Rússia é a “raposa na capoeira” da energia na UE, diz CEO da Endesa Portugal

Agência Lusa , HCL
11 mar 2022, 05:57
Nuno Ribeiro da Silva (Lusa)

Para Nuno Ribeiro da Silva, a Alemanha tem "alguma responsabilidade" na crise energética, dado que demonstra uma "sensibilidade relativamente à Rússia que é diferente do Ocidente". CEO diz ainda que Portugal tem "algum conforto", por não estar muito dependente da energia russa, mas vai sofrer os impactos "habituais"

O presidente da Endesa Portugal disse que a guerra na Ucrânia expôs que a Europa tem estado "distraída" em relação à segurança energética, o que resultou a uma dependência "extrema" e "perigosa" da energia russa.

"Isto [a guerra] vem expor que andamos muito distraídos relativamente à forma como, a nível geral da União Europeia (UE), temos uma dependência energética de terceiros na ordem dos 80% e, no particular que respeita ao gás, uma dependência ao nível do muito perigoso relativamente à Rússia", disse Nuno Ribeiro da Silva, em entrevista à Agência Lusa.

O CEO lembrou que a Europa "esqueceu", desde as crises do petróleo dos anos 70, a segurança do abastecimento, um dos três pilares da política energética a par dos aspetos do ambiente e dos preços.

"Foi-se acomodando e pagando centenas de milhões de euros nas importações de petróleo, gás e carvão de fontes de geografias muito instáveis, estamos a falar da Rússia, do Médio Oriente, da Venezuela, do Irão e, como costumo dizer, temos a raposa dentro da capoeira", sublinhou.

Para Nuno Ribeiro da Silva, a Alemanha tem "alguma responsabilidade" neste tema, dado que demonstra uma "sensibilidade relativamente à Rússia que é diferente do Ocidente e inclusivamente a própria personalidade da anterior chanceler [Angela Merkel] pelo facto de ter vivido também aquele mundo da Alemanha de Leste e pensou, com certeza, que o dar uma oportunidade à Rússia, de nos interligarmos mais em termos de interesses económicos, seria a forma de amainar a histórica tendência imperial russa".

Recordou ainda que em 2011 a Alemanha congelou um programa de construção de terminais de gás natural para poder receber gás natural sob a forma líquida de qualquer parte do mundo, escolhendo em alternativa fazer o gasoduto do Báltico, o Nord Stream 2, projeto que entretanto suspendeu com a invasão russa da Ucrânia.

O primeiro impacto da guerra no quadro global da energia foi nos preços, que já estavam em alta no último semestre de 2021, impulsionados pela recuperação da atividade económica, adiantou.

Portugal tem "algum conforto", por não estar muito dependente da energia russa, mas vai sofrer os impactos "habituais e aliás que já passamos por isso várias vezes face à nossa histórica vulnerabilidade em termos de importação de matérias primas energéticas e de imediato é um aumento do défice da balança comercial com os custos mais elevados quando temos que pagar o petróleo, o gás, agora não o carvão, pois felizmente já estamos libertos desse combustível fóssil", explicou.

O presidente da Endesa Portugal alertou ainda que o Orçamento do Estado para 2022 vai ter de sofrer uma atualização face ao que o Governo apresentou em outubro, porque os pressupostos em que foi feito, nomeadamente no que respeita ao preço do petróleo eram completamente diferentes, assim como também a questão da cotação do euro face ao dólar também que se alterou com esta crise.

Nuno Ribeiro da Silva vincou que o Estados-membros da União Europeia vão dar "muita atenção" à iniciativa “REPowerEU" apresentado pelo executivo comunitário em 08 de março.

"O documento tem aspetos de natureza imediata e também de caráter a prazo e estratégico, tanto que o título do documento é 'reenergizar' a União Europeia 2030", disse, recordando que as medidas de curto prazo permitem "um parêntese a algumas das regras que têm orientado o mercado energético na Europa, nomeadamente no quadro da eletricidade" e que deverá ser publicada no princípio de Abril informação que melhor precisará os ajustes à formação dos preços no mercado de eletricidade.

Adiantou que, paralelamente, a UE propôs medidas estratégicas como o reforço das infraestruturas que interliga os países europeus, como redes elétricas, gasodutos e interligação entre terminais de receção de gás e estruturas de armazenamento.

"Outras medidas apontam para um esforço conjunto para diversificar, dado que não conseguimos autonomia, mas pelo menos usando aquela imagem do não ter os ovos todos no mesmo cesto e diversificar fontes de aprovisionamento e preferencialmente mais sólidas sob ponto de vista de relação com o Ocidente no ponto de vista de estabilidade", frisou.

O CEO da Endesa Portugal recordou que só em 2021, e que nem foi um recorde, a UE pagou à Rússia 100 mil milhões de euros em importações. "Estamos a dar comida ao leão", avisou.

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