Rússia avisa que Finlândia e Suécia vão ser "inimigos" se aderirem à NATO e ameaça com o nuclear

14 abr 2022, 09:46
Vladimir Putin e Dmitry Medvedev (Dmitry Astakhov/AP)

Dmitry Medvedev diz que ninguém quer ter "armas nucleares a um braço de distância da sua casa", mas admite que as conversas para um Báltico livre de nuclear podem ser suspensas

O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia deixou esta quinta-feira mais um aviso a Finlândia e Suécia, países que estão a estudar uma possível adesão à NATO. Numa mensagem partilhada no Telegram, e citada pela agência estatal TASS, Dmitry Medvedev avisa que caso a adesão se efetive, aqueles dois países vão entrar para uma lista de ínimigos.

“A Suécia e a Finlândia estão a discutir a possibilidade de se juntarem à NATO com uma seriedade animalesca”, referiu, acrescentando que a Aliança Atlântica está “pronta para os aceitar de braços abertos”.

“O que significa isso? Que a Rússia vai ter mais dois inimigos registados oficialmente”, acrescentou.

O ex-presidente e primeiro-ministro da Rússia aproveitou também para deixar críticas aos Estados Unidos, que acusa de estarem a fazer propaganda com uma campanha de boas-vindas àqueles dois países.

Para Medvedev Moscovo deve reagir a esta situação “sem emoções, com cabeça fria”: Quantos países tem a NATO – 30 ou 32 – para nós não é importante. Dois a menos, dois a mais, dada a importância deles e da sua população, não faz muita diferença”.

Um dos homens mais próximos de Vladimir Putin, Medvedev diz que a guerra está a ser utilizada como um pretexto para se debater esta questão. Medvedev diz que já anteriormente tinham sido feitas tentativas de chamar aqueles países para a Aliança Atlântica, acrescentando que não percebe a necessidade de Suécia e Finlândia aderirem à organização: “Não temos disputas territoriais com esses países, como temos com a Ucrânia”.

As críticas viraram-se depois para os governos dos dois países, que acusa de propaganda, afirmando que a opinião pública não é unânime em relação à questão.

Voltando a um tom mais sério, Medvedev falou depois de uma questão que tem vindo a ser discutida na região do Báltico: a desnuclearização.

De resto, um cenário de um Báltico sem nuclear é algo que Suécia e Finlândia podem esquecer se aderirem à NATO: “Nesse caso não vão existir conversas sobre um estatuto não nuclear no Báltico”.

“As fronteiras terrestres da NATO com a Rússia vão duplicar. Claro que essas fronteiras vão ter de ser reforçadas”, afirmou Medvedev, num cenário em que a Finlândia adira à Aliança Atlântica.

Recorde-se que, atualmente, Estónia, Letónia, Lituânia e Polónia são os únicos países pertencentes à NATO que fazem fronteira terrestre com a Rússia, sendo que no caso dos últimos dois a ligação é com o enclave de Kaliningrado. No entanto, a Finlândia tem cerca de 1.300 quilómetros de fronteira com a Rússia, muito mais que qualquer outro país. A Suécia não faz fronteira com a Rússia, mas fica a poucos quilómetros em linha reta, além de ser o país com mais quilómetros de costa no Báltico, mar onde a Rússia tem apenas a zona de São Petersburgo e Kaliningrado como territórios.

“Ninguém com uma mente sã quer aumentar preços e taxas, aumentar a tensão nas fronteiras, com [mísseis] Iskanders, hipersónicos ou navios com armas nucleares a um braço de distância da sua casa. Vamos esperar que as ideias dos nossos vizinhos do norte prevaleçam [em relação àquilo que a Rússia diz serem pretensões do Ocidente]”, avisou Medvedev.

Mais tarde o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia veio dizer que a adesão sueca e finlandesa à NATO traria as "mais indesejadas consequências".

A Finlândia já disse que a possibilidade de adesão à NATO vai ser discutida "nas próximas semanas", enquanto a Suécia não foi tão longe, até porque existem eleições em breve, com a primeira-ministra sueca a mostrar-se cautelosa quanto a esta possibilidade.

A primeira-ministra da Lituânia foi a primeira a reagir à mais recente ameaça, classificando as palavras de Medvedev como "nada de novo". Ingrida Simonyte diz mesmo que a zona de Kaliningrado é "muito militarizada há vários anos", incluindo com armas nucleares.

"Acredito que a presença destes países como membros da Aliança Atlântica iria, de facto, fortalecer a organização e os países, bem como a nossa segurança. Assim que a decisão seja anunciada, e espero que seja, penso que os países do Báltico terão várias razões para a acolher", acrescentou.

A possível adesão da Ucrânia à NATO continua a ser uma das ameaças que a Rússia diz enfrentar, sendo também uma das mais fortes justificações para a guerra iniciada a 24 de fevereiro.

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