Com a morte confirmada daquele que era secretário-geral da milícia xiita libanesa há 32 anos, especialistas apontam os dois nomes mais prováveis para preencher o "vazio" deixado pelo ataque israelita de há dois dias
Confirmada a morte de Hassan Nasrallah, que liderava o Hezbollah desde 1992, num ataque israelita ao sul de Beirute na sexta-feira à noite, a milícia xiita libanesa apoiada pelo Irão enfrenta um "grande vazio" que veio abalar o Líbano e todo o Médio Oriente e que deverá ser preenchido por um de dois membros séniores do grupo, apontam analistas.
Segundo os especialistas, a escolha para próximo secretário-geral do grupo libanês recai sobre um influente primo de Nasrallah e aquele que é tido como o atual "número dois" do Hezbollah. Quem é quem?
Hashem Safieddine
Até agora líder do conselho executivo do Hezbollah, o clérigo e primo de Nasrallah é tido como o principal candidato à liderança do grupo.
Nascido em 1964 na vila de Deir Qanoun en-Nahr, no sul do Líbano, Safieddine estudou teologia com Nasrallah nos dois principais centros de estudos religiosos do xiismo, em Najaf, no Iraque, e em Qom, no Irão. Ambos aderiram juntos à organização logo após a sua fundação pelo regime dos aiatolas em 1982, três anos depois da Revolução Islâmica no Irão.
Oriundo de uma respeitada família xiita de onde vêm vários estudiosos xiitas e deputados libaneses do movimento político xiita no Líbano, Safieddine tem um irmão, Abdullah, que é o atual representante oficial do Hezbollah no Irão. O filho de Safieddine, Redha, é casado com a filha de Qassem Soleimani, general iraniano de topo que foi morto num ataque dos EUA em 2020.
Para além de chefiar o conselho executivo do Hezbollah, Safieddine é também um importante membro do Conselho Shura do grupo, bem como líder do Conselho Jihadi. Integra há vários as listas de terroristas dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, sendo alvo de sanções económicas impostas pelos norte-americanos.
Naim Qassem
Aos 71 anos, o vice-secretário-geral do Hezbollah é muitas vezes referido como "o número 2" da milícia libanesa, o que também o coloca numa posição de topo para substituir Hassan Nasrallah.
Nascido em Kfar Kila, uma aldeia do sul do Líbano que tem sido repetidamente alvo de ataques israelitas, sobretudo desde os ataques do Hamas a 7 de outubro, Qassem tem um longo historial de ativismo político xiita.
Nos anos 1970, na década anterior à fundação do Hezbollah, juntou-se ao Movimento dos Despojados fundado pelo imã Musa al-Sadr, que eventualmente daria lugar ao Movimento Amal, o partido político xiita do Líbano. Mais tarde abandonou o Amal para ajudar a fundar o Hezbollah em 1982, tornando-se uma figura central no rol de teólogos religiosos que estiveram na fundação da milícia apoiada pelo Irão.
Tendo como seu mentor religioso o aiatola Mohammad Hussein Fadlallah, Qassme foi professor de estudos teológicos em Beirute durante décadas. E apesar do relativo secretismo quanto à estrutura interna do Hezbollah, sabe-se que um dos seus papéis dentro da organização nas últimas décadas foi como supervisor da rede educacional da milícia, tendo sido também responsável por gerir as atividades parlamentares da milícia.
Eleito vice-secretário-geral do Hezbollah em 1991, sob a liderança do então secretário-geral Abbas al-Musawi, que também foi assassinado por Israel, Qassem desempenhou um papel importante nos últimos anos, sobretudo como membro, tal como Safieddine, do Conselho Shura.
Em 2005, lançou o livro "Hezbollah: uma história a partir de dentro", que foi traduzido em várias línguas.