Rússia diz que 10 mil voluntários já pediram para ir para a guerra mas há filas nas fronteiras para sair do país

22 set 2022, 19:22
Filas de carros vindos da Rússia esperam para entrar na Finlândia (Foto: OLIVIER MORIN/AFP via Getty Images)

A Finlândia já admite encerrar fronteiras aos russos e a Comissão Europeia garante que vai ser discutida a atribuição de vistos aos homens que fogem da mobilização parcial decretada por Putin para reforçar as tropas de Moscovo em solo ucraniano

Houve dez mil voluntários que não quiseram esperar e apresentaram-se para se juntarem à campanha da Rússia em território ucraniano. A notícia foi divulgada esta quinta-feira pela agência Reuters, que citava fonte do Estado-Maior General da Rússia: em apenas 24 horas, milhares de homens pediram para ir para a guerra, respondendo patrioticamente após o anúncio de Vladimir Putin, que decidiu uma mobilização parcial para reforçar as fileiras russas na Ucrânia. 

Moscovo parecia tentar passar, assim, a ideia de que a mobilização ordenada por Putin não fora recebida com contestação, ainda que a versão de ativistas e outros grupos independentes de monitorização não seja a mesma. Também nas últimas 24 horas, centenas de carros fizeram filas para sair da Rússia, numa aparente tentativa de fuga à ida forçada para a guerra. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já veio negar qualquer êxodo.

Segundo o OVD-Info, que monitoriza as forças policiais russas, pelo menos 1.310 pessoas foram detidas em toda a Rússia por se manifestarem contra o recrutamento para as forças armadas e muitos receberam mesmo, ainda sob detenção, a convocatória para se alistarem.

"Foi recebida informação de 15 esquadras de polícia que os homens detidos receberam uma convocatória para o registo militar e gabinete de recrutamento", divulou o OVD-Info em comunicado. O porta-voz do Kremlin não desmentiu estas convocatórias, dizendo apenas que "não é ilegal". 

A estação de televisão russa independente Dozhd deu ainda conta da mobilização de jornalistas: Artem Kriger, repórter do site de informação SOTA, também foi convocado a alistar-se depois de ter sido detido enquanto fazia a cobertura dos protestos anti-mobilização.

A decisão de Putin - que, segundo o ministro da Defesa russo, quer recrutar cerca de 300 mil homens para reforçar fileiras na Ucrânia - terá levado à fuga de milhares de russos, que procuram sair do país apesar de terem as escolhas limitadas: desde a semana passada, a Estónia, Letónia e Lituânia decidiram fechar fronteiras à maioria dos cidadãos russos com vistos de turismo, em resposta à agressão de Putin a Kiev.

Voos esgotados e fronteiras fechadas

Segundo o The Guardian, os voos diretos de Moscovo para Istambul, na Turquia, Yerevan, na Arménia, Tashkent (Uzbequistão) e Baku, no Azerbaijão - todos países que permitem a entrada de russos sem necessidade de visto - esgotaram até à próxima semana. E várias testemunhas garantiram a jornalistas da imprensa internacional que as fronteiras entre a Rússia e a Mongólia e Geórgia estavam a registar um trânsito excecional. O mesmo foi amplamente documentado na Finlândia, com a primeira-ministra Sanna Marin a admitir, em conferência de imprensa, que o governo está mesmo a equacionar fechar as entradas aos vizinhos russos, com quem partilham a mais longa fronteira da União Europeia, com cerca de 1.300 quilómetros.

"A vontade do governo é muito clara, acreditamos que o turismo russo [para a Finlândia] tem de ser travado, bem como o trânsito através da Finlândia", disse Sanna Marin. "Julgo que a situação precisa de ser reavaliada depois das notícias de ontem", admitiu a governante, referindo-se à mobilização de Putin. 

Segundo a guarda fronteiriça finlandesa, chegaram à Finlândia vindas da Rússia 4.824 pessoas na quarta-feira, mais 1.691 do que no mesmo dia da semana passada. 

Filas de carros vindos da Rússia esperam na fronteira, perto de Vaalimaa, para entrar na Finlândia (Foto: OLIVIER MORIN/AFP via Getty Images) 

A porta-voz da Comissão Europeia para a administração interna já revelou que os estados-membros irão debater a possibilidade de atribuir vistos humanitários aos russos que fujam da mobilização. Os estados do Báltico, que limitaram a entrada de cidadãos russos, admitiram que não estão preparados para, automaticamente, oferecer asilo a quem foge da guerra.

A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, disse numa entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, citada pelo Guardian, que Berlim poderá acolher os desertores da mobilização parcial decidida por Putin.

"Desertores tratados com repressão grave podem, como regra, obter proteção internacional na Alemanha", disse Faeser. "Qualquer um que corajosamente se oponha ao regime de Putin e, em consequência, caia em grande perigo, pode pedir asilo com base em perseguição política", explicou a ministra.

Além da Alemanha, também a Chéquia se pronunciou sobre o acolhimento aos desertores, mas em sentido contrário: à AFP,  Jan Lipavský, ministro dos Negócios Estrangeiros, disse que os que fogem da guerra de Putin não cumprem os critérios para receber vistos humanitários. 

"Compreendo que os russos fogem das decisões cada vez mais desesperadas tomadas por Putin. Mas aqueles que fogem do próprio país porque não querem assumir um dever imposto pelo próprio estado não cumprem os critérios para receberem vistos humanitários", rematou Lipavský.w

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