E Cruyff feriu o Sporting: «Estava tão quietinho e o Bastos foi chateá-lo»

14 mai 2021, 09:33
Cruyff contra o Sporting

Em dias de celebração no mundo leonino, Maisfutebol recupera um dos jogos mais históricos e desconhecidos do emblema de Alvalade. O mago holandês vestiu a camisola do PSG, por convite, e os leões tornaram-se na primeira equipa portuguesa a usar publicidade nas camisolas

A História de Um Jogo é uma rubrica do Maisfutebol. Escolhemos um encontros marcante e partimos em busca de histórias e heróis de campeonatos passados. Às quinta-feiras, de 15 em 15 dias.

O Parque dos Príncipes coroa Johan Cruyff. Veste-se de gala, estende-lhe o tapete verde e convida-o, por uma vez, a vestir a camisola azul e vermelha do Paris Saint-Germain. A noite é de festa, mas há futebol do bom. Do outro lado da barricada fica o Sporting Clube de Portugal.

17 de junho de 1975, meia-final do torneio de final de época organizado na Cidade-Luz. Daniel Hechter, afamado designer e presidente do PSG, convence o amigo Cruyff a suspender por umas horas a ligação ao Barcelona e a dar uma perninha em dois jogos.

Nestes dias em que o Sporting celebra o fim de uma longa espera, o Maisfutebol recupera um dos seus jogos icónicos, como se estivesse à nossa espera no Cemitério dos Livros Esquecidos. Há tantos detalhes a justificar a luz da vida, há tantos nomes a merecer uma menção especial.

Cruyff, claro. E Hector Yazalde. O Chirola faz neste jogo a despedida de leão ao peito. Na manhã seguinte, o presidente do Marselha – Fernand Méric, aborda João Rocha e entrega-lhe um cheque de 12500 contos. Negócio fechado.

Em cima: Fraguito, Bastos, Manaca, Tomé, Alhinho e Damas;
Em baixo: Nelson, Yazalde, Da Costa, Dinis e Marinho

Já chega de curiosidades? Não. O Sporting torna-se nessa noite tão especial a primeira equipa portuguesa a jogar com o nome de um patrocinador na camisola de jogo: «France-Soir Sport 4», o nome de um programa desportivo de um canal televisivo gaulês.

De acordo com o blog Camarote Leonino, esta camisola histórica – tudo neste jogo é histórico, já percebemos – está exposta e conservada em bom estado no Museu do Sporting, em Leiria.

O PSG ganha o jogo por 3-1. Eric Renaut (5 minutos), Jean-Pierre Dogliani (56) e François M’Pélé (57) marcam os golos gauleses, com Johan Cruyff a oferecer o segundo e o terceiro. Nelson Fernandes, um médio madeirense de grande qualidade, faz o único do Sporting, aos dez minutos.

«O Yazalde recebeu a Bota de Ouro, mas toda a gente queria era ver o Cruyff»

O Sporting inicia esse jogo com Vítor Damas na baliza. Bastos, Alhinho, Manaca e Da Costa na defesa. Tomé, Fraguito e Nelson no meio-campo. Marinho, Dinis e Yazalde no ataque.

Carlos Pereira é um dos que entram na segunda parte. E é ele o guia do Maisfutebol neste regresso a uma noite e a um estádio tão especiais.

«Nós fomos convidados porque o Yazalde tinha ganho a Bota de Ouro [em 1974] e ia recebê-la publicamente lá. Mas toda a gente queria era ver o Cruyff. Até nós», conta o antigo defesa, jogador do Sporting de 1968 a 1975, hoje com 72 anos.

«O campo estava cheio e nós jogámos pela primeira vez com um sponsor na camisola. Estranhámos muito isso, quando as vimos no balneário. Mas o pior foi mesmo no relvado, depois do Bastos ‘acordar’ o Cruyff.»

Johan Cruyff (segundo à esquerda, em baixo) na noite em que foi do PSG

Como explica Carlos Pereira, Bastos era «um defesa muito duro» e, a dada altura, foi meter-se com a personagem errada.

«O Cruyff foi lá a pedido do presidente do PSG, mas não estava para se chatear. Já na segunda parte ele ia receber a bola e o Bastos entrou durinho, por trás. O homem estava tão quietinho e o Bastos foi lá chateá-lo.»

Conclusão: a fera despertou. Johan Cruyff começou a jogar «muito a sério» e ofereceu o segundo e o terceiro golos a colegas do PSG. «Para mim foi um orgulho poder jogar contra um dos maiores génios de sempre, ainda por cima acho que foi a única vez em que ele defrontou o Sporting [correto].»

Além de ter sido um futebolista importante no Sporting, Carlos Pereira foi treinador nas camadas jovens do clube de 1995 a 1999 e treinador-adjunto da equipa principal de 2006 e 2010. Não podia, por isso, acabar a conversa sem deixar os parabéns públicos a Ruben Amorim e à restante estrutura verde e branca.

«O título é muito merecido. O Ruben foi uma lufada de ar fresco no clube e no futebol nacional. O plantel tem muitos jovens saídos da formação, a equipa é coesa e unida. Agarraram-se ao lema ‘Onde vai um, vão todos’ e transportaram-no para todos os jogos. Parabéns ao meu Sporting.»

Sporting

Mais Sporting

Mais Lidas

Patrocinados