Para Miguel Sousa Tavares, "a Rússia está a patinar na Ucrânia". E isto diz muito sobre uma guerra que "o Ocidente está interessado em que continue"

9 mai 2022, 23:03

No regresso à TVI no papel de comentador, Miguel Sousa Tavares apontou o dedo à NATO no conflito. Também Paulo Portas comentou a situação atual, considerando que a entrega de armas a Kiev "não é um incentivo à paz".

A Rússia celebrou esta segunda-feira o Dia da Vitória, que marca a vitória da então União Soviética sobre a Alemanha nazi. A TVI, do mesmo grupo da CNN Portugal, convidou Miguel Sousa Tavares e Paulo Portas para analisar a data, celebrada pela Rússia com pompa e circunstância quando decorre uma guerra com a Ucrânia.

Algumas das previsões apontavam para uma declaração de guerra, o que capacitaria Vladimir Putin a pedir todos os esforços ao exército, o que não acontece no decorrer de uma "operação especial militar". Tal não se verificou, e Miguel Sousa Tavares fala num “anticlímax”, sendo que “o clímax foi gerado pelo Ocidente.

“Fomos bombardeados com previsões de que Putin ia, no mínimo, declarar guerra à Ucrânia, que iria decretar uma mobilização geral, que talvez houvesse um desfile de vitória em Mariupol, que, no limite, poderia até chegar a ameaçar com uma guerra nuclear no Ocidente”, refere, acrescentando que “Putin contrariou todos os prognósticos”.

Miguel Sousa Tavares lembra que o presidente da Rússia é “imprevisível”, mas sublinha que das três partes da guerra - “a Rússia, que invadiu, a Ucrânia, que foi invadida, e a NATO” -, “nenhuma está interessada na paz.

“De todos os lados vemos um discurso que não é conciliador de maneira nenhuma”, diz, apontando que há mais de um mês que não se fala em negociações presenciais.

Sobre uma possível ameaça nuclear, “aquilo que mais se temia”, Miguel Sousa Tavares considera que Putin deu “um passo atrás”, num discurso que foi, sobretudo, dirigido para dentro.

Paulo Portas concorda, falando num “discurso justificativo para a nação russa”, e lembra o passado de Putin nos serviços secretos.

O comentador da TVI recorda que as previsões sobre o Dia da Vitória saíram do Ocidente: “Foi, sobretudo, uma ideia que nasceu dos serviços de inteligência franceses, e que se foi espalhando.”

De resto, para Paulo Portas, a Rússia não necessita constitucionalmente de declarar guerra, acrescentando que uma ideia de mobilização geral não faria sentido num dia de celebração nacional, até porque isso significaria que as forças existentes na Ucrânia não chegavam.

“Houve dois argumentos básicos: que estava em preparação uma agressão de Kiev ao Donbass, da qual não há nenhuma evidência factual; e que os russos tiveram de recusar essa agressão e a expansão da NATO”, diz.

Sobre a NATO, Paulo Portas refere que as últimas expansões “relevantes” são do início deste século. “A verdade é que a Ucrânia não entrou na NATO. Por alguma razão não entrou”, vinca.

Na relação entre Ucrânia e NATO, recorda Miguel Sousa Tavares, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, esteve presente numa cimeira da Aliança Atlântica três dias antes da invasão se efetivar.

“Não teve uma resposta imediata. De facto a Ucrânia não entrou na NATO, mas a NATO entrou na Ucrânia, a NATO está dentro da Ucrânia”, afirma, referindo que a Aliança Atlântica nunca disse de forma taxativa que Ucrânia e Geórgia nunca entrariam na organização.

Miguel Sousa Tavares vê também uma posição da NATO que nunca foi de diálogo, a começar pelos Estados Unidos, o país que “manda na NATO”.

“A única pessoa que tentou negociar foi Emmanuel Macron, que não só não recebeu apoio, como foi desautorizado pela NATO”, diz.

Lembrando as palavras de Joe Biden sobre Vladimir Putin, a quem chamou de “criminoso de guerra” ou “genocida”, o presidente dos Estados Unidos não quis dialogar com o presidente da Rússia.

“Antes da invasão da Ucrânia não houve nenhum esforço sério do Ocidente para travar a invasão. E continua a não haver”, acrescenta, dizendo que “o Ocidente está interessado em que a guerra continue, porque a Rússia está a patinar na Ucrânia”.

Miguel Sousa Tavares diz mesmo que “a NATO quer derrotar a Rússia” e que, como tal, “quer prolongar a guerra”.

Paulo Portas explica que o facto de os Estados Unidos e os restantes países do Ocidente estarem a ajudar a Ucrânia com armas pode dar uma pulsão à Rússia para intensificar a guerra, acrescentando que palavras como a do secretário da Defesa dos Estados Unidos, que disse que o objetivo é enfraquecer a Rússia, pode ser prejudicial à paz.

"Em situação de guerra, quando há disparidade de forças e começa a haver uma aproximação de forças, isso não é um incentivo à paz", afirma, falando claramente dos apoios bélicos enviados pelos ocidentais.

Ainda assim, o comentador diz que o papel do Ocidente é indispensável. "O que teria sido esta guerra se o Ocidente tivesse assumido a posição de, além de não combater, não ajudar?"

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