Esta mãe escreveu um livro infantil sobre luto após a morte do marido. Agora é acusada do seu assassínio

CNN , Faith Karimi e Andi Babineau
10 mai 2023, 14:00
Kouri Richins

Eric Richins apareceu de madrugada morto no seu quarto. Um ano depois, a mulher foi detida por suspeitas de o ter envenenado

O marido de Kouri Richins foi encontrado morto, ao pé da sua cama, em março do ano passado.

Ela tinha acabado de fechar a compra de uma casa para a sua empresa, segundo afirmou na altura aos investigadores. Para celebrar, por volta das 21 horas levou ao seu marido, Eric Richins, um cocktail “Moscow Mule” ao quarto da sua casa em Kamas, Utah, nos Estados Unidos.

Ela saiu do quarto para dormir com o filho no quarto dele e voltou por volta das 3 da manhã encontrando o marido deitado no chão, o corpo frio, segundo disse Kouri Richins às autoridades. Cerca de um ano após a morte do marido, Richins publicou um livro infantil, “Are You With Me?” [à letra, “Vocês Estão Comigo?”], sobre como lidar com o luto após a perda de um ente querido.

Kouri Richins é acusada de envenenar o marido com uma dose letal de fentanil na sua casa em Kamas, uma pequena localidade de montanha perto de Park City, no Utah. 

Mas os investigadores alegam agora que ela matou o marido de um casamento de nove anos com uma dose letal de fentanil ilícito. Este mês, acusaram-na de homicídio agravado e de três acusações de posse de uma substância controlada com intenção de distribuir.

Documentos judiciais agora divulgados descrevem em pormenor uma série de compras ilícitas de fentanil nos meses que antecederam a morte de Eric.

Kouri Richins, de 33 anos, terá comprado as drogas a um conhecido identificado nos documentos do tribunal como C.L..

Semanas antes da morte do marido, os Richins tinham assinalado o Dia dos Namorados com um jantar em casa. “Pouco depois do jantar, Eric ficou muito doente. ... Eric disse a um amigo que pensava que a mulher estava a tentar envenená-lo”, lê-se nos documentos do tribunal.

Kouri Richins foi detida na segunda-feira e continua sob custódia. A CNN contactou os seus advogados para que comentassem o assunto.

Ele tinha uma dose letal de fentanil no seu sistema

Uma autópsia e um relatório toxicológico revelaram que Eric Richins, 39 anos, morreu de uma overdose de fentanil. Ele tinha no seu sistema cerca de cinco vezes a dose letal, de acordo com um médico legista.

Os investigadores obtiveram um mandado de busca e apreenderam o telemóvel da mulher e vários computadores em sua casa. Descobriram comunicações entre Kouri Richins e C.L., que tinha um extenso registo criminal que inclui delitos relacionados com drogas, ainda segundo os documentos do tribunal.

C.L. disse aos detetives que num determinado momento entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, Kouri contatou C.L. e pediu analgésicos prescritos para um investidor. C.L. disse que eles obtiveram hidrocodona e deixaram os comprimidos numa propriedade que Kouri estava a vender, levando o dinheiro que tinha sido deixado, explicam os documentos do tribunal.

Semanas mais tarde, Kouri Richins entrou em contacto novamente e pediu “algum do material de Michael Jackson”, segundo os documentos do tribunal. Kouri Richins terá ido a casa de C.L. por volta de 11 de fevereiro e pagou 900 dólares por “15-30 comprimidos de fentanil” que C.L. tinha obtido de um traficante.

Cerca de duas semanas mais tarde, a 26 de fevereiro, terá pedido a C.L. mais comprimidos de fentanil. C.L. deixou-os numa buraco de fogueira ao ar livre na mesma propriedade onde a hidrocodona tinha sido entregue. Mais uma vez, o dinheiro foi deixado lá para ser levantado. Nesta altura, também de acordo com os documentos do tribunal, Kouri Richins já não era dona da propriedade.

Morreu seis dias depois da alegada entrega dos comprimidos

Por volta das 3:30 da manhã de 4 de março de 2022, os delegados do xerife do condado de Summit e o pessoal do serviço de emergência médica responderam a um alerta de um homem inanimado na casa do casal.

Os primeiros socorristas tentaram, sem sucesso, reanimar Eric Richins. Isto acontecei passados seis dias após a última alegada entrega de comprimidos.

A sua mulher deu aos investigadores a sua versão do que aconteceu nessa noite. O casal estava a celebrar o fecho de uma casa para a empresa dela e ela levou-lhe um cocktail para a cama. Kouri Richins disse que o deixou no quarto e foi dormir com um dos seus três filhos no quarto dele, porque a criança estava a “ter um terror noturno”, segundo os documentos do tribunal.

“A arguida disse que acordou por volta das 03:00 horas e regressou ao quarto dela e de Eric. Ela tocou em Eric e ele estava frio. Foi nessa altura que a arguida ligou para o 112", lê-se nos documentos do tribunal.

Kouri Richins disse que escreveu um livro sobre luto com os seus filhos para os ajudar a lidar com os seus sentimentos. Imagem retirada da Amazon

Kouri Richins terá dito às autoridades policiais que deixou o telemóvel ligado à corrente ao lado da cama e que não o levou para o quarto do filho.

"No entanto, entre o momento em que a arguida disse que foi para o quarto da criança e o momento em que ligou para o 112, o estado do seu telemóvel mostra que foi bloqueado e desbloqueado várias vezes e que também havia movimento registado no telemóvel. Além disso, os registos no telemóvel da arguida mostram que foram enviadas e recebidas mensagens durante esse período. Estas mensagens foram apagadas", lê-se nos documentos do tribunal.

Durante meses, Kouri Richins trabalhou no seu livro. No mês passado, apareceu no "Good Things Utah", um programa da estação de televisão local ABC4, para falar sobre a importância do seu livro infantil sobre o luto.

Segundo explicou então, o livro baseia-se em três conceitos: conexão, continuidade e cuidado.

“Conexão: manter vivo o espírito da pessoa que morreu... Continuidade: tentar manter as rotinas e os horários tão normais quanto for possível. ... Cuidado: afirmar os sentimentos deles; compreender quando estão tristes, zangados, solitários e falar sobre esses sentimentos e fazê-los saber que não há problema", disse Kouri Richins na entrevista.

Os seus três filhos pequenos ajudaram-na a escrever o livro, foi uma forma de ajudá-los a articular os seus sentimentos, disse.

Semanas depois, Kouri Richins foi detida pela morte do marido. A sua audiência de detenção está marcada para 19 de maio.

Sara Finch, da CNN, contribuiu para este artigo.

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