"Russos querem não só eliminar os ucranianos, mas colocar o mundo à beira da fome". Toneladas de cereais retidas na Ucrânia e terminal destruído

CNN Portugal , DCT
7 jun 2022, 12:00

O bloqueio à exportação de cereais tem sido um dos temas centrais da invasão russa da Ucrânia. O presidente do Conselho Europeu já acusou a Rússia de desencadear uma crise alimentar global

O bloqueio de exportações faz com que a Ucrânia tenha atualmente entre 22 a 25 milhões de toneladas de cereais retidos no país, uma quantidade que pode escalar a curto prazo para as 75 milhões de toneladas se os portos não forem abertos e os cereais comercializados para outros países.

Nas últimas horas, a Ucrânia acusou a Rússia de ter destruído o segundo maior terminal de cereais da Ucrânia.

“Milhões em todo o mundo enfrentarão mais insegurança alimentar. O apetite da Rússia está a crescer. Agora eles querem não apenas eliminar os ucranianos, mas colocar o mundo à beira da fome. Ajudar a Ucrânia ajudará a evitar isso”, escreveu Oleg Nikolenko, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, numa publicação feita no Twitter.

A Rússia não reagiu ainda a esta acusação, mas desmarcou-se do tema. O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, garantiu, também esta terça-feira, que os portos de Berdyansk e de Mariupol estão prontos para exportar cereais.

Uma guerra que pode levar à fome

Entre os países que já estão a sentir estes efeitos está a Tunísia. Cada pessoa pode comprar um máximo de dois quilos de arroz, avançou o El País. A situação no país já não era boa, mas a invasão russa veio agravar alguns setores, incluindo o dos cereais, uma vez que a Tunísia importa 50% deste alimento à Ucrânia. 

Desde março que foi imposto o racionamento de alguns produtos básicos. Além do arroz, cada pessoa na Tunísia só pode adquirir dois quilos de farinha e outros dois de açúcar.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, já tinha acusado a Rússia de desencadear uma crise alimentar global com a invasão da Ucrânia. 

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Luigi di Maio, disse que, à boleia do impacto da invasão russa nos cereais, já começou “a guerra mundial do pão”. O governante italiano alertou para o “risco de novos conflitos em África” à boleia desta situação.

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova Iorque, esta segunda-feira, Michel acusou o Kremlin de usar a crise alimentar como arma.

“O Kremlin está a usar o suprimentos de alimentos como um míssil furtivo contra os países em desenvolvimento”, disse Michel, que destaca que “as consequências dramáticas da guerra da Rússia estão a espalhar-se pelo mundo. E isso está a elevar os preços dos alimentos, a empurrar as pessoas para a pobreza e a destabilizar regiões inteiras”.

Também os Estados Unidos já tinham acusado a Rússia de usar a crise alimentar como uma arma de guerra.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já tinha igualmente alertado para os “sinais óbvios” de uma crise alimentar mundial devido à guerra da Ucrânia, acusando a Rússia de chantagem na retenção de cereais.

À boleia da invasão e do impacto da mesma na produção e exportação de cereais, os alimentos vão ficar ainda mais caros nos próximos meses, caso continue o bloqueio do escoamento marítimo de cereais da Ucrânia, alertaram os especialistas e governantes no Fórum Económico Mundial, em Davos.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados