El Argar, a civilização perdida da Península Ibérica

15 ago 2022, 11:01
O crânio de uma mulher descoberto na civilização de El Argar (Getty)

Existiu, no sudeste espanhol, uma civilização pioneira sobre a qual pouco se sabe. Tinha um sistema de classes e até um parlamento

Existiu durante cerca de 700 anos, entre 2200 a.c. e 1550 a.c., e tinha uma cultura extremamente avançada sobre a qual se sabe muito pouco: a civilização de El Argar e o seu desaparecimento é um dos grandes mistérios da Península Ibérica, conta o El País.

Esta civilização perdida estabeleceu-se onde agora é Múrcia, no sudeste Espanhol, e ocupava cerca de 35 mil quilómetros quadrados. Tinha grandes centros urbanos, dominava a agricultura e os metais, práticas funerárias próprias, um sistema de classes, que se acredita ter sido o primeiro no mundo, e até um parlamento. 

O que se sabe acerca dela provém das escavações feitas por arqueólogos. Isto porque apesar de incrivelmente avançada, a população de El Argar não sabia escrever.

Quem descobriu o local pela primeira vez foi o arqueólogo Rogelio de Incaurrandieta, em 1869. Inicialmente, quando contou que tinha encontrado uma civilização desconhecida, ninguém acreditou nele. 

Vários anos se passaram e, em 1877, os irmãos Luis e Enrique Siret confirmaram a descoberta. Desde então, o local é um paraíso para os amantes de arqueologia.

A cultura 

De acordo com a Universidade Autónoma de Barcelona, a cultura Argar foi  "a primeira sociedade dividida em classes na Península Ibérica".

Era uma sociedade que se baseava em relações de parentesco e num sistema de transmissão hereditário, dividida em três estrato sociais: a classe mais alta e poderosa (cerca de 10% da população), a classe com direitos político-sociais reconhecidos (cerca de 50% da população) e a classe dos servos e escravos (cerca de 40% da população). 

Citado pelo El País, Vicente Lull, professor de pré-história da Universidade Autónoma de Barcelona, afirma que a classe alta "gozava de todos os privilégios e tinha os ornamentos mais ricos, incluindo armas como alabardas e espadas", era uma “classe dominante opressora”. 

No centro económico e político da civilização de El Argar foi encontrado um edifício com uma sala com cerca de 80 metros quadrados que tinha bancos e um pódio. De acordo com os investigadores, acomodava cerca de 50 pessoas e era uma espécie de parlamento, provavelmente o primeiro do mundo.

As práticas funerárias também se distinguiam nesta cultura. Os mortos eram enterrados dentro das próprias casas. “As práticas funerárias apresentam uma notável uniformidade em todo o território. As comunidades enterravam os falecidos debaixo do piso da habitação em sepulturas únicas, às vezes duplas e, em raras ocasiões, múltiplas. O cadáver era depositado em posição fletida e, geralmente, em decúbito lateral ou sentado com a cabeça voltada para sul ou oeste”, contam ao jornal espanhol especialistas da Universidade Autónoma de Barcelona.

Ornamentos de ossos, conchas e bronze pertencentes à civilização de El Argar. Foto: Dea/G. Nimatallah/De Agostini via Getty Images
Diadema de ouro encontrado em El Argar. Objecto remonta aos anos 2000 antes de Cristo. Foto: Dea/G. Nimatallah/De Agostini via Getty Images

Afinal, como desapareceu esta civilização?

Esta é uma questão à qual os investigadores ainda não sabem responder. É possível que o colapso da sociedade tenha sido provocado por fatores ambientais e socioeconómicos. 

Acredita-se que tenha havido um esgotamento dos recursos naturais, o que terá provocado a fuga da população, a morte pela fome da grande maioria dos recém-nascidos e o desenvolvimento de doenças.

Este esgotamento poderá ter levado a uma revolução popular contra a força repressiva da classe governante. A revolução terá devastado as cidades, tal como é evidenciado no facto de muitos dos edifícios descobertos mostrarem sinais de terem sido queimados.

Segundo os especialistas, após estes eventos apenas alguns indivíduos das classes dominantes terão sobrevivido por terem fugido, criando pequenos grupos que sobreviveram cerca de um século.

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