Quem é o português que fez um hat-trick pelo clube mais antigo do mundo?

9 abr 2022, 10:29
Ruben Rodrigues

Nasceu em Oliveira de Azeméis, emigrou ainda criança para a Holanda, mas não dispensa as férias na praia do Furadouro, sente-se completamente português e torce todas as semanas pelo Benfica. Venha daí conhecer a história de Ruben Rodrigues.

Ruben Rodrigues, já ouviu falar?

Provavelmente não. Apesar de ter nascido em Oliveira de Azeméis, emigrou criança para a Holanda, jogou sempre no futebol holandês e passou ao lado do interesse dos portugueses.

Até ao último fim de semana. Três golos na vitória em casa do Southend United chamaram a atenção para este avançado do Notts County: o clube profissional mais antigo do mundo, segundo a FIFA (o Sheffield FC e o Hallam foram fundados antes, mas são amadores).

Mas quem é afinal Ruben Rodrigues?

«Os meus pais são portugueses, tenho um irmão mais velho que nasceu em Portugal e só o meu irmão mais novo é que já nasceu na Holanda. Fui viver para a Holanda com quatro anos e meio, quase a fazer cinco anos. Não me lembro de muita coisa desses tempos», conta.

«Os meus pais emigraram para a Holanda para ir trabalhar. Foram eles primeiro, de autocarro. Eu fiquei em Oliveira de Azeméis com uma tia e o meu irmão ficou com uma amiga da minha mãe. Passado uns meses fui viver com eles para uma cidade chamada Best.

Ruben Rodrigues diz que ainda era muito criança e que não tem grande memória desses tempos, mas sabe que não foi uma época fácil para os pais. «Primeiro fui para uma escola internacional, para aprender a língua, depois entrei para a escola. O meu irmão ainda ficou mais dois anos em Portugal, a acabar a escola, e depois é que foi ter connosco», lembra.

«Vivemos na Holanda, mas em nossa casa é tudo português. Falamos português, comemos comida portuguesa, vemos futebol português. Gosto muito de Portugal e dos portugueses, acho que os portugueses são pessoas do bem. Fico muito orgulhoso quando Portugal faz bons jogos, gosto de ver as equipas portuguesas a fazer bons resultados na Europa, tenho muitos amigos portugueses, vou todos os anos a Portugal, a minha avó ainda mora em Portugal e eu sinto-me português.»

Ruben Rodrigues e a família não dispensam, de resto, as férias de verão em Portugal. As deste ano, por exemplo, já estão marcadas: uma semana em Oliveira de Azeméis e duas semanas no Furadouro, a aproveitar o sol e a beleza de uma das melhores praias do país.

A paixão por Portugal materializa-se, de resto, também no amor que tem pelo Benfica.

«É o clube do meu pai e por arrasto toda a gente lá em casa é do Benfica. Nunca fui ao Estádio da Luz, mas na próxima semana vou ver o Benfica a Liverpool. Já tenho bilhete. Vou com um colega que é do Liverpool e está emprestado ao Notts County.»

Ora sendo português e sentindo-se português, Ruben Rodrigues diz ter o sonho de um dia jogar no futebol português. Um sonho que, garante, tem a certeza que vai concretizar.

Ele que já passou por muito para chegar onde está hoje: para chegar aos Notts County.

«A história de como comecei a jogar é curiosa. Os meus pais não conheciam a língua holandesa, por isso passávamos muito tempo em casa e jogávamos lá no jardim. Um dia um homem foi fazer uns trabalhos a casa de um vizinho, viu-me jogar com o meu pai e o meu irmão e perguntou ao meu pai se eu estava em algum clube. ‘Então ele está sempre aqui a jogar no jardim, não está em nenhuma equipa?’ O meu pai disse que não, que não estava em nenhum clube e depois foi aquele homem que me levou e inscreveu no clube lá da terra, que se chamava Boskant», refere.

«Fui para lá com oito anos. Depois fui convidado a ir treinar ao PSV Eindhoven, estive lá seis meses, mas não quiseram ficar comigo. Fui convidado para ir treinar ao Den Bosch, estive lá também uns meses, mas também não fiquei. Então voltei para o Boskant e fiquei lá até aos quinze anos. Com quinze anos o Den Bosch voltou a chamar-me e fiquei lá dois anos, mas era muito novo, não tinha a maturidade que era preciso e depois saí.»

Ao fim destas voltas todas, decidiu ir jogar com 17 anos para o futebol amador.

«Fui para um clube chamado Wilhelmina. Fiquei lá uns quatro ou cinco anos. E foi a partir daí que as coisas começaram a correr-me bem, tive épocas de marcar 40 e tal golos. Depois fui para o VV Gemert, onde também marquei muitos golos e o Den Bosch voltou a contratar-me.»

À terceira, no Den Bosch, foi de vez: fez doze golos e sete assistências na II Liga holandesa eee chamou a atenção do clube profissional mais antigo do mundo.

«O Notts County reparou nas minhas estatísticas, viu que eu há várias épocas que marcava muitos golos e telefonou-me para ir lá treinar. Fui com o meu empresário e foi uma grande mudança. Pela primeira vez fui morar sozinho, num país diferente. A minha vida já tinha começado a mudar quando assinei pelo Den Bosch, mas a transferência para o Notts County foi a grande mudança.»

Depois de fazer doze golos na época passada, já leva dezassete este ano. Golos esses que têm ajudado a equipa a manter-se num lugar de play-off de subida ao quarto escalão inglês.

«Sou o avançado mais móvel, o meu colega joga mais fixo na área e eu envolvo-me mais no jogo. Recuo no terreno e gosto de participar na criação do jogo», atira.

«Sou um ponta de lança assim do género do Roberto Firmino, que gosta de se envolver no jogo, recua ao meio-campo, consegue fazer passes longos e cria assistências para os outros jogadores, sobretudo para o Salah e para o Mané. Sou um bocadinho assim também.»

Ruben Rodrigues, e agora já ouviu falar?

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