"Os russos não faziam ideia". Ucrânia montou campanha de desinformação para enganar Rússia e retomar Kharkiv

10 set 2022, 22:59
A bandeira ucraniana voltou a Balakliia (Juan Barreto/Getty Images)

Moscovo mobilizou-se para uma suposta batalha por Kherson, mas foi no outro extremo do país que o fogo acabou por acontecer

A Ucrânia conseguiu importantes avanços nos últimos dias, conquistando as cidades de Balakliia, Kupiansk e Izium, obrigando mesmo as forças russas a uma retirada, ainda que Moscovo chame a esse movimento um “reagrupamento” para concentrar esforços na libertação do Donbass.

A forte contra-ofensiva surge poucas semanas depois de várias afirmações de que estaria em curso uma grande mobilização ucraniana para o sul do país, com o grande intuito de libertar as regiões ocupadas de Kherson e Zaporizhzhia. Houve, efetivamente, avanços nessas zonas, mas, sabe-se agora, tudo não terá passado de uma manobra de distração.

O jornal The Guardian revela que a propaganda que dava conta dessa ofensiva a sul não passou de uma grande campanha de desinformação para distrair a Rússia do verdadeiro propósito: recuperar os postos na região de Kharkiv, onde está a segunda maior cidade do país. Essa informação foi confirmada àquele meio de comunicação pelas forças especiais ucranianas, que conseguiram assim iludir a Rússia, e com ganhos significativos: já recuperaram cerca de um terço da zona ocupada em apenas três dias, e a retirada russa será o culminar da estratégia. A Reuters diz mesmo que esta é a segunda maior derrota da Rússia na guerra, só ultrapassada pela retirada de Kiev.

“Foi uma grande operação de desinformação”, afirmou Taras Berezovets, antigo conselheiro de segurança que agora faz parte do departamento de comunicação da brigada Bohun, que pertence às forças especiais.

“A Rússia pensava que ia ser no sul e moveu equipamento. Depois, em vez do sul, a ofensiva aconteceu onde menos esperavam, e isso provocou pânico e fugiram”, acrescentou o responsável.

A 29 de agosto o comando militar que gere a situação no sul da Ucrânia anunciou que uma já esperada ofensiva na região de Kherson tinha começado. Só que os soldados na linha da frente nunca verificaram quaisquer evidências dessas movimentações ou batalhas ativas no terreno.

Ao longo de duas semanas as forças ucranianas até conquistaram várias localidades no sul, sendo algo que já vinha acontecendo, e que, por isso, não se revelou nada de extraordinário. Ainda assim, essas notícias acabaram por fazer eco nas notícias, mesmo a nível internacional.

Uma representante do comando do sul foi uma das grandes responsáveis pela estratégia. Insistiu num “regime de silêncio”, tendo mesmo banido os jornalistas de visitarem a zona de Kherson. Ao mesmo tempo, revelou Taras Berezovets, os poucos jornalistas na região foram utilizados como forma de espalhar essa mesma campanha de desinformação.

“Entretanto os nossos rapazes em Kharkiv receberam rapidamente armas do Ocidente, em especial americanas”, revelou.

Como parte da operação as forças ucranianas desmobilizaram informadores do lado russo que estavam em zonas controladas pela Ucrânia em Kharkiv, parando assim a troca de informações com Moscovo sobre os preparativos.

“Os informadores foram quase todos limpos. Eram quase só civis ucranianos normais, mas havia alguns agentes russos disfarçados de civis”, explicou uma fonte do The Guardian, que garantiu que “os russos não faziam ideia do que se estava a passar”.

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