Tiros na direção deles até "serem completamente eliminados", 70 morreram: o que Moscovo diz ter feito aos russos anti-Putin que a Rússia diz serem ucranianos

CNN Portugal , MJC
23 mai 2023, 15:45
Belgorod, na Rússia (AP)

Ataque no território russo de Belgorod foi reivindicado por um "grupo de patriotas russos voluntários"

Moscovo afirma ter posto fim ao ataque à região de Belgorod. "Durante a operação antiterrorista, as formações nacionalistas foram bloqueadas e destruídas por ataques aéreos e fogo de artilharia", disse o Ministério da Defesa russo. "Os restantes [combatentes] foram forçados a recuar para o território da Ucrânia, onde continuaram a ser atingidos até serem completamente eliminados", disse o Ministério em comunicado, que refere ainda que mais de 70 atacantes foram mortos e quatro veículos blindados destruídos.

Embora a Rússia se tenha referido aos grupos que entraram na Rússia como "ucranianos", o ataque foi reivindicado pela Legião da Liberdade da Rússia e pelo Corpo de Voluntários Russos - dois grupos de cidadãos russos anti-Putin que lutam pela Ucrânia. As autoridades ucranianas reconheceram que os grupos cruzaram a fronteira para a Rússia mas dizem que agiram de forma independente.

As duas organizações tinham publicado esta terça-feira mensagens no Telegram que confirmavam a continuação dos combates.

“O Exército Russo não conseguiu enfrentar o grupo de patriotas voluntários que pegaram em armas e não tiveram medo de enfrentar abertamente o regime de Moscovo pelo bem do futuro livre da Rússia”, disse a  Legião da Liberdade da Rússia, citada pela agência Efe. O grupo destacou que o ataque a Belgorod na segunda-feira "quebrou mais uma vez o mito de que os cidadãos russos estão seguros e a Rússia é forte". O grupo também não descartou ações futuras.

"A Rússia não tem reservas para reagir a crises militares. Todas as suas tropas estão mortas, feridas ou na Ucrânia. A Rússia está totalmente desprotegida", acrescentaram. A Legião da Liberdade para a Rússia afirma que "na região de Belgorod há pânico, ocorre uma evacuação parcial organizada, mas principalmente é uma fuga espontânea".

Por seu lado, o Corpo de Voluntários da Rússia, outra das formações que assumiram a responsabilidade pelo ataque, emitiu um comunicado paralelo no Telegram no qual, segundo a Efe, assegurava que “o país está pronto para mudanças”. “Em breve na Rússia não haverá ninguém que não tenha perdido algum conhecido nesta guerra criminosa. (...)  A guerra continuará até que o corpo enforcado de Putin adorne as paredes do Kremlin”, afirmou o movimento.

Drones durante a noite e "limpeza" esta manhã

Os moradores da região de Belgorod fugiram das suas casas devido ao ataque ocorrido segunda-feira. Esta manhã, Vyacheslav Gladkov, governador da região, avisou as pessoas para não voltarem ainda, enquanto as forças russas realizavam o que descreveu como uma operação de "limpeza": "O MLRS interveio em edifícios residenciais e civis, dispositivos explosivos foram lançados. Como resultado, há 12 civis feridos, foram registados danos em 29 casas particulares e três carros. Atualmente não há eletricidade em 14 assentamentos, iniciaremos os trabalhos de restauro quando a situação operacional permitir", disse. 

Segundo o governador, a província russa foi atacada mais de 40 vezes com drones, artilharia e morteiros em diferentes localidades, entre segunda-feira e esta manhã, havendo 12 civis feridos e 29 casas particulares danificadas.

O que disse a Rússia

A Rússia afirmou que o ataque de segunda-feira foi realizado por “sabotadores militantes ucranianos”, rejeitando relatos de que eles se identificaram como uma milícia anti-Kremlin de etnia russa. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que havia muitos russos étnicos na Ucrânia e que isso não significava que eles não fossem, em última análise, militantes ucranianos.

O Kremlin também tinha exprimido esta terça-feira "profunda preocupação" em relação à incursão de um "grupo armado ucraniano" em território russo e apelou a "maiores esforços" para combater o número crescente de ataques. "O que aconteceu segunda-feira é motivo de grande preocupação e demonstra mais uma vez que os combatentes ucranianos continuam actividades contra o nosso país. Isto exige mais esforços da nossa parte. Estes esforços continuam e a 'operação militar especial' continua para que isto não volte a acontecer", disse o porta-voz do Kremlin.

Entretanto, Moscovo abriu uma investigação de terrorismo. Em comunicado, as autoridades disseram esta manhã que "a comissão de investigação da Rússia iniciou um processo criminal com base nos crimes dos artigos 205, 317, 105, 167, 222, 222.1 do código penal da Federação Russa (ato terrorista, usurpação da vida de policiais, tentativa de homicídio , destruição intencional ou dano à propriedade, circulação ilegal de armas e explosivos)".

Segundo as autoridades, "a 22 de maio de 2023, representantes das formações armadas ucranianas atacaram o distrito de Graivoronsky, na região de Belgorod". "Prédios residenciais e administrativos, instalações e infraestruturas civis foram submetidos a bombardeamentos de morteiros e artilharia. Vários civis ficaram feridos como resultado desses atos criminosos".

O que disse a Ucrânia

Por seu lado, Kiev rejeita responsabilidades e afirma tratar-se de uma "sublevação" por parte de "resistentes russos" no próprio país.

Um representante da Direcção de Inteligência Militar da Ucrânia atribuiu os ataques a dois grupos de voluntários russos que lutam contra o Kremlin: o Corpo de Voluntários Russos (CVR) e a Legião da Liberdade para a Rússia (LLR). A Ucrânia afirmou que os dois grupos paramilitares agem de forma independente, não estando sujeitos ao controlo militar. 

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados