Presidente ucraniano ainda levou algo para agradar ao homólogo norte-americano, mas saiu de mãos a abanar e sem muita vontade de falar do que aconteceu
O presidente da Ucrânia voltou ao local onde há meses foi humilhado aos olhos de todo o mundo. Não ia vestido da forma correta, não ia com a atitude correta, acharam o presidente e o vice-presidente dos Estados Unidos.
Por isso, e com um objetivo mais concreto em mente, Volodymyr Zelensky vestiu um fato que até agradou a Donald Trump e no bolso colocou aquilo que o homem que manda na Casa Branca mais gosta: um negócio.
Não é à toa que 1987 viu nascer o livro “Donald Trump - A Arte da Negociação”. Afinal, é aí que o presidente norte-americano mais se sente à vontade, como o próprio deixou escapar na reunião desta quinta-feira.
À procura de mísseis de longo alcance que forcem Vladimir Putin a ceder, Volodymyr Zelensky levou consigo “milhares de drones”. A lógica é boa: a Ucrânia, que instigada pela guerra se tornou num dos maiores especialistas na produção destas máquinas, dava para receber.
Dava drones para receber Tomahawks. Dava “milhares de drones” para receber não se sabe quantos Tomahawks, arma que o presidente ucraniano diria minutos depois de sair da Casa Branca que mete medo a Vladimir Putin.
Donald Trump disse logo que receber drones ucranianos era algo que lhe interessava, mas também deixou claro que talvez esta proposta não chegasse para o convencer a ceder as armas que melhor podem servir os interesses de Kiev em atacar a Rússia de forma profunda.
Descrente na visão de paz que Donald Trump acha que Vladimir Putin tem, Volodymyr Zelensky quer chegar ao mesmo fim por outros meios, os militares. Apostada em atacar a Rússia onde mais dói, na sua máquina de guerra à base de petróleo e gás natural, a Ucrânia sabe que uma arma de longo alcance como esta é mais do que decisiva.
Só que a Casa Branca torceu o nariz. É que Volodymyr Zelensky disse com todas as letras: "Precisamos de Tomahawks". A isso, Donald Trump respondeu com dúvida: "Vamos falar sobre o envio de Tomahawks para a Ucrânia. Esperemos conseguir acabar a guerra sem os Tomahawks. Precisamos dos Tomahawks e de outras coisas que enviámos para a Ucrânia".
Além disso, sugeriu que preferia conseguir terminar a guerra sem a utilização destes mísseis. Numa lógica de crença no fim do conflito, Donald Trump não parece disponível, pelo menos num futuro próximo, para dar a tão necessária autorização.
Se estes comentários feitos ainda com as câmaras a gravar deixaram uma clara inclinação, a cara e as palavras - ou ausência delas - de Volodymyr Zelensky no pós-encontro foi conclusiva.
“Falámos sobre mísseis de longo alcance, claro, e não quero fazer comentários sobre isso”, afirmou, referindo que os Estados Unidos veem a utilização de Tomahawks em território russo como um cenário de escalada.
Sempre confiante, com tudo a correr sempre bem, Donald Trump disse apenas que “é tempo de parar a matança”, antes de deixar uma mensagem enigmática na sua Truth Social: “Eles devem parar onde estão. Deixem ambos reclamar vitória, deixem a História decidir”.
Perante o cenário de aparente desilusão, sobra um pequeno pormenor da visita de Volodymyr Zelensky aos Estados Unidos, o menu da refeição:
- Salada de alcachofras crocantes, funcho e vinagrete de limão;
- Frango assado com batata doce, fricassé de ervilhas-tortas, rúcula e aioli de alecrim;
- Maçãs McIntosh e caramelo com gelado de clementina e molho de amoras.
Uma sobremesa amarga, com Certeza, que volta a deixar a guerra em águas de bacalhau, pelo menos até à reunião de Donald Trump e Vladimir Putin, que não tem data, mas já tem um polémico local escolhido.
Nota do editor: já depois da publicação deste artigo a Axios indicou que Donald Trump recusou dar os mísseis Tomahawk a Volodymyr Zelensky, no que terá sido uma reunião tensa.