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Major-general

Sem luz ao fundo do túnel

8 jun 2022, 11:48

Procurando analisar de forma fria os acontecimentos dos últimos dias no Teatro de Operações da Ucrânia realmente vimos presenciando batalhas sangrentas que têm vindo a produzir vantagens territoriais mais ou menos significativas.

Moscovo tem vindo a concentrar parte muito significativa do seu potencial militar terrestre nas batalhas pela conquista de Severodonetsk e Lysychansk, condição essencial para controlar totalmente o território da auto proclamada república de Lugansk. Pequenos avanços têm sido obtidos à custa de grandes perdas.

Em consequência da provada incapacidade de no curto prazo obter avanços significativos no Donbass, tudo indica que Putin terá colocado maior pressão sobre a cadeia de comando, nomeando um novo Comandante do Teatro de Operações e substuindo outros generais.

Esta prática reiterada quando algo não corre de feição para os lados do Kremlin, abona a favor dos analistas que vêm afirmando que Putin, diretamente do seu gabinete de Moscovo, tem inclusivamente vindo a intrometer-se de forma direta na conduta das operações correntes.

A verdade é que a primeira linha defensiva ucraniana, ainda não foi penetrada e muito menos neutralizada e em profundidade, ainda se encontram organizadas mais duas linhas de defesa preparadas e fortificadas.

Localizada na primeira linha defensiva, Severodonetsk, aonde a situação é particularmente difícil e que parecia estar prestes a cair definitivamente em mãos russas, foi objeto de uma contra ofensiva limitada por parte das forças ucranianas que terá permitido voltar a controlar cerca de metade desta cidade.

Como sabemos (com raras exceções onde uma das partes conflituantes foi completamente obliterada militarmente), os conflitos armados têm desde tempos imemoriais terminado à mesa das negociações, sempre na procura de uma solução política em termos aceitáveis para todas as partes conflituantes e celebrando, por conseguinte, um acordo ou tratado de paz. 

Pese embora as iniciativas, claramente fora de tempo, de Draghi, Macron e até de Henry Kissinger, sempre muito diligentes, contudo mais interessados em salvar a face de Putin do que em procurar uma solução política que assegure uma paz duradoura no espaço de convivência europeu, não me parece que no caso presente, estejamos temporalmente perto de uma solução dessa natureza.

As exigências explicitadas pelas partes beligerantes são, de momento, completamente inconciliáveis.

Do lado da Ucrânia milita o facto dos EUA e das potências ocidentais como um todo, ainda continuarem a apoiar de forma inequívoca e consistente o respetivo esforço de guerra.

Do lado russo, enquanto o seu complexo militar industrial e a sua situação económica e financeira aguentarem este tremendo esforço de guerra, e os ganhos compensarem as perdas, não será de esperar mudança significativa da sua posição negocial. Deste lado e no seio da comunidade internacional, joga-se ainda o prestígio e a credibilidade de Moscovo e do seu aparelho militar convencional.

Se os ventos da fortuna não correrem de feição ao Kremlin e se a Federação Russa se deixar enfraquecer militarmente para além de um ponto de não retorno, outros conflitos latentes se poderão reacender em várias regiões de que são exemplo a Abecásia e a Ossétia do Sul, entre outras.

Assim, enquanto Rússia e Ucrânia forem capazes de regenerar potencial militar, (no mínimo ao mesmo ritmo que o vão perdendo), enquanto forem capazes de colocar no Teatro de Operações novos combatentes devidamente instruídos e moralizados, bem como armamento e equipamento militar adequado e eficaz, será difícil ver luz ao fundo do túnel.

Em jeito de conclusão, a guerra estará para durar fundamentalmente porque de momento e nas atuais condições, ambos os contendores têm a perceção de que militarmente o desfecho das hostilidades lhes poderá ser favorável.

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