Papa critica Rússia pela crueldade na Ucrânia mas diz que a guerra pode ter sido provocada

14 jun 2022, 10:53
Papa Francisco

Francisco falou com editores de órgãos de comunicação social no mês passado e a conversa foi reproduzida esta terça-feira por um jornal

O Papa Francisco criticou as tropas russas pela sua crueldade mas argumentou que nem tudo na guerra é a preto e branco e que o conflito na Ucrânia poderá ter sido provocado.

O jornal jesuíta La Civiltà Cattolica reproduz esta terça-feira declarações que Francisco terá feito no mês passado, numa conversa com editores de meios de comunicação jesuítas: o Papa condenou a "ferocidade" e a "crueldade" do exército russo, elogiando os ucranianos pela sua luta pela sobrevivência, mas disse que a indústria do armamento está entre os fatores que podem ter incentivado a guerra e que o conflito poderá ter sido, "de alguma forma", provocado.

 "Também é verdade que os russos pensavam que tudo estaria terminado numa semana. Mas eles calcularam mal. Encontraram um povo corajoso, pessoas que estão a lutar pela sobrevivência e que têm uma história de luta", disse o Papa. 

"É isto que nos move, ver este heroísmo. Gostaria de enfatizar este ponto, o heroísmo do povo ucraniano. O que está perante os nossos olhos é uma situação de guerra, interesses globais, vendas de armas e apropriação geopolítica que está a martirizar um povo heróico", sublinhou.

Ladrar aos portões da Rússia

Francisco disse ainda que vários meses antes de o presidente Vladimir Putin enviar as suas forças para a Ucrânia se encontrou com um chefe de Estado que lhe manifestou preocupação com o facto de a NATO estar "a ladrar aos portões da Rússia" de uma forma que poderia levar à guerra. E acrescentou, nas suas próprias palavras: "Não vemos todo o drama que se desenrola por trás desta guerra, que foi de alguma forma provocado ou não impedido", afirmou o Papa. 
 
Questionando-se, de forma retórica, se estas afirmações o colocariam a favor de Putin, Francisco respondeu: "Não. Seria simplista e errado dizer tal coisa".

O Papa comentou ainda o recurso "monstruoso" da Rússia aos mercenários chechenos e sírios na Ucrânia e revelou que conta encontrar-se com o patriarca Cirilo, da Igreja Ortodoxa russa, no próximo mês de setembro, num evento interreligioso no Cazaquistão. Os dois deveriam ter-se encontrado em Jerusalém este mês, mas o encontro foi cancelado devido à guerra na Ucrânia.

O patriarca, que é próximo de Putin, tem apoiado a invasão russa da Ucrânia, o que levou o Papa Francisco a dizer que Cirilo não podia tornar-se um acólito do presidente russo, levando a um protesto da Igreja Ortodoxa da Rússia.

Francisco revelou ainda que disse a Cirilo, durante uma conversa por videoconferência em março: "Irmão, não somos clérigos de Estado, somos pastores do povo". 

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