Rússia diz que quase 2.000 soldados deixaram Azovstal e foram levados para centro de detenção para serem interrogados

19 mai 2022, 11:21

Ministério da Defesa russa garante que 1.730 soldados ucranianos já foram retirados do complexo da fábrica Azovstal, onde estiveram entrincheirados nos últimos dois meses. Feridos serão assistidos em hospitais de Donetsk e os restantes foram levados para um centro de detenção na região controlada pelos russos

O Ministério da Defesa russo anunciou que, nas últimas 24 horas, se renderam mais 771 soldados ucranianos que estavam na fábrica Azovstal, em Mariupol, num total de 1.730 combatentes que depuseram as armas desde segunda-feira. 

Segundo a agência russa RIA, que cita o porta-voz do Ministério da Defesa de Moscovo, o major-general Igor Konashenkov, 
80 dos combatentes estão feridos. A mesma fonte revelou que os combatentes ucranianos que precisam de assistência médica serão tansportados para os hospitais de Novoazovsk e Donetsk, no leste da Ucrânia, numa zona controlada pelos russos. 

Os números avançados por Moscovo não puderam ser confirmados por qualquer meio de informação internacional, mas representam uma subida significativa no número de soldados que optaram pela rendição: na quarta-feira, a Defesa russa garantia que se tinham rendido quase mil combatentes ucranianos desde segunda-feira, pelo que, em 24 horas, o número de soldados  que se renderam quase duplicou. 

O batalhão Azov, que tinha centenas de militares entrincheirados no complexo metalúrgico da Azovstal, símbolo da resistência ucraniana durante os últimos dois meses de guerra, admitiu que os defensores de Mariupol "cumpriram ordens" para a rendição e, apesar das dificuldades, "repeliram as forças avassaladoras do inimigo e permitiram que o exército ucraniano se reagrupasse, treinasse mais pessoal e recebesse um grande número de armas dos países parceiros”, frisaram os militares nas redes sociais.  

Ao fim de 82 dias de resistência, Kiev anunciou que precisava dos "heróis ucranianos vivos" e deu ordem aos combatentes que resistiam na Azovstal para que baixassem as armas e se entregassem ao inimigo.

Soldados levados para centro de detenção em Olenivka

Do lado ucraniano, até ao momento, não houve qualquer atualização do número de soldados que se renderam do complexo fabril da Azovstal: na terça-feira, o presidente Volodymyr Zelensky dizia apenas que a negociação para o processo de evacuação da fábrica continuava e a Ucrânia esperava, então, que fosse possível fazer uma troca de prisioneiros de guerra, libertando soldados russos e esperando o regresso dos militares gravemente feridos. 

A agência russa TASS divulgou já esta quinta-feira declarações de Denis Pushilin, líder da autoproclamada República de Donetsk, que diz que mais de metade dos resistentes ucranianos que estavam na Azovstal já foram retirados do local.

Os soldados ucranianos sem ferimentos foram transportados para um centro de detenção em Olenivka, uma cidade próxima da linha da frente de combate na região de Donetsk, numa zona controlada pelos separatistas russos.  A informação foi divulgada por Maria Zakharova, porta-voz do  Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, e corroborada por Pushilin, o líder dos separatistas de Donetsk. O centro de detenção em Olenivka será uma antiga prisão.

A agência de notícias russa TASS avançou entretanto que o Comité de Investigação da Rússia, uma autoridade federal, planeia interrogar os soldados que ali ficarão detidos como parte de uma investigação ao que Moscovo chama de "crimes do regime ucraniano".

A Amnistia Internacional já veio apelar a que os prisioneiros de guerra ucranianos que se renderam no cerco à siderúrgica não tenham “a mesma sorte” de militares executados por forças pró-Rússia.

Cruz Vermelha regista prisioneiros de guerra

O Comité Internacional da Cruz Vermelha (ICRC na sigla original) anunciou esta quinta-feira, em comunicado, que deu início ao processo de registo de centenas de prisioneiros de guerra que se renderam de Mariupol.

Em comunicado, a organização humanitária informou que a operação para rastrear a localização dos soldados retirados da fábrica teve início na terça-feira e prosseguia ao longo do dia de hoje. 

"O ICRC não está a transportar os prisioneiros de guerra para os locais onde serão detidos", assinalou a Cruz Vermelha.

"O processo de registo que o ICRC facilita envolve o preenchimento individual de um formulário com detalhes pessoais, como o nome, data de nascimento e familiares próximos. Esta informação permite que o ICRC siga os que foram capturados e os ajude a manterem-se em contacto com as suas famílias", explica o comunicado da Cruz Vermelha Internacional. 

"Em concordância com a incumbência atribuída ao ICRC pelos estados ao abrigo das Convenções de Genebra de 1949, o ICRC deve ter acesso imediato a todos os prisioneiros de guerra em todos os locais onde forem detidos. O ICRC deve poder entrevistar prisioneiros de guerra sem testemunhas e a duração e frequência das visitas não deve ser indevidamente restrita", frisa a declaração da Cruz Vermelha.

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