Russos libertam médica ucraniana que gravou cerco a Mariupol e escondeu as imagens num tampão

CNN Portugal , CM/AG
18 jun 2022, 10:26

Durante mais de duas semanas, e no meio de grandes esforços, a médica conseguiu gravar 256 gigabytes em imagens. Imagens essas que passou aos jornalistas norte-americanos, que acabaram por conseguir abandonar a cidade num dos últimos comboios humanitários a sair de lá

As tropas russas libertaram a médica ucraniana que gravou o cerco a Mariupol e escondeu as imagens num tampão.

O anúncio da libertação de Yuliia Paievska, mais conhecida por Taira, foi feito pelo próprio presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

"Estou especialmente feliz por anunciar que conseguimos libertar a médica e voluntária ucraniana Yuliia 'Taira' Paievska do cativeiro. Ela já está em casa. Continuamos a trabalhar para libertar todo o nosso povo e obter decisões ainda mais positivas para a Ucrânia", afirmou.
 

Taira estava detida desde 16 de março, no mesmo dia em que um ataque aéreo destruiu o teatro de Mariupol, onde estavam abrigados milhares de civis, e no qual terão morrido pelo menos 600 pessoas.

Foi apanhada pelas tropas russas, juntamente com um colega, depois de salvar "mais de 500 soldados ucranianos desde 2014".

Na Ucrânia quase toda a gente a conhece por Taira, alcunha que ganhou por jogar o videojogo World of Warcraft com aquele nome.

Passou semanas na cidade de Mariupol, cercada pelas forças russas quase desde o início da guerra. Durante esse tempo conseguiu filmar o percurso que ia fazendo, incluindo a forma como ajudava as vítimas dos bombardeamentos. E tudo com recurso a um dispositivo que não era maior que uma unha, e que andou o tempo todo escondido num tampão. 

Durante mais de duas semanas, e no meio de grandes esforços, a médica conseguiu gravar 256 gigabytes em imagens. Imagens essas que passou aos jornalistas norte-americanos, que acabaram por conseguir abandonar a cidade num dos últimos comboios humanitários a sair de lá.

No dia a seguir aos jornalistas saírem, Taira e o seu condutor foram apanhados. As forças russas apresentaram a médica como alguém que estava ao serviço do Batalhão Azov, que a Rússia diz ser nazi, mas a Associated Press não encontrou quaisquer evidências de ligações entre a médica e o grupo.

Além de o hospital militar onde Taira estava não ter quaisquer ligações àquele batalhão, algumas das imagens recolhidas pela médica mostram como tentava salvar quem conseguia, incluindo soldados russos feridos, bem como civis ucranianos na mesma situação.

Um video gravado a 10 de março mostra dois soldados russos levados para uma ambulância por um soldado ucraniano. Um dos soldados estava numa cadeira de rodas, enquanto o outro estava ajoelhado e amarrado.

A certa altura ouve-se um membro das forças ucranianas a provocar os russos, enquanto a voz de Taira diz “calma, calma”.

Na mesma cena, uma mulher pergunta-lhe mesmo se “vai tratar os russos?”.

“Eles não vão ser tão compreensivos connosco. Mas não posso fazer outra coisa, eles são prisioneiros de guerra”, respondeu Taira.

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