"Quero dizer-vos que eu não era uma princesa quando o conheci", conta Faye. "O Tom fez de mim uma princesa."
Faye Bauman estava a usar o seu anel de diamantes quando caiu e partiu a anca. Estávamos em junho do ano passado, ela estava com 85 anos. No Hospital da Florida do Norte, em Gainesville, nos EUA, ela tirou várias peças de joalharia, incluindo o anel, e deu-as a uma enfermeira.
Após a cirurgia, quando recuperava num centro de reabilitação, apercebeu-se de que tinha saído do hospital sem as suas jóias - incluindo o anel de noivado de diamantes que lhe fora dado pelo amor da sua vida.
Ela ainda se lembrava do olhar dele quando lhe deu o anel. Um olhar ansioso e inocente. Tinham-se conhecido numa festa e, no final, estavam de mãos dadas debaixo da mesa. Ele poupou para lhe comprar o anel. Um diamante de meio quilate em ouro branco. Um dia, apareceu no escritório dela e ajoelhou-se. Estava deslumbrante no seu uniforme da Marinha. Ela disse que sim, colocando o anel no dedo e fazendo-o deslizar para que o diamante captasse a luz.
Cinquenta e seis anos depois, numa nova faixa de ouro amarelo, o diamante desapareceu do hospital. Faye Bauman queria saber porquê.
Durante quase 12 meses, ela e a filha tentaram encontrar respostas. Falaram com pelo menos quatro funcionários do hospital. Faye Bauman apresentou queixa na polícia, que classificou o desaparecimento das jóias como um grande roubo. Mas não obtiveram qualquer satisfação. As jóias pareciam ter desaparecido para sempre. Até maio de 2024, dizem, ninguém se tinha oferecido para resolver a situação.
Finalmente, Bauman contou a sua situação aos jornalistas. Numa longa mensagem enviada a partir do seu iPad, na qual pedia desculpa por quaisquer erros que pudessem ser causados pela sua degeneração macular, escreveu: "Neste momento, o CEO não responde aos meus;nossos telefonemas [sic]. Fiz tudo o que me disseram para fazer mas, nesta altura, parece que eu não existo."
Um repórter da CNN fez perguntas ao hospital e ao departamento de polícia e esperou vários dias por respostas. Entretanto, ao longo de várias entrevistas telefónicas, Bauman contou a sua história.
Disse que não estava à espera de voltar a ver o seu anel de diamantes. Mas apercebeu-se de que esta era uma oportunidade para falar de algo mais importante: o homem que lhe deu o anel.
"Quero dizer-vos que eu não era uma princesa quando o conheci", contou ela. "O Tom fez de mim uma princesa."
Ela tem recordações maravilhosas do casamento. Mas os anos finais não foram iguais
Antes de se casar com Faye, Tom cuidou da sua mãe doente. Essa experiência fortaleceu o seu hábito de servir os outros. Dia após dia, durante grande parte do casamento, ele levava o pequeno-almoço a Faye à cama. Apanhava uma flor do quintal e colocava-a numa pequena jarra Waterford que punha no tabuleiro do pequeno-almoço. Perguntava-lhe como queria a banana cortada. Trazia-lhe chá inglês, juntamente com torradas, compota e um ovo cozido. Faye era divorciada e tinha três filhas pequenas quando conheceu Tom, e Tom tratava-as como se fossem suas.
Tom e Faye estiveram casados durante 48 anos. Ela era conselheira de saúde mental e ele trabalhava no Corpo de Abastecimento da Marinha. Depois da Marinha, obteve uma licença de construtor. "Ele remodelou todas as casas em que vivemos", disse ela. Fazia trabalhos de canalização e eletricidade, acrescentando uma sala de estar, instalando portas francesas, assumindo trabalhos extra para poder comprar e instalar um novo jacuzzi para a mulher que amava.
Eles prolongaram o seu longo romance da Florida a Rhode Island, de Londres a Istambul e de volta à Florida. Ela admirava o seu bom aspeto e gostava do seu cheiro. Dançavam na praia de olhos fechados.
Tom cuidou de Faye até não poder mais. Na casa dos seus 50 anos, algo correu mal com a sua mente. Primeiro foi a demência, depois a doença de Parkinson. Pintou um quarto com a cor errada. Saiu à rua em roupa interior. Na mercearia, apanhou uma pastilha elástica do chão e meteu-a na boca.
O corpo de Tom começou a falhar-lhe, começando pelos pés. Agora era a vez de Faye tratar dele. Ajudava-o o sair da banheira de hidromassagem quando ele não o conseguia sozinho. Colocava-o num tapete no quintal, onde ele podia deitar-se e arrancar ervas daninhas. Levantava-se cedo para limpar os algerozes, para que ele não pudesse dizer que era esse o seu trabalho.
Foi assim durante mais de 20 anos. Ele era o seu marido, mas o homem com quem ela tinha casado era apenas uma memória. Ele pediu para se mudar para um lar de idosos e ela deixou-o ir. Por vezes, acordava a meio da noite, ia até ao lar e deitava-se na cama com ele.
"Eu não quero morrer", dizia-lhe ele.
"Ah, ele era tão bonito"
Enquanto Faye Bauman recordava o seu marido, as engrenagens estavam a rodar no caso do anel desaparecido. A situação pareceu mudar nos dias que se seguiram à pergunta de um repórter da CNN sobre a joia. Um porta-voz da Polícia de Gainesville disse que o caso tinha sido atribuído a um detetive.
E um porta-voz da divisão da Flórida do Norte da HCA Healthcare divulgou esta declaração:
"O cuidado compassivo é o maior objetivo do pessoal do Hospital HCA North Florida. Analisámos o caso com o nosso fornecedor de segurança contratado, que é responsável pela segurança dos pertences dos doentes, e ajudámos o Departamento de Polícia de Gainesville na sua investigação, que está em curso. Lamentamos a perda deste objeto pessoal e comprometemo-nos a reembolsar este indivíduo para corrigir as coisas."
Isto foi uma melhoria, se não uma resolução completa. Faye Bauman ainda quer saber como é que o anel desapareceu e ainda quer mais respostas sobre o que os funcionários do hospital fizeram no ano que se seguiu.
Quanto ao homem que lhe pôs o anel no dedo, ela tem a certeza do seu destino final.
Perto do fim, ele estava a tomar morfina, tinha deixado de falar, estavam juntos mas ele estava a afastar-se.
"Ah", disse ela, lembrando-se desse momento, "ele era tão bonito".
Ela segurou-lhe a mão, beijou-o e rezou o Pai-Nosso. Parecia que os anjos estavam a encher a sala. Ela estava a louvar a Deus enquanto ouviu Tom dar o seu último suspiro.
Nada é para sempre, pelo menos não aqui na Terra. Ela usou aquele anel de diamantes durante mais sete anos. E depois, tal como Tom, o anel desapareceu.
"Sabes", disse Faye, "tivemos uma vida maravilhosa."
A sua voz estava a ceder à medida em que pensava nele. Imaginava o velho Tom, aquele que se ajoelhou diante dela naquele dia em 1967. Ela esperava vê-lo de novo. Restaurado e renovado. Os seus braços abertos. Dando-lhe as boas-vindas a casa.