Rússia lança novos ataques aéreos contra civis durante a madrugada

10 mar 2022, 08:15
Criança olha pela janela de um autocarro em Irpin, nos arredores de Kiev (AP)

Pelo menos quatro crianças morreram em ataques nas regiões de Kharkiv e de Sumy, onde foram abertos três corredores humanitários na manhã de quinta-feira. Representante russo nas Nações Unidas acusou Guterres de propagar notícias falsas e afirmou que o hospital pediátrico bombardeado na quarta-feira era um "objeto militar"

Crianças e jovens continuam a morrer em bombardeamentos levados a cabo pelas forças de Putin que esta quinta-feira conduzem o 15.º dia de invasão da Ucrânia, depois do ataque de quarta-feira a um hospital pediátrico em Mariupol, cidade cercada pelos russos e onde já morreram mais de mil pessoas desde o início da guerra.

Depois das imagens da destruição do hospital figurarem na primeira página de um grande número de jornais internacionais - incluindo uma grávida ferida a ser transportada no meio dos escombros -, a Rússia respondeu às acusações de ser protagonista de “uma violência sem sentido”, feitas por António Guterres. No Twitter, o representante russo na ONU, Dmitry Polyanskiy, disse que o Secretário-Geral das Nações Unidas estava a espalhar notícias falsas sobre o ataque ao hospital, “um local que se tornou num objeto militar por radicais ucranianos”, descreveu.

Voluntários e funcionários de emergência ucranianos carregam uma grávida ferida pelos ataques que atingiram o hospital pediátrico de Mariupol (AP Photo/Evgeniy Maloletka)

A Guterres, juntaram-se Boris Johnson, que disse que Vladimir Putin será responsabilizado “pelos seus crimes terríveis” e o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, que classificou o bombardeamento como “inaceitável”.  “Eu digo que bombardear um hospital é inaceitável. Não há razões, não há motivações para fazer isso (...) A primeira versão que foi dada para esta guerra foi a de que era uma operação militar destinada apenas para destruir instalações militares na Ucrânia para garantir a segurança da Rússia. Bombardear um hospital infantil, um hospital pediátrico, não tem nada que ver com esse propósito”.

Para a Rússia, contudo, a narrativa é totalmente diferente. “A verdade é que a maternidade não funciona desde o início da operação especial da Rússia na Ucrânia. Os médicos foram dispersos por militantes”, escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros no Twitter. Já o presidente ucraniano foi claro nas palavras. “É um crime de guerra”, disse, salientando que o ataque "é o dia que define tudo. Quem está de que lado".

Mas nem o clamor de vários líderes internacionais tornou a madrugada menos sangrenta. Especialmente na região de Sumy, onde, apesar de estarem em funcionamento três corredores humanitários, voltaram a morrer crianças vítimas de ataques aéreos russos, que se intensificaram durante as primeiras horas desta manhã. 

Na cidade de Okhtyrka, na região de Sumy, bombardeada dia e noite desde o início da semana, aviões russos atacaram novamente áreas residenciais durante a madrugada e fizeram três mortos, incluindo um rapaz de 13 anos e duas mulheres, segundo informaram as autoridades locais no Telegram, acrescentando que “há informações sobre a explosão de um gasoduto”.

Perto de Okhtyrka, a cidade de Trostyanets foi bombardeada por artilharia russa, atingindo a antiga fábrica de aparelhos eletrónicos Elektrobutprylad. Como resultado do bombardeamento, “três cidadãos foram mortos, incluindo um menino", segundo um comunicado partilhado pelo governador regional, Dmytro Zhyvytsky, no Telegram. O autarca indicou também que vários incêndios assolaram a cidade de Trostianets durante muitas horas após o bombardeamento.

Em Kharkiv, durante a noite, na pequena vila de Slobozhanske, um projétil russo atingiu uma casa particular, deixando o edifício totalmente destruído. Nos escombros, foram encontrados os corpos de duas crianças e de duas mulheres. “Uma menina de 5 anos conseguiu sobreviver, mas ficou ferida. Uma equipa de médicos levou-a para o Hospital Pervomaisk”, adiantou o Serviço Especial de Comunicações da Ucrânia.

Novas rondas negociais na Turquia

O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano Dmytro Kuleba chegou durante a madrugada à cidade de Antalya, na Turquia, para a primeira ronda de negociações com o seu homólogo russo, Sergey Lavrov, esta quinta-feira. 

A Turquia ofereceu-se para mediar as conversas entre os dois lados, mas Dmytro Kuleba afirmou esta quarta-feira que não tem "expectativas altas" para esta reunião com a Rússia. "Não tenho expectativas altas, mas definitivamente tentaremos tirar o máximo proveito disto", escreveu o ministro numa publicação no Facebook, onde acrescentou que a Ucrânia está a trabalhar para que as "negociações sejam mais eficientes".

 


Mais apoios à Ucrânia

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou durante a noite desta quarta-feira uma nova lei de financiamento do governo que inclui 13,6 mil milhões de dólares (12,3 mil milhões de euros) dedicados a ajudar a Ucrânia.

Os membros da Câmara alocaram cerca de 6,5 mil milhões de dólares ao Pentágono para assistência militar e cerca de US$ 6,6 mil milhões em assistência humanitária e ajuda económica à Ucrânia.

"Vamos continuar a apoiar o corajoso povo ucraniano que luta pelo seu país", escreveu Biden no Twitter. A lei foi aprovada num momento em que o Congresso está a correr contra o relógio para aprovar o Orçamento até sexta-feira, arriscando-se a sofrer um encerramento do governo.

Também o governo de Ottawa anunciou o envio de mais equipamentos militares letais e não letais no valor de 50 milhões de dólares para Kiev, incluindo câmaras para drones e outras armas especializadas, segundo a ministra da Defesa Anita Anand. O primeiro-ministro Justin Trudeau já tinha anunciado o envio de um novo conjunto de equipamento militar altamente especializado para a Ucrânia.

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