Mais canábis e menos ecstasy. Eis as drogas mais consumidas pelos europeus em 2021

Agência Lusa , NM
20 jan 2022, 08:15
Cánabis

Entre os 48.469 adultos inquiridos em 21 Estados-membros, 93% dos inquiridos admitiu ter consumido canábis no último ano

O consumo de canábis aumentou e o de ecstasy diminuiu, entre março e abril de 2021, quando vigoraram restrições provocadas pela pandemia de covid-19, revela um inquérito online à ingestão de drogas em 30 países divulgado esta quinta-feira.

O mais recente inquérito online europeu sobre consumo de drogas realizado pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês ), realizado entre março e abril de 2021 em 30 países (21 da União Europeia, incluindo Portugal, e nove não pertencentes), conclui que, “embora o consumo de canábis herbácea tenha aumentado, o consumo de MDMA/ecstasy diminuiu” quando muitas populações estavam sujeitas a confinamentos, num universo de consumidores com 18 ou mais anos.

“Cerca de um terço dos inquiridos (32%) referiu ter consumido mais canábis (herbácea) e 42% disse ter usado menos MDMA/ecstasy”, refere o EMCDDA.

O Observatório salienta, no documento a que a agência Lusa teve acesso, que o inquérito pretende “melhorar a compreensão dos padrões do consumo de droga na Europa e ajudar a definir futuras políticas e intervenções” sobre este problema.

93% dos inquiridos admitiu ter consumido canábis no último ano

Segundo as respostas online de 48.469 adultos em 21 Estados-membros e Suíça, a canábis foi a droga mais consumida, com 93 % dos consumidores a afirmarem tê-la usado nos últimos 12 meses e com pouca variação entre países.

Já o MDMA/ecstasy apresenta uma percentagem de consumo de 35%, a cocaína 35% e as anfetaminas 28%, surgindo como as substâncias ilícitas mais notificadas a seguir à canábis, “com a ordem das três drogas a variar de país para país”.

O inquérito revelou que um quinto (20%) da amostra referiu ter consumido LSD no último ano, 16% usou novas substâncias psicoativas (NSP) e 13% cetamina (também conhecida como quetamina ou Ketamina, um anestésico com aplicação hipnótica e aspeto analgésico).

Heroína atinge 3% dos inquiridos

O consumo de heroína foi comunicado por três por cento dos inquiridos, refere o Observatório sediado em Lisboa, salientando que, “embora a amostra que comunicou o consumo de heroína tenha sido pequena, mais de um quarto destes inquiridos (26%) indicou ter usado mais esta droga no período estudado”.

Os dados esta quinta-feira apresentados referem-se a uma amostra auto-selecionada que consumiu, pelo menos, uma droga ilícita nos 12 meses anteriores ao inquérito, explica o EMCDDA.

A agência europeia de estudo e análise sobre o fenómeno das drogas salienta que “embora os inquéritos online não sejam representativos da população em geral, quando cuidadosamente realizados e combinados com métodos tradicionais de recolha de dados, podem ajudar a traçar um quadro mais pormenorizado, realista e atual do consumo e dos mercados de droga na Europa”, acrescentando que mais de 100 organizações participaram na iniciativa, incluindo os pontos focais nacionais da rede Reitox (pontos focais/organismos oficiais de cada país), universidades e ONG.

Na parte do inquérito relacionada com os Balcãs ocidentais, “os resultados refletem as conclusões do países da UE, apresentando como novidade na ronda de 2021 da participação dos parceiros das agências de estudo sobre as drogas dos Balcãs ocidentais, através de um projeto de assistência técnica do Observatório Europeu.

Os dados recolhidos apontam que mais de dois mil adultos (2.174) da Albânia, Kosovo, Montenegro, Macedónia do Norte e Sérvia responderam ao inquérito, sendo que a maioria dos inquiridos (91%) declarou ter consumido canábis nos últimos 12 meses, seguida da cocaína (38%), MDMA/ecstasy (22%) e anfetaminas (20%).

“Mais uma vez, cerca de um terço dos inquiridos (32%) referiu ter consumido mais canábis (herbácea) e 34% ter consumido menos MDMA/ecstasy”, reflete o EMCDDA.

Nestes países, quase um em cada seis (17%) dos inquiridos declarou ter consumido novas substâncias psicoativas no último ano, enquanto 9% afirmaram ter usado LSD. O consumo de heroína e de metanfetaminas foi notificado por 8% dos inquiridos.

“Da vida noturna à vida familiar”: pandemia alterou padrões de consumo

Os resultados do inquérito apontam para uma passagem “da vida noturna à vida familiar”, sendo o domicílio referido como o contexto mais comum para o consumo de droga durante o período em causa (85% dos inquiridos no inquérito UE-Suíça e 72% nos Balcãs ocidentais), um padrão acentuado pelos confinamentos associados à covid-19 e pelo encerramento de locais de diversão noturna.

“A motivação para o consumo de diferentes substâncias lança alguma luz sobre estes resultados”, diz o OEDT numa nota enviada à Lusa, apontando que “as mais referidas para o consumo de canábis foram o relaxamento, para ficar com a ‘moca’ e para melhorar o sono, enquanto para MDMA/ecstasy foram os seus efeitos eufóricos e socializadores”.

No mesmo documento, o diretor do EMCDDA, Alexis Goosdeel, destaca que “os inquéritos em linha são um ingrediente essencial na monitorização do fenómeno da droga na Europa”.

“Ajudam-nos a chegar a uma população-alvo importante através de métodos inovadores online. Os resultados atuais revelam a grande variedade de drogas disponíveis em toda a Europa e fornecem informações valiosas sobre as tendências emergentes e os padrões de consumo em mutação durante a pandemia da covid-19. Desta vez, 100 organizações juntaram-se a nós na elaboração, tradução e divulgação do inquérito, assegurando que este é agora um instrumento importante para ajudar a adaptar as nossas respostas e a moldar as futuras políticas em matéria de droga”, adianta Aléxis Goosdeel.

O Observatório destaca que, em 2021, três países da chamada Política Europeia de Vizinhança (Geórgia, Líbano, Ucrânia) participaram também no inquérito pela primeira vez, através de um projeto de assistência técnica do EMCDDA, e esses resultados serão publicados na primavera deste ano.

Em países não pertencentes à UE, o EMCDDA colaborou nos inquéritos com pontos de contacto nacionais e ONG.

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