Putin declara plano nuclear tático. Leia as letras miudinhas

CNN , Jill Dougherty
27 mar 2023, 19:00
Vladimir Putin e Alexander Lukashenko (AP)

ANÁLISE. Putin é neste momento um homem com muitos problemas. Agora diz que planeia instalar armas nucleares táticas na Bielorrússia.

Com um plano para bombas nucleares táticas na Bielorrússia, Putin está a assustar o mundo para distraí-lo dos seus problemas

Vladimir Putin diz que planeia instalar armas nucleares táticas na Bielorrússia, o aliado vizinho a partir do qual encenou parte da sua invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. Quando o presidente russo usa a palavra “nuclear”, o mundo presta atenção e essa parece ser uma das principais razões pelas quais ele a usou.

Como é habitual com Putin, o mundo deveria ler as letras miudinhas e verificar o contexto. As armas que Putin planeia transferir para a Bielorrússia não são armas nucleares estratégicas, aqueles gigantescos mísseis balísticos intercontinentais que, se disparados, poderão acabar com a vida na Terra.

As armas nucleares táticas são mais pequenas, mas poderosas, e podem ser utilizadas no campo de batalha. Putin tem vindo a ameaçar com a possibilidade de guerra nuclear ao longo do último passado, especialmente quando a sua operação militar na Ucrânia vacila.

Isto poderá ajudar a explicar o contexto do anúncio de Putin. Ele é, neste momento, um homem com muitos problemas. As forças russas estão a bombardear cidades ucranianas a partir do ar, mas a sua guerra terrestre não está a fazer grandes progressos.

Além de vários novos acordos comerciais com a China, Putin não obteve muito da sua cimeira com o líder chinês, Xi Jinping. A Rússia parece ser agora o parceiro júnior da China.

Depois há o Tribunal Penal Internacional e o mandado de captura que emitiu para Putin.

Agora, sobre as tais letras miudinhas:

Putin culpa o outro lado pela sua decisão, dizendo que a tomou em resposta ao facto de o Reino Unido ter passado a fornecer à Ucrânia munições antitanque que contêm urânio empobrecido.

Isso, acusa Putin, é uma escalada perigosa. O Reino Unido nega isto, explicando que as munições são utilizadas apenas para fins convencionais.

Segundo Putin, a Rússia já está a construir uma instalação de armazenamento para bombas nucleares táticas que estará pronta em julho. O presidente da Rússia não deu qualquer data específica para a chegada das armas táticas.

Além disso, observou, a Rússia já tem 10 aviões capazes de transportar armas nucleares, bem como vários sistemas de mísseis Iskander de curto alcance que poderão transportar armas nucleares.

De forma significativa, o líder russo também afirmou que não irá transferir o controlo das armas nucleares táticas para o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, que tem vindo a solicitar as armas há muito tempo.

Isso surpreende dois ex-diplomatas americanos com quem falei, e que qualificam o ato como estranho.

Lukashenko, salientam eles, assinou um acordo em 1994 para desistir das armas nucleares estratégicas que a Bielorrússia ainda possuía no final da Guerra Fria.

Porque é que ele decidiria fazer isto? Um diplomata assinala que as armas teriam de ser mantidas pelas forças russas, que estariam permanentemente estacionadas em solo bielorrusso, um sinal de que Lukashenko está ainda mais sob o controlo de Putin.

A administração norte-americana, de Biden, não parece perturbada com o anúncio de Putin. A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, afirmou que os EUA estão a acompanhar as implicações da declaração de Putin, mas acrescentou: "Não vimos qualquer razão para ajustar a nossa própria postura nuclear estratégica, nem quaisquer indicações de que a Rússia esteja a preparar-se para utilizar uma arma nuclear. Continuamos empenhados na defesa coletiva da aliança da NATO".

No entanto, a transferência das armas nucleares táticas russas para a Bielorrússia movimenta-as para ficarem mais próximas não só da Ucrânia, mas também da Polónia, Lituânia e Letónia, todos aliados da NATO.

Isto eleva o nível de ameaça na Europa, algo que Putin pretendia fazer.

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