Pelo menos quatro crianças morreram em ataques nas regiões de Kharkiv e de Sumy, onde foram abertos três corredores humanitários na manhã de quinta-feira. Representante russo nas Nações Unidas acusou Guterres de propagar notícias falsas e afirmou que o hospital pediátrico bombardeado na quarta-feira era um "objeto militar"
Crianças e jovens continuam a morrer em bombardeamentos levados a cabo pelas forças de Putin que esta quinta-feira conduzem o 15.º dia de invasão da Ucrânia, depois do ataque de quarta-feira a um hospital pediátrico em Mariupol, cidade cercada pelos russos e onde já morreram mais de mil pessoas desde o início da guerra.
Depois das imagens da destruição do hospital figurarem na primeira página de um grande número de jornais internacionais - incluindo uma grávida ferida a ser transportada no meio dos escombros -, a Rússia respondeu às acusações de ser protagonista de “uma violência sem sentido”, feitas por António Guterres. No Twitter, o representante russo na ONU, Dmitry Polyanskiy, disse que o Secretário-Geral das Nações Unidas estava a espalhar notícias falsas sobre o ataque ao hospital, “um local que se tornou num objeto militar por radicais ucranianos”, descreveu.
A Guterres, juntaram-se Boris Johnson, que disse que Vladimir Putin será responsabilizado “pelos seus crimes terríveis” e o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, que classificou o bombardeamento como “inaceitável”. “Eu digo que bombardear um hospital é inaceitável. Não há razões, não há motivações para fazer isso (...) A primeira versão que foi dada para esta guerra foi a de que era uma operação militar destinada apenas para destruir instalações militares na Ucrânia para garantir a segurança da Rússia. Bombardear um hospital infantil, um hospital pediátrico, não tem nada que ver com esse propósito”.
There are few things more depraved than targeting the vulnerable and defenceless.
The UK is exploring more support for Ukraine to defend against airstrikes and we will hold Putin to account for his terrible crimes. #PutinMustFail https://t.co/JBuvB78HVC
— Boris Johnson (@BorisJohnson) March 9, 2022
Para a Rússia, contudo, a narrativa é totalmente diferente. “A verdade é que a maternidade não funciona desde o início da operação especial da Rússia na Ucrânia. Os médicos foram dispersos por militantes”, escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros no Twitter. Já o presidente ucraniano foi claro nas palavras. “É um crime de guerra”, disse, salientando que o ataque "é o dia que define tudo. Quem está de que lado".
That’s how #Fakenews is born. We warned in our statement back on 7 March (https://t.co/OpSeejBais) that this hospital has been turned into a military object by radicals. Very disturbing that UN spreads this information without verification #Mariupol #Mariupolhospital https://t.co/99v8avyThS pic.twitter.com/JsHgsv5YfQ
— Dmitry Polyanskiy (@Dpol_un) March 9, 2022
Mas nem o clamor de vários líderes internacionais tornou a madrugada menos sangrenta. Especialmente na região de Sumy, onde, apesar de estarem em funcionamento três corredores humanitários, voltaram a morrer crianças vítimas de ataques aéreos russos, que se intensificaram durante as primeiras horas desta manhã.
Na cidade de Okhtyrka, na região de Sumy, bombardeada dia e noite desde o início da semana, aviões russos atacaram novamente áreas residenciais durante a madrugada e fizeram três mortos, incluindo um rapaz de 13 anos e duas mulheres, segundo informaram as autoridades locais no Telegram, acrescentando que “há informações sobre a explosão de um gasoduto”.
Perto de Okhtyrka, a cidade de Trostyanets foi bombardeada por artilharia russa, atingindo a antiga fábrica de aparelhos eletrónicos Elektrobutprylad. Como resultado do bombardeamento, “três cidadãos foram mortos, incluindo um menino", segundo um comunicado partilhado pelo governador regional, Dmytro Zhyvytsky, no Telegram. O autarca indicou também que vários incêndios assolaram a cidade de Trostianets durante muitas horas após o bombardeamento.
Em Kharkiv, durante a noite, na pequena vila de Slobozhanske, um projétil russo atingiu uma casa particular, deixando o edifício totalmente destruído. Nos escombros, foram encontrados os corpos de duas crianças e de duas mulheres. “Uma menina de 5 anos conseguiu sobreviver, mas ficou ferida. Uma equipa de médicos levou-a para o Hospital Pervomaisk”, adiantou o Serviço Especial de Comunicações da Ucrânia.
Novas rondas negociais na Turquia
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano Dmytro Kuleba chegou durante a madrugada à cidade de Antalya, na Turquia, para a primeira ronda de negociações com o seu homólogo russo, Sergey Lavrov, esta quinta-feira.
A Turquia ofereceu-se para mediar as conversas entre os dois lados, mas Dmytro Kuleba afirmou esta quarta-feira que não tem "expectativas altas" para esta reunião com a Rússia. "Não tenho expectativas altas, mas definitivamente tentaremos tirar o máximo proveito disto", escreveu o ministro numa publicação no Facebook, onde acrescentou que a Ucrânia está a trabalhar para que as "negociações sejam mais eficientes".
Mais apoios à Ucrânia
A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou durante a noite desta quarta-feira uma nova lei de financiamento do governo que inclui 13,6 mil milhões de dólares (12,3 mil milhões de euros) dedicados a ajudar a Ucrânia.
Os membros da Câmara alocaram cerca de 6,5 mil milhões de dólares ao Pentágono para assistência militar e cerca de US$ 6,6 mil milhões em assistência humanitária e ajuda económica à Ucrânia.
"Vamos continuar a apoiar o corajoso povo ucraniano que luta pelo seu país", escreveu Biden no Twitter. A lei foi aprovada num momento em que o Congresso está a correr contra o relógio para aprovar o Orçamento até sexta-feira, arriscando-se a sofrer um encerramento do governo.
We're going to continue to support the brave Ukrainian people as they fight for their country.
— Joe Biden (@JoeBiden) March 9, 2022
I call on Congress to pass the $12 billion Ukraine assistance package.
Também o governo de Ottawa anunciou o envio de mais equipamentos militares letais e não letais no valor de 50 milhões de dólares para Kiev, incluindo câmaras para drones e outras armas especializadas, segundo a ministra da Defesa Anita Anand. O primeiro-ministro Justin Trudeau já tinha anunciado o envio de um novo conjunto de equipamento militar altamente especializado para a Ucrânia.
As @JustinTrudeau announced today, Canada will provide Ukraine with an additional $50 million in lethal & non-lethal military aid, including Canadian-made cameras used in military drones and other specialized equipment.
We stand with Ukrainians fighting to defend their country. pic.twitter.com/iSdYNze7z9
— Anita Anand (@AnitaAnandMP) March 10, 2022