Ambos perderam os seus parceiros para o cancro. Mas, inesperadamente, encontraram o amor

CNN , Francesca Street
15 fev, 19:00
Catherine e Randy

Quando o marido de Catherine Robinson morreu, em maio de 2017, sentiu-se arrasada e completamente desamparada. Enquanto ficava acordada, noite após noite, na sua casa vazia em Melbourne, na Austrália, Catherine - que na altura estava com quase 50 anos - percebeu que o seu sentimento avassalador era a solidão.

Catherine tinha amigos que a apoiavam e uma família amorosa. Mas, ainda assim, sentia-se isolada, como se ninguém pudesse realmente entender aquilo pelo qual estava a passar. “Tentei falar com outras pessoas. Até entrei num grupo de viúvas, mas era muito difícil relacionar-me com outras pessoas”, recorda Catherine à CNN Travel.

Pete , o seu falecido marido, ficou doente durante algum tempo antes de falecer. Nesse período de doença, cuidar de Pete tornou-se a “vida inteira” de Catherine. Dedicou cada momento para aliviar a dor, ajudando-o a passar o dia. Isso não foi fácil, mas cuidar de Pete deu a Catherine um propósito, mesmo quando se preocupava com o futuro. “Então, de repente, passei de ter esse propósito todos os dias [de cuidar de Pete], a acordar de manhã sem saber e a pensar: ‘Porque é que preciso sair da cama?’”, conta Catherine, recordando os primeiros momentos após a morte de Pete.

Os meses passaram num ápice. E o sentimento de isolamento de Catherine só piorou. “E então, estando na era da internet, pensei, ‘Bem, talvez eu vá para a internet. Do outro lado do mundo, tem de haver outra pessoa que saiba o que estou a sentir’. E por puro acaso, deparei-me com o blogue do Randy”.

Catherine tropeçou no blogue após uma pesquisa no Google. E depois de passar a pente fino a primeira publicação, descobriu que Randy era um homem americano de cinquenta e poucos anos que também tinha perdido a sua esposa recentemente para o cancro.

Randy descreveu a perda da sua esposa Sally, chamando-a de “parceira, melhor amiga e [meu] amor durante a maior parte da [minha] vida”. O casal, descobriu Catherine ao ler o bloque de Randy, estava junto desde 1984. Randy estava a lutar com o que sentia ser a “impossibilidade de viver uma vida plena” sem Sally.

Catherine entendeu exatamente como Randy se estava a sentir. Mas também ficou impressionada pelo facto de a esposa de Randy também ter morrido em maio de 2017. “Os nossos timings eram tão estranhos”, lembra. “Perdemos os nossos cônjuges com 12 dias de diferença. Ambos passaram por jornadas de cancro realmente difíceis, mais ou menos no mesmo período também. Então, pude identificar-me com tudo o que ele escreveu”.

Embora as palavras de Randy fossem de partir o coração, quando Catherine as leu, sentiu-se menos sozinha. Havia um estranho consolo na ideia de que, do outro lado do mundo, outra pessoa estava a lutar contra o mesmo tipo de sofrimento.

O blogue de Randy permitia que os leitores deixassem comentários e, sem pensar muito, Catherine escreveu uma mensagem. “Eu sei como se está a sentir”, escreveu, incluindo uma explicação condensada da sua própria situação. “Obrigada por partilhar”. Catherine clicou no botão ‘enviar’. E algumas semanas depois, notou que Randy tinha publicado outra entrada no blogue. “Mais uma vez, ele estava a espelhar tudo o que eu estava a sentir naquela época”, enfatiza Catherine. “Então, eu fiz outro comentário com o mesmo efeito, e foi quando ele decidiu enviar-me um e-mail”.

Ligação online

Quando Randy Mann começou a escrever num blogue sobre a sua dor, em 2018, esse espaço online era apenas uma das muitas tentativas de encontrar consolo após a morte da sua esposa. Nos nove meses depois da morte de Sally, Randy vendeu a casa e largou o emprego como meteorologista num canal televisivo. Tentou mudar-se para vários lugares nos EUA, sempre com o objetivo de procurar começar de novo. Acabou por se mudar com a família para a California.

Mas nada parecia ajudar. Randy já tinha perdido 20 quilos. E não conseguia dormir. Olhando hoje para trás, Randy admite, em declarações à CNN Travel, que, imediatamente após a morte de sua esposa, era “uma sombra do homem que um dia foi”.

