Serviços de segurança da Ucrânia caçam espiões que vendem informações à Rússia

CNN , Mick Krever
17 mai 2022, 10:49
Serviços de segurança da Ucrânia

Reportagem com forças de segurança da Ucrânia, numa detenção de um suspeito de espionagem, que logo confessa. Há muitos mais.

Numa rua empoeirada na cidade de Sloviansk, no leste da Ucrânia, um homem de camisola preta de mangas comprida e calças de bolsos fuma um cigarro. Está a ser vigiado.

"Ele é nosso", diz um homem no rádio do carro na estrada. "Aí vai ele."

Da outra direção, uma carrinha guina e dois homens em uniformes de combate e com as caras tapadas saltam de lá. O homem de preto atira-se ao chão, como que por instinto. Os oficiais - dos serviços de segurança da Ucrânia, a SBU – revistam-no e recuperam o valioso indício: o seu telemóvel.

No leste da Ucrânia, os estrondos dos duelos entre artilharia russa e ucraniana são uma presença quase constante. Grande parte do bombardeamento russo é indiscriminado, mas parte é direcionada a alvos de valor elevado, como acampamentos militares, depósitos de armas ou a própria sede da SBU em Kramatorsk, que foi parcialmente destruída nas primeiras semanas da guerra.

Um suspeito é levado por um agente do serviço de segurança ucraniano depois de ser preso por suspeitas de fornecer informações à Rússia. Nota do editor: a CNN desfocou esta foto para proteger a identidade do suspeito.

A SBU diz que as forças russas dependem fortemente de colaboradores, como o suposto espião que a CNN viu ser preso em Sloviansk este fim de semana, para identificar os seus alvos e avaliar o sucesso dos seus ataques.

Quando confrontado no local por um investigador da SBU, o suspeito rapidamente admite ter comunicado com o inimigo.

"O que te pediu ele para fazer?", pergunta o investigador.

"Coordenadas, movimentos e assim por diante", diz o suspeito, de cabeça baixa. "Os locais dos acessos. Esse tipo de coisas. A situação em geral, e assim por diante."

"Percebes porque é que ele precisava das coordenadas?"

"Sim, entendo. Eu percebo."

Agentes do serviço de segurança da Ucrânia vasculham o telefone de um suspeito que se acredita ter enviado informações às forças russas.

A SBU diz aqui que está a realizar operações como esta uma ou duas vezes por dia. Este homem está sob investigação há apenas quatro dias.

Alguns dos suspeitos são infiltrados clássicos: cidadãos russos, trazidos para a região de Donbass no início da guerra, que vivem entre a população. Outros são simpatizantes políticos. Mas o homem que lidera a operação de hoje, que estamos a chamar de Serhiy, diz que a maioria das pessoas espia por dinheiro.

"Há cada vez menos traidores ideológicos", diz ele. "Mesmo aqueles que apoiaram a agressão da federação russa em 2014 no Donbass, durante a criação das chamadas RPD e RPL [Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk] -, quando viram o que aconteceu com Mariupol, Kharkiv, Kyiv, Bucha e dezenas e centenas de outras localidades, começaram a mudar a sua visão sobre a Rússia."

O suspeito deste fim de semana disse ao investigador que lhe ofereceram apenas 500 hryvnia, ou cerca de 16 euros, em troca de informações de alvos. Diz que foi recrutado através da aplicação de mensagens Telegram por alguém que se identificou como "Nikolai".

A sede do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) em Kramatorsk, que foi atingida por um ataque russo em março.

O investigador lê as suas trocas de mensagens enquanto os agentes da SBU têm as pistolas no coldre.

"Fizeste um bom trabalho ontem", escreveu Nikolai. "A mesma informação é necessária hoje. Fotos, vídeos, geodados dos militares no CNIL [um acampamento militar]. De quanto tempo precisas para ter a informação?"

"Entendido, entendido", respondeu o suspeito. "Mando-te uma mensagem de volta. Uma hora e meia a duas horas."

"Ok, fico à espera", respondeu Nikolai. "Cuidado. Fica atento às câmaras para que elas não te vejam. Tira fotos e vídeos secretamente."

O investigador explica ao suspeito que estão a apreender o seu telefone.

"A quem ligo para informar sobre a tua detenção?", pergunta o investigador.

“À minha mãe”, responde o suspeito.

"Lembras-te do número?"

"Há um número no telefone."

E assim, o homem é conduzido até ao carro não identificado da SBU e levado embora. Serhiy diz que ele será transferido para o oeste, para o Dnipro, onde será julgado. Se for provado que os seus atos de espionagem levaram a mortes ou a "graves consequências", uma condenação pode mandá-lo para a prisão para o resto da sua vida, explica Serhiy.

"Estes mísseis chegam nas coordenadas que são transmitidas por estes criminosos", diz-nos no quartel-general. "As pessoas morrem por causa destes mísseis. Os nossos soldados são mortos e civis são mortos."

Serhiy diz que tenta manter a sua raiva controlada, mas é difícil não levar as traições para o lado pessoal.

"De cada vez que prendo alguém como ele, sei de uma coisa: em sou mesmo daqui. Os meus entes queridos, todos os meus parentes, são de Lyman" - uma cidade próxima que está sob pesado bombardeamento russo há semanas -, diz.

"Neste momento, eles não têm onde morar, não têm nada. Não têm para onde voltar. Lembro-me sempre. Lembro-me sempre da estação ferroviária de Kramatorsk", conta, referindo-se a um ataque aéreo russo em abril que matou pelo menos 50 pessoas.

"Estávamos a apanhar pessoas, pedaço por pedaço."

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