Quais serão os alvos russos na "ofensiva de primavera"? Cinco cidades ucranianas que o Kremlin tem debaixo de olho

7 fev 2023, 12:44

Não é novidade para ninguém: Moscovo está a reorganizar-se para lançar uma grande ofensiva e conquistar mais territórios ucranianos

Esta terça-feira, o Ministério da Defesa britânico anunciava, no seu boletim diário sobre a guerra na Ucrânia, que a Rússia tentou relançar as grandes operações ofensivas em janeiro, com o objetivo de capturar territórios ucranianos em Donetsk. Mas a Defesa do Reino Unido também assinala que é improvável que o exército de Moscovo consiga reunir forças e equipamento militar suficientes para mudar de forma significativa o curso da guerra nas próximas semanas, apesar das tentativas.

Ainda assim, o antigo ministro da Defesa ucraniano, na última conferência que deu no cargo, no passado domingo - foi entretanto substituído pelo chefe dos serviços de informação - admitia que uma grande contraofensiva russa começasse já em fevereiro, mês em que se assinala um ano de guerra na Ucrânia. Oleksii Reznikov revelou que as autoridades ucranianas esperam que a Rússia lance uma ofensiva para conquistar a região do Donbass e, desde a frente de guerra em Zaporizhzhia planeiam ampliar o território ucraniano sob controlo de Moscovo, garantindo a segurança do corredor militar que liga por terra a fronteira russa com o mar de Azov e a Crimeia. 

E o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um think tank americano dedicado às questões de defesa e relações externas, deu nota, na semana passada, de que havia efetivamente movimentações de tanques russos até à frente em Zaporizhzhia, mas que o objetivo desta concentração de forças poderá ser o ataque à cidade de Vuhledar, na região de Donetsk - onde continua a travar-se uma intensa batalha pela cidade de Bakhmut. Mas o ISW prevê, por outro lado, que o grande golpe da Rússia será agora na região de Lugansk, onde Kiev conseguiu recuperar no outono passado algum território.

O correspondente da BBC na Ucrânia defende que, nas próximas semanas, a expressão "ofensiva de primavera" vai ser repetida até à exaustão: o termo militar, no sentido tradicional, refere-se ao impulso ganho pelos exércitos depois de aproveitarem o inverno para se reabastecerem, já que as batalhas, no período mais frio do ano, se tornam normalmente mais estáticas. Parece ser o caso dos russos, que conseguiram aumentar a produção de armamento e munições, mas também dos ucranianos, ainda que a Rússia tenha tomado a dianteira - num relatório de 29 de janeiro, citado pelo El País, o ISW concluía que os atrasos dos parceiros internacionais no fornecimento de armas mais poderosas a Kiev tinha deixado fechar a janela de oportunidade dos ucranianos de se anteciparem e lançarem uma contraofensiva antes de Moscovo. 

Mais quais serão, agora, os alvos do Kremlin? A BBC elencou cinco cidades ucranianas que poderão estar debaixo de olho dos russos nas próximas semanas.

Bakhmut

A destruição na cidade de Bakhmut (Foto: AP)

Bakhmut, na região de Donetsk, tem estado no centro da atenção mediática nas últimas semanas, foco de disputa entre russos e ucranianos que alegam, à vez, controlar a cidade. Kiev não está a recuar e garante que a Rússia sofre 500 baixas por dia na luta por Bakhmut, assegurando que as próprias baixas são menos numerosas. A Ucrânia continua, por agora, a controlar a cidade, cuja relevância para Moscovo é mais simbólica do que militar: se a cidade cair nas mãos dos russos, o exército de Putin deverá avançar dali para Slovyansk e Kramatorsk, ganhando novo impulso para a conquista de toda a região de Donetsk, ainda que isso significasse controlar mais de dez mil metros quadrados de território ucraniano - e isso seja muito difícil com o que se sabe ao dia de hoje.

Vuhledar

Os russos tentaram tomar a pequena cidade de Vuhledar, na região de Donetsk, em novembro, mas falharam. Deverão tentar de novo agora, sobretudo porque a localidade é próxima da única linha de comboio que liga a península da Crimeia anexada aos territórios controlados pelos russos no leste. E é de Vuhledar, acrescenta a BBC, que os ucranianos estão a disparar artilharia contra os comboios que abastecem os russos. A conquista de Vulhedar seria importante também porque Putin tem como objetivo alargar o corredor de terra entre a Crimeia e a Rússia, servindo igualmente de bandeira de propaganda para justificar a "operação militar especial", como é descrita pelo Kremlin a guerra na Ucrânia. 

Zaporizhzhia

A central nuclear de Zaporizhzhia junto ao rio Dnipro (Foto: Getty Images)

A BBC diz que a Ucrânia está preocupada com Zaporizhzhia: se as forças russas empurrarem para norte os soldados de Kiev, na direção das cidades de Orikhiv e Pokrovsk - esta última já na região de Donetsk - o exército de Zelensky perderá posições valiosas para disparar os mísseis de longo alcance para território controlado pelos russos, mais a sul. Por agora, as cidades de Melitopol e Tokmak, controladas por Moscovo, estão ao alcance dos mísseis de Kiev, mas poderão deixar de estar se houver avanços na região onde se localiza a maior central nuclear da Europa. Jornalistas do El País estiveram na linha da frente de Zaporizhzhia e concluíram que a tranquilidade que ali se vive agora se deve ao facto de o os russos estarem a acumular tropas e munições para um eventual ataque. 

Kharkiv

A segunda maior cidade ucraniana fica a poucos quilómetros da fronteira com a Rússia, mas tem resistido às investidas de Moscovo, mesmo que esteja constantemente sob ataques de mísseis russos. De acordo com a BBC, as autoridades locais não notam um aumento na concentração de tropas inimigas, mas as zonas de civis têm sido bombardeadas mais frequentemente e alguns responsáveis militares admitem mesmo que não seriam surpreendidos se os russos lançassem uma ofensiva para controlar a cidade. Dominar Kharkiv significaria que os russos conseguiriam isolar a cidade da capital do país, impedindo as forças ucranianas que se encontram atualmente estacionadas a sul de Kharkiv de recuarem para Kiev.

Kiev

Ataque em Kiev (Foto: AP)

O objetivo inicial da Rússia foi controlar Kiev e dar como encerrado o esforço militar na Ucrânia uma vez dominada a capital. Mas não foi assim que aconteceu: nas primeiras semanas de invasão, Moscovo usou os exercícios militares conjuntos com a Bielorrússia para lançar uma ofensiva na direção da capital ucraniana, que não foi bem sucedida. Por agora, a BBC revela que os serviços de informação ocidentais, bem como os congéneres ucranianos, não têm indicação de que haja uma ameaça a pairar sobre Kiev ou qualquer operação preparada a partir da Bielorrússia ou de outras províncias do norte. Mas o El País, que cita fontes de jornais independentes russos - incluindo o Novaya Gazeta de Dmitry Muratov, laureado com o prémio Nobel - indica que foram novamente traçados planos para capturar Kiev porque Putin assim o exige. Fonte próxima da Defesa russa admite mesmo que será um "suicídio" e que os militares estão em "pânico" porque acreditam que o Kremlin não sabe julgar as suas capacidades e subavalia a escassez de armamento de qualidade. Mas também existe a versão de que uma eventual ofensiva a Kiev está a ser falada apenas como estratégia de desinformação, para que os ucranianos desviem para esta frente parte das suas tropas e desfalquem outras onde ocorrerão os verdadeiros ataques.

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