Quem é o polémico e multimilionário novo dono do Newcastle?

9 out 2021, 09:24
Mohammed bin Salman

Príncipe herdeiro da Arábia Saudita tem uma fortuna onze vezes superior à do proprietário do Man. City e cometeu excentricidades como comprar a casa mais cara da história. Mas isso são só fait-divers quando comparados com o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi ou o atropelo dos direitos humanos no Iémen.

Quando se soube que o Newcastle tinha sido adquirido pelo Public Investment Fund, liderado pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, os adeptos vieram para a rua celebrar como se fosse um título.

Não é, mas pode vir a ser: a notícia significa basicamente que o Newcastle pode passar a nadar no aquário dos tubarões, ao lado de clubes com o Manchester City ou o PSG.

Na verdade, o Manchester City pode tornar-se até um peixinho ao lado do Newcastle: Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, tem uma fortuna onze vezes superior à do Sheik Mansour, proprietário do City. Tudo depende, portanto, de quanto dinheiro está disposto a gastar.

Ora pelas amostras, gastar dinheiro nunca foi um problema para Mohammed bin Salman. O árabe comprou, por exemplo, o Castelo de Luís XIV, em Paris, por 230 milhões de euros. O que tornou este modesto T30 (sim, tem trinta quartos), com um cinema, uma discoteca, três piscinas, duas vinhas, um spa e um aquário subterrâneo na casa mais cara da história da humanidade.

As excentricidades do príncipe herdeiro da Arábia Saudita estão muito longe de ficar por aqui, porém. Em 2017 comprou o quadro «Salvatore Mundi», de Leonardo da Vinci, por 389 milhões de euros. A obra do pintor renascentista tornou-se nessa altura o quadro mais caro da história.

Curiosamente o quadro de Da Vinci foi mais caro do que o Newcastle, que agora terá custado, de acordo com a imprensa inglesa, qualquer coisa em torno de 350 milhões de euros.

Ora o quadro de Leonardo da Vinci que o príncipe saudita colocou numa parede do seu iate de 485 milhões de euros, o quarto maior iate do mundo, que mede 133 metros e tem até um heliporto e uma garagem... para um submarino.

As excentricidades de Mohammed bin Salman são várias e passam também, de acordo com a imprensa internacional, por uma festa privada numa ilha privada das Maldivas, em 2015, que meteu 170 mulheres trazidas da Rússia e do Brasil. Contratou artistas como Pitbull para animar a noite e pagou cinco mil euros a cada um dos 300 empregados da ilha para manter o seu silêncio.

No fundo são só excentricidades de um homem que lidera uma fortuna familiar avaliada em 320 mil milhões de euros, o que é muito superior ao que acontece com a família real dos Emirados Árabes Unidos (proprietários do City) e com a família real do Qatar (proprietários do PSG).

Como o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud está com Alzheimer, tem sido o filho Mohammed bin Salman a gerir a fortuna da família real árabe, e até os próprios destinos do país. Isto apesar de oficialmente ter apenas os cargos de vice-primeiro ministro e de ministro da defesa.

Desde que assumiu o comando do país, há cinco anos, o novo dono do Newcastle tomou uma série de medidas de modernização do país. Permitiu, por exemplo, que as mulheres possam tirar a carta de condução e possam assistir a jogos de futebol na bancada. Permitiu o regresso dos cinemas após 40 anos, deu início a uma campanha anti-corrupção e lançou o programa Visão 2030, uma estratégia económica para libertar a Arábia Saudita da dependência petrolífera.

No entanto, Mohammed bin Salman é muito mais do que os luxos excêntricos que mostra ou as boas intenções que anuncia: é uma personagem polémica, muito criticada e fortemente contestada.

Acusado de atropelar constantemente os direitos humanos pela Amnistia Internacional e pela organização Human Rights Watch, tornou-se notícia mundial quando foi implicado no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, que em 2018 morreu na embaixada da Arábia Saudita em Istambul.

O novo proprietário do Newcastle foi acusado por um relatório do departamento de segurança dos Estados Unidos e por um relatório da ONU de ter participado na orquestração do assassinato do jornalista, que era um crítico das políticas da família real árabe: Khashoggi foi chamado à embaixada do país em Istambul para levantar uns documentos necessários para o casamento.

Dentro da embaixada acabou assassinado e esquartejado. Riade disse inicialmente que o jornalista tinha saído da embaixada com vida, mais tarde referiu que morreu na sequência de uma luta.

Este foi o atropelo aos direitos humanos mais mediático de Mohammed bin Salman, mas está longe de ser um caso isolado. A ativista dos direitos das mulheres Loujain al-Hathloul, por exemplo, esteve detida três anos e só foi libertada em fevereiro após pressão de Joe Biden.

O atropelo aos direitos das mulheres, aliás, é frequente.

De resto, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita é acusado de graves crimes no Iémen, através da interferência na guerra civil do país, com assassinatos de civis, ataque a campos de refugiados e interceção de ajudas alimentares à população.

Por isso, e logo que se soube da compra do Newcastle, a Amnistia Internacional emitiu um comunicado muito crítico para com a Liga Inglesa.

«Em vez de permitir que pessoas implicadas em violações dos direitos humanos entrem no futebol apenas porque têm dinheiro, instamos a Premier League a mudar as políticas de seus proprietários e presidentes para estar de acordo com os direitos humanos», podia ler-se.

Esta não é a primeira vez, aliás, que a Arábia Saudita é censurada por utilizar o futebol para limpar a imagem. No passado, Itália e Espanha já disputaram a Supertaça no país, o que mereceu muitas críticas por se tratar de um país que viola direitos humanos, havendo até boicotes de canais televisivos.

Indiferentes a isso, pelo menos para já, os adeptos do Newcastle festejaram. Resta saber se os festejos vieram para ficar.

Relacionados

Mais Lidas

Patrocinados