"Um lugar onde não podemos chamar invasão a uma invasão". Como os órgãos de comunicação social estão a reagir à nova lei da Rússia

CNN , por Brian Stelter
14 mar 2022, 08:46
Jornalismo

Este assunto é bastante sensível, e alguns meios de comunicação optam por não fazerem declarações formais sobre o mesmo, por razões óbvias. Mas a nova lei de censura da Rússia, que oprime a imprensa, está a obrigar a algumas conversas e decisões difíceis. Houve várias atualizações na terça-feira, que sublinhamos abaixo.

O editor de assuntos internacionais da Sky News, Dominic Waghorn, escreveu na terça-feira sobre a saída da Rússia, após uma visita de duas semanas “que se foi tornando mais sombria e sinistra”. É um lugar “onde não podemos chamar ‘invasão’ a uma invasão de dezenas de milhares de tropas russas”, disse ele. Um lugar de onde “os jornalistas russos independentes foram obrigados a partir porque o Estado criminalizou o jornalismo”. Ele disse que a maioria dos russos “vê uma distorção Orwelliana do apocalipse a acontecer aos primos, nas suas televisões, a fingir ser uma operação limitada para arrancar os nazis do país”. A descrição de Waghorn mostra bem a razão para precisarmos de relatos da Rússia, mas também a razão para isso ser tão difícil agora...

O “The New York Times” sai da Rússia

Oliver Darcy escreve: “O ‘The New York Times’ disse na terça-feira que, à luz da lei contra o jornalismo na Rússia, retirou a equipa do país. 'Para a segurança da nossa equipa editorial que trabalha na região, vamos transferi-los para fora do país, por enquanto”, disse o NYT. ‘Esperamos que regressem o mais depressa possível, enquanto monitoramos a aplicação da nova lei.’ O Times acrescentou que o jornal vai continuar a fazer um 'relato rigoroso sobre a ofensiva da Rússia na Ucrânia e estas tentativas de sufocar o jornalismo independente’. O antigo chefe da sucursal do NYT em Moscovo, Cliff Levy, disse que 'mesmo nas profundezas da Guerra Fria, sob a ditadura soviética, isto nunca aconteceu...’”

A BBC retoma a emissão

A BBC anunciou uma abordagem diferente, na terça-feira. A estação de notícias global, que tinha suspendido as operações na Rússia enquanto avaliava a nova lei, na sexta-feira passada, retomou as gravações ao vivo e outros trabalhos no país. “Ponderámos as implicações da nova legislação com a necessidade urgente de reportar de dentro da Rússia”, disse a BBC em comunicado. A estação garantiu aos telespectadores que os seus padrões não mudariam: “Contaremos esta parte crucial da história de forma independente e imparcial, mantendo os rígidos padrões editoriais da BBC. A segurança da nossa equipa na Rússia continua a ser a nossa principal prioridade”.

CNN: “Não vamos fechar a filial em Moscovo”

Oliver Darcy acrescenta: “Falei com um porta-voz da CNN para ver se a estação, que anunciou na sexta-feira que deixaria de transmitir na Rússia, tinha alguma atualização. O representante disse-me: ‘Não vamos fechar a filial em Moscovo, mas deixámos de reportar de lá até avaliarmos o impacto desta nova lei...’”

O panorama geral

Neste momento, os principais meios de comunicação estão a tomar precauções sensatas. As “atualizações” da AP sobre a guerra, na terça-feira, não incluíam quaisquer datas de Moscovo, por exemplo, embora ainda reportasse notícias da Rússia. O artigo do “Washington Post” sobre a Rússia estar a ser esmagada pelas moedas fortes foi escrita por um jornalista que estava em DC e não em Moscovo.

A lei contra o jornalismo ameaça mais os jornalistas locais. Quase todos os dias, esta newsletter inclui novos exemplos de jornalistas russos independentes em fuga do país. A France24, citando a Reporters Without Borders, diz que alguns estão “a fugir” para a Turquia, por enquanto. “Acho que, agora, o futuro é bastante sombrio”, disse Tikhon Dzyadko da TV Rain EIC ao WSJ, para um novo episódio do podcast. “O jornalismo independente e normal está quase morto” na Rússia. “Mas ainda espero que sobreviva.”

Adicionando à lista das empresas...

“A McDonald's, a Starbucks e a Coca-Cola deixam a Rússia” é um dos destaques da CNN.com, no momento. A história de Danielle Wiener-Bronner explica a razão para a decisão do McDonald's ser especialmente importante.

E eis alguns exemplos novos de grandes empresas que estão a tomar medidas. “Com efeito imediato, vamos suspender todas as operações na Rússia e fechar os nossos escritórios”, disse a Universal Music Group a Chloe Melas, num comunicado na terça-feira. “Pedimos o fim da violência na Ucrânia o mais depressa possível”, acrescentou a UMG. Além disso, a Condé Nast também anunciou que vai suspender as operações de publicação na Rússia.

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