Randy lutou, durante esse tempo, para olhar além do seu próprio coração partido. E foi por isso que começou o seu blogue. Porém, Randy não esperava que as suas palavras viajassem pelo Oceano Pacífico e fossem lidas por uma mulher enlutada na Austrália.

“Eu estava apenas a fazer qualquer coisa para lidar com a dor de toda aquela experiência”, adianta Randy. Mas ficou emocionado quando leu o comentário de Catherine. E embora não desejasse a sua dor a ninguém, também ele sentiu algum tipo de conforto na ideia de que a sua luta não era única. E decidiu responder, agradecendo a Catherine pelo comentário.

Quando Catherine comentou novamente - notando mais uma vez as semelhanças na situação de ambos - Randy perguntou se ela se importaria que ele lhe enviasse um e-mail, para que pudessem conversar mais diretamente. “E então começamos a trocar e-mails”, recorda Randy.

Enquanto trocavam e-mails, falando sobre as suas perdas e o sofrimento de cada um, Randy e Catherine perceberam que havia mais semelhanças nas suas situações - os dois tinham a mesma idade, nenhum deles tinha filhos, ambos estavam ocupados com o trabalho há muitos anos, esperando uma reforma feliz que a morte dos seus parceiros lhes havia tirado.

Mas os milhares de quilómetros que os separavam fizeram com que Catherine visse Randy mais como um “amigo imaginário” do que como uma pessoa real. “Para ser honesta, naquele momento, ele não era real para mim”, conta. “Ele era alguém na rede [digital] que entendia o que eu estava a sentir, mas também era alguém que eu realmente nunca esperaria encontrar na vida real. Acho que é provavelmente por isso que os e-mails fluíam livremente, porque não tínhamos essa expectativa de nos encontrarmos”.

Uma decisão espontânea

À medida que Catherine e Randy se aproximavam dos respectivos aniversários da morte de seus cônjuges, Catherine sentiu que, com Randy, poderia ser sincera sobre as suas emoções de uma forma que não poderia fazer com mais ninguém na sua vida. Escreveu-lhe sobre as suas noites sem dormir, a sua angústia ao reviver os últimos dias do seu marido. 

Randy também sentiu como se a dor da morte da sua esposa fosse mais aguda do que nunca. Conforme abril deslizava para maio, a sua mente também começou, continuamente, a “repetir o que tinha acontecido no ano anterior”.

Os seus e-mails para Catherine aumentaram em frequência. E as suas respostas eram quase instantâneas. “Num caso específico, eu estava no aeroporto à espera de um voo, com um atraso de cerca de cinco a seis horas, e aqueles e-mails iam e voltavam, iam e voltavam”, relembra Randy.

Randy e Catherine ofereceram apoio emocional e partilharam as suas experiências um com o outro, cpartilharam um senso de humor negro moldado pelas suas perdas e falaram sobre os seus respectivos cônjuges falecidos, contando histórias de tempos mais felizes. Encorajaram-se um ao outro, nas suas muitas tentativas de encontrar um novo sentimento de propósito no meio da dor. “Ele foi ao ginásio. Eu fui às aulas de cerâmica. [Tentámos] Tudo o que podíamos fazer para tentar melhorar [a dor que sentíamos]”, vinca Catherine. “Mas não funcionou”, admite.

Ele [Randy] era alguém na internet que entendia o que eu estava a sentir, mas também era alguém que eu nunca imaginei encontrar na vida real”. -Catarina Robinson

Então, um dia, numa das muitas trocas de e-mail, Catherine e Randy ficaram a pensar se a resposta para o desespero partilhado seria algum tipo de viagem. “As pessoas dizem que uma mudança de cenário é boa para este tipo de situação”, escreveu Catherine. E num instante Catherine e Randy perceberam que estavam a reservar voos para o Havaí, planeando férias um com o outro. Os dois pensaram: “Se nos dermos bem, ótimo; se não, pelo menos iremos passar umas férias agradáveis em qualquer lugar”, diz Catherine.

Até este momento, os dois estranhos só tinham trocado e-mails. Nem sequer sabiam como era a aparência um do outro, como soavam as suas vozes. Embora soubessem muito sobre o estado emocional um do outro, não se conheciam de verdade.

