O que poderá estar no "acordo de paz provisório" que a Rússia e a Ucrânia estarão a negociar?

16 mar 2022, 23:50
Presidente da Rússia, Vladimir Putin (SERGEY GUNEEV/EPA via Lusa)

Apoio dos países ocidentais à Ucrânia poderá representar um grande obstáculo para qualquer acordo com a Rússia, tal como o estatuto dos territórios anexados em 2014, refere o jornal, lembrando que o acordo de 1994 entre os dois países não impediu a agressão do Kremlin sobre o país vizinho

A Ucrânia e a Rússia terão chegado a um “acordo de paz provisório” assente em 15 pontos, escreve o Financial Times, que cita três pessoas envolvidas nas negociações.

Ambos os países terão alcançado “progressos significativos” num plano que inclui um cessar-fogo e a retirada da Rússia de território ucraniano, desde que Kiev declare a neutralidade e aceite a desmilitarização.

Mas o apoio dos países ocidentais à Ucrânia poderá representar um grande obstáculo para qualquer acordo, tal como o estatuto dos territórios ucranianos anexados em 2014, refere o jornal, lembrando que o acordo de 1994 entre os dois países não impediu a agressão do Kremlin sobre o país vizinho.

Embora ambos os lados tenham terminado a ronda de terça-feira a anunciar progressos nas negociações, a verdade é que as autoridades ucranianas dizem ter dúvidas de que Vladimir Putin esteja realmente comprometido num acordo de paz e receiam que estas reuniões não passem de uma estratégia de Moscovo para ganhar tempo e recuperar forças para dar continuidade à ofensiva militar na Ucrânia.

“É provável que isto seja um truque e uma ilusão. Eles mentem sobre tudo – sobre a Crimeia, o acumular de militares na fronteira, e a ‘histeria’ sobre a invasão”, disse fonte ucraniana, citada pela Financial Times.

“Temos de pressioná-los até que não tenham outra opção” senão concordar com um acordo de paz, acrescentou.

Esta quarta-feira, no entanto, o presidente russo não mostrou quaisquer sinais de um entendimento com a Ucrânia, insistindo que irá conseguir cumprir todos os seus objetivos com esta "operação militar". “Nunca permitiremos que a Ucrânia se torne palco de ações agressivas contra o nosso país", vincou.

Ainda assim, o Financial Times cita uma fonte russa que considera que, se a proposta que está em cima da mesa for aceite, poderá significar uma vitória para ambos os lados.

“Os dois lados precisam de uma vitória. Putin tem de conseguir vender essa ideia às pessoas. Ele pode dizer que queríamos impedir a adesão da Ucrânia à NATO, bem como a disposição de bases e mísseis estrangeiros no seu território. Se eles fizerem isso, Putin pode dizer ‘consegui’”.

Esta tarde, o conselheiro do chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky sublinhou, através de uma publicação no Twitter, que este acordo divulgado pelo Financial Times "representa a posição apresentada pelo lado russo, nada mais".

"A única coisa que podemos confirmar nesta fase é um cessar-fogo, a retirada das tropas russas e as garantias de segurança de vários países", acrescentou Mykhailo Podolak.

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