se apresentasse. “Temos um número significativo de imagens de pessoas na vizinhança”, afirmou. 

As semanas tornaram-se meses sem quaisquer novas pistas. Os investigadores admitiram que a família estava a ficar impaciente com a falta de informação.

“Tem sido difícil para eles contrabalançar a paciência e a frustração connosco e com a nossa investigação, à semelhança de qualquer outra família que tenha sofrido uma perda tão repentina e profunda”, afirmou Gomes em 2018.

Em 2021, a polícia pediu ajuda na identificação de um suspeito

Após anos de silêncio, a polícia divulgou uma notícia assombrosa no quarto aniversário da morte do casal, partilhando um vídeo de uma pessoa apanhada por câmaras de segurança a caminhar nos passeios cobertos de neve no bairro do casal. A polícia classificou a pessoa como suspeita e pediu a ajuda da população para a identificar.

Em 2021, a polícia de Toronto divulgou uma imagem desfocada de um potencial suspeito do caso. (CTV Network)

A polícia informou que o suspeito estaria a utilizar algo que cobria a cara no vídeo e parecia ter entre 1,68 m e 1,75 m. Não foi possível determinar o género do suspeito, nem a sua idade, peso ou cor de pele.

No entanto, chamaram a atenção para o andar invulgar do suspeito, que parecia levantar o calcanhar direito enquanto caminhava.

“Mediante a nossa investigação, fomos incapazes de determinar qual era o objetivo deste indivíduo na vizinhança. A altura do aparecimento deste indivíduo coincide com o momento em que acreditamos que os homicídios ocorreram. Com base nestas provas, consideramos este indivíduo como suspeito”, afirmou o detetive Brandon Price em conferência de imprensa.

Uma imagem aproximada da figura escura, capturada por uma câmara de vigilância perto da casa dos Sherman. (CTV Network)

Uma “investigação exaustiva” do bairro revelou outras imagens de videovigilância do suspeito, e com base no momento em que a polícia acredita que os homicídios ocorreram, a pessoa em causa estava perto da casa dos Sherman e permaneceu nessa área durante algum tempo, revelou Price.

Apelaram à pessoa para se apresentar na esquadra, mas ninguém apareceu.

Filhos dizem que a falta de respostas agrava o seu sofrimento

Cinco anos após os homicídios, não houve novos desenvolvimentos importantes. Os podcasts de crimes reais têm tentado desvendar as intrigas em torno das mortes.

Os filhos dos Sherman dizem que os anos que se seguiram às mortes têm sido um pesadelo. Alex Krawczyk, uma das filhas, diz mesmo que o luto se agrava-se devido à falta de respostas.

“Até hoje não se fez justiça e não houve qualquer desfecho para mim e para a minha família”, afirmou numa declaração esta semana. “O meu coração está partido. A minha perda é imensurável. Os meus filhos perderam os seus avós. Sentimos muito a falta do seu amor e sabedoria”.

Krawczyk é cantora de música folclórica e lançou este ano um álbum que descreve ser uma tentativa de processar o seu luto e encontrar paz após a morte dos pais.

Jonathon Sherman fala durante a cerimónia em memória dos seus pais, Barry e Honey Sherman, a 21 de dezembro de 2017, enquanto as suas três irmãs assistem. (Nathan Denette/The Canadian Press/AP)

Numa declaração à CBC, o irmão, Jonathon Sherman, expressou o mesmo sentimento, afirmando que a família nunca terá o desfecho que tanto deseja se o assassino não for levado à justiça. A perda dos pais vai para além da família e estende-se às muitas pessoas que os conheciam, garantiu. Os Sherman faziam parte da comunidade judaica local e estavam envolvidos em numerosas obras de advocacia e filantropia.

“Nada substituirá a incrível generosidade e impacto social positivo que eles tinham”, afirmou à CBC. “Os meus pais mereciam desfrutar dos frutos do seu trabalho, e passar os seus últimos anos como qualquer avô deveria... com a sua família. Sinto-me eternamente assombrado com o que lhes aconteceu”.

Os irmãos voltaram a relembrar ao público da recompensa de 33 milhões de euros em dinheiro e pediram a qualquer pessoa com informações para contactar a polícia de Toronto. A CNN contactou a família para obter alguns comentários.

Caroline de Kloet, porta-voz da polícia de Toronto, recusou-se a comentar um possível motivo ou desenvolvimentos do caso.

“Esta mantém-se uma investigação contínua e ativa", afirmou. "A polícia de Toronto está empenhada em resolver este caso e dar um desfecho à família e amigos de Barry e Honey Sherman”.

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