“Quando souberam que ele era um sniper ucraniano, ficaram loucos. Eles batiam-lhe com um bastão, às vezes até disparavam contra o braço ou a perna dele”

2 fev 2023, 20:48
Tropas russas na Ucrânia (AP Images)

Relatos de tortura dos russos sobre os ucranianos - e são relatos contados por um russo que diz que viu tudo e que acabou por fugir

“Graças a Deus não magoei ninguém. Não matei ninguém.” A expressão de alívio é de Konstantin Yefremov, que durante três meses serviu o exército russo como tenente na zona ocupada de Zaporizhzhia. Mal foi dispensado do serviço militar fugiu da Rússia para o México, onde agora se encontra em segurança.

O tenente falou ao jornal The Guardian sobre a sua experiência no campo de batalha, contando que testemunhou vários atos de tortura e de ameaças por parte das forças russas a prisioneiros ucranianos.

“Vi pessoalmente as nossas tropas a torturarem soldados ucranianos”, afirma, confessando-se aliviado por “finalmente poder falar” das coisas que viu.

O homem contou que viu superiores seus a torturarem três soldados que tinham sido capturados em Bilmak, a norte de Melitopol, em abril. “Durante os interrogatórios batiam-lhes durante toda a semana, todos os dias, às vezes até à noite.”

Nesse caso havia, segundo Konstantin Yefremov, um especial interesse por um dos prisioneiros, que se identificava como um sniper do exército ucraniano. “Quando souberam que era um sniper, ficaram loucos. Eles batiam-lhe com um bastão, às vezes até disparavam contra o braço ou a perna dele”, acrescentou.

O militar russo referiu mesmo que chegavam a tirar as calças ao soldado ucraniano, ameaçando-o de violação com uma esfregona.

“Diziam que iam filmar tudo e enviar o vídeo à namorada dele”, Kostantin Yefremov.

Kostantin Yefremov ainda tentou fugir do país antes de ser enviado para a Ucrânia, uma vez que percebeu logo que seria um dos primeiros a serem destacados. Mas membros do exército ameaçaram-no com uma pena de prisão de 10 anos por deserção, pelo que decidiu regressar à unidade. Mas arrepende-se: “Foi um erro, devia ter tentado fugir”.

“Deixei a minha arma, apanhei um táxi e fugi. Queria voltar à minha base e entregar a minha demissão”, explicou. Mas não conseguiu.

Dos meses passados em Zaporizhzhia relata ainda roubos por parte de alguns dos seus colegas. Roubavam “tudo, desde latas de comida a máquinas de lavar e bicicletas”.

A 23 de maio, Konstatin Yefremov conseguiu sair da guerra e do exército, fugindo de imediato da Rússia, onde é agora é conhecido como um traidor “porque não quis fazer parte desta guerra terrível”.

O militar russo teve a ajuda do grupo de direitos humanos Gulagu.net, que ajuda pessoas a deixarem a Rússia. Agora espera poder vir a ser chamado para testemunhar sobre a guerra na Ucrânia, tendo já uma certeza: “Devia ter escolhido a prisão em vez de ir para a Ucrânia mas fui cobarde”.

Konstantin Yefremov, que serviu numa base militar na Chechénia durante grande parte da carreira, é um dos mais recentes militares russos a falar sobre a guerra na Ucrânia.

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