Explosivos, uma bandeira nazi e três jogos dos Sims: como a Rússia tentou acusar a Ucrânia de terrorismo

CNN Portugal , JGR
27 abr 2022, 21:26
Vladimir Putin (AP)

Os serviços secretos russos dizem ter travado um plano para assassinar um dos maiores apresentadores russos, mas as provas apresentadas levam alguns observadores a questionar a veracidade do esquema

Depois de anunciar a “desnazificação” como um dos principais motivos para justificar a invasão militar na Ucrânia, os serviços secretos russos anunciaram na passada segunda-feira ter descoberto uma alegada célula nazi que planeava o assassinato de um dos mais famosos apresentadores de televisão da Rússia, o jornalista Vladimir Solovyov. Porém, as provas apresentadas pelas autoridades russas não convencem todos os observadores, que apontam aquilo que consideram ser algumas incoerências.

Num vídeo da operação publicado pelo Serviço Federal de Segurança (FSB), as autoridades expõem os bens apreendidos: explosivos, armas, droga, uma bandeira nazi, uma imagem de Adolf Hitler e… três expansões do jogo The Sims 3.

Imagem publicada pelo FSB das provas encontradas no apartamento do grupo neo-nazi

A notícia atraiu ainda mais atenção quando foi anunciado que entre os bens apreendidos estão três cartões de telefone SIM, alegadamente utilizados pelos suspeitos para contactar os seus contactos ucranianos e para planear futuros crimes. Surgiu a dúvida: ter-se-ão os agentes dos serviços secretos russos enganado e colocado três cópias do videojogo SIMS em vez dos cartões telefónicos na imagem da operação?

Nas redes sociais, vários utilizadores destacam o facto de que os três jogos apreendidos são expansões do jogo original e que precisam da versão original para poderem ser jogados. Porém, os suspeitos nazis não tinham em sua posse a versão original do franchise - ou pelo menos esse não aparece na imagem.

A exposição dos videojogos como provas de associação criminosa pode ter sido um erro por parte dos agentes mas não terá sido o único. Alguns observadores repararam que, noutra imagem, no interior de um livro de um famoso autor neonazi russo, está escrita uma nota assinada com as palavras “assinatura ilegível”.

Nota assinada com as palavras "assinatura ilegível"

O FSB disse também que durante as buscas apreenderam “explosivos caseiros, oito cocktails molotov, seis pistolas, uma metralhadora, uma granada, drogas, passaportes ucranianos falsos e literatura nacionalista”.

O próprio Vladimir Putin foi dos primeiros a mencionar que o FSB tinha travado um plano para matar um famoso jornalista russo, sem nunca mencionar o nome de Solovyov. O magnata dos meios de comunicação é um dos propagandistas do Kremlin mais populares na Rússia e é um dos membros da elite russa que é alvo das sanções ocidentais, tendo várias das suas vilas em Itália sido apreendidas pelas autoridades.

"Eles recorreram ao terror para preparar os assassinatos dos nossos jornalistas. Conhecemos pelo nome os serviços secretos ocidentais, principalmente, é claro, a CIA, que trabalham com as agências de segurança da Ucrânia", acusou Vladimir Putin.

Segundo os serviços secretos, o grupo de neonazis russo era composto por seis pessoas que recebiam ordens do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, tendo na sua posse vários passaportes ucranianos falsos. O plano passaria por fazer explodir o carro de Solovyov. A Ucrânia negou qualquer envolvimento com o alegado plano.

A notícia levou a várias reações a pedir ao presidente russo para reconhecer a Ucrânia como um estado terrorista. Viacheslav Volodin, deputado da Duma, foi o primeiro a fazê-lo através da sua conta oficial do Telegram. “Depois de iniciar uma guerra contra seu próprio povo, Kiev passou pela fase de realizar ataques terroristas contra civis em outros países. É a isso que leva o apoio à ideologia neonazista", disse ele, embora na Ucrânia os partidos fascistas tenham obtido 2% nas últimas eleições. Deve-se reconhecer que a Ucrânia é um estado terrorista”, reforçou.

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