“Em circunstâncias normais, nenhum de nós teria feito algo assim”, reconhece Catherine, apressando-se a dizer: “Mas não foi uma circunstância normal”. “Uma pessoa só quer que a dor pare e está disposta a fazer qualquer coisa para que pare”, vinca Randy.

Já no Havaí

Antes da viagem para o Havaí,  em junho de 2018, Catherine e Randy conversaram algumas vezes por telefone. “Eu enviei-lhe uma fotografia e ele finalmente ficou a saber como eu era”, lembra Catherine. “Mas mesmo assim, não percebi até o avião pousar no Havaí que eu estava a voar para o outro lado do mundo para encontrar um completo estranho. E ele poderia ser um serial killer, pelo [pouco] que eu sabia”.

Enquanto isso, o melhor amigo de Randy estava preocupado que Catherine pudesse ser uma vigarista e aconselhou o amigo a não ir ou a arranjar uma "palavra-código" que Randy pudesse enviar por mensagem de texto caso as coisas corressem mal.

Catherine não contou a ninguém que se iria encontrar com Randy. Tudo sobre esta sua tomada de decisão era contrário à maneira como ela normalmente vivia a sua vida.

“Foi muito imprudente”, reconhece hoje Catherine. “Mas naquele momento, estávamos num lugar tão mau que precisávamos tentar qualquer coisa para melhorar”.

Em circunstâncias normais, nenhum de nós teria feito algo assim. Mas não foi uma circunstância normal” - Catarina Robinson

Quando Catherine e Randy se conheceram pessoalmente, descobriram que a conexão por e-mail facilmente se traduziu numa camaradagem na vida real.

“Foi uma continuação fácil das conversas que tivemos por e-mails e online”, diz Catherine. “Até foi bom estar com alguém que realmente entende o que estamos a passar e está a passar pela mesma coisa também.”

Ambos abordaram a viagem com uma mentalidade intrépida, a atitude de “o que temos a perder?”. Os dois queriam aproveitar o máximo do Havaí, manter-se ocupados e aproveitar tudo o que o destino tinha a oferecer. “Então, no primeiro dia, fomos fazer parapente”, conta Catherine. “Foi do tipo, ‘Ei, vamos tentar. Vamos subir e ficar ali por um tempo, e olhar para o mundo de uma perspetiva diferente’”. Foi emocionante. Catherine e Randy riram, de verdade, pela primeira vez em meses.

Nas férias no Havaí, Randy e Catherine decidiram fazer parapente juntos. Nesta fotografia estão a fazer exatamente o mesmo, mas numa viagem à Nova Zelândia.

Mais tarde, depois da aventura de parapente, os dois deram um passeio de barco ao redor da ilha de Oahu, com direito a jantar e dança. No dia seguinte, fizeram caminhadas, admirando as paisagens deslumbrantes. Durante todo o tempo que estiveram juntos, ambos mostraram-se emocionalmente vulneráveis ​​um com o outro, partilhando lágrimas e aventuras. E, ao mesmo tempo, ambos sentiam-se relaxados - não exatamente felizes, mas não infelizes.

“O sono veio mais facilmente depois de horas de caminhada até Diamond Head, nadando e caminhando pela praia”, relembra Randy. “Era realmente verdade que um fardo partilhado é um fardo reduzido pela metade”.

Mas, embora tivessem criado laços, não havia, diz Catherine, “nada de romântico a acontecer”. No entanto, Catherine já não sentia apenas Randy como o seu “amigo imaginário”. Ele era, finalmente, uma pessoa da vida real para ela, alguém com quem ela tinha criado uma ligação. Alguém que Catherine esperava que se tornasse um amigo de verdade. E Randy deixou o Havaí a sentir o mesmo.

“Nós demos-nos muito bem”, diz Randy, acrescentando que já “não se sentia tão solitário”.

Ainda assim, Catherine e Randy separaram-se sem planos imediatos de se encontrarem novamente. “Pensei: ‘Talvez eu o veja novamente no ano que vem ou algo assim’”, lembra Catherine. Mas não parecia garantido - havia milhares de quilómetros entre eles. E enquanto Randy tinha expressado interesse na Austrália, questionando Catherine sobre a vida lá, ela não achava que ele realmente a fosse visitar. “Os americanos normalmente não vêm para a Austrália”, atira Catherine. Mas para sua surpresa, Randy começou a planear uma viagem para Down Under. E, em pouco tempo, Catherine encontrou-o no Aeroporto de Melbourne, pronta para uma aventura de seis semanas.

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