Quem são os oligarcas russos mais ricos que o Ocidente quer caçar

6 mar 2022, 18:56
Vladimir Putin com Denis Manturov e Alisher Usmanov (Mikhail Klimentyev/AP)

Sanções do Ocidente estão a apertar com os russos bilionários. Saiba quem são e o que têm alguns dos oligarcas mais poderosos da Rússia

A revista Forbes revelou na sua edição de março de 2021 a lista dos 118 cidadãos mais ricos da Rússia. Entre eles encontram-se os oligarcas que são alvo das sanções do Ocidente, por integrarem o círculo do presidente Vladimir Putin e o apoiarem na sua política agressiva contra a Ucrânia. Alguns desses oligarcas – poucos, diga-se – já apoiavam o presidente Boris Ieltsin.

Alexei Mordashov, cuja fortuna está avaliada em 29,1 mil milhões de dólares, é o número um dos milionários da Rússia. A nível mundial, surge em 51º lugar na lista dos mais ricos. Empresário, de 56 anos, Mordashov foi durante 19 anos (até 2015) o CEO e acionista maioritário da Severstal, a maior companhia russa de aço, onde ingressou como funcionário. O seu mestrado em gestão e os seus conhecimentos políticos levaram-no a diretor financeiro da empresa. Quando as ações da mesma foram vendidas, o filho de operários fabris adquiriu a maioria.

A partir da Severstal, Mordashov criou a empresa de mineração de ouro Nordgold, com ativos na Rússia, Cazaquistão, Burkina Faso, Guiné e Canadá. É provável que tenham sido as sanções do Ocidente a motivar a sua decisão de transferir uma parte significativa da Nordgold para a mulher, Maria Mordashova, que detém agora um controlo significativo da empresa.

O milionário afastou-se também, do conselho administrativo da TUI, empresa de viagens e turismo de origem alemã.

Pai de sete filhos, este oligarca faz ainda parte do conselho do teatro Bolshoi. Crítico das sanções, que o visam a ele e aos seus pares, Mordashov não hesitou em afirmar à agência noticiosa TASS não ter “absolutamente nada a ver com as atuais tensões geopolíticas. Não entendo a razão das sanções terem sido impostas contra nós”. Mas, ao colocá-lo na lista dos visados, a União Europeia refere a sua proximidade ao presidente russo e os interesses financeiros que detém no Rossiya Bank, que tem servido como o “banco pessoal” de altos responsáveis russos que beneficiaram com a anexação da Crimeia. O milionário terá ainda investido em várias publicações pró-russas que contribuíram para desestabilizar a Ucrânia.

No passado dia 4, o iate “Lady M” de Mordashov  que se encontrava no porto de Imperia, no norte de Itália, foi apresado. Trata-se de um iate de 65 metros, construído nos Estados Unidos há cinco anos e que está avaliado em 27 milhões de dólares. Como muitos outros oligarcas, Mordashov possui propriedades fora da Rússia, uma delas é uma villa, avaliada entre 88 e 72 milhões de dólares, na costa da Sardenha.

Vagit Alekperov é o quarto multimilionário russo, com uma fortuna de 24,9 mil milhões de dólares. Oriundo do Azerbaijão, onde nasceu em 1950, Alekperov trabalhou numa plataforma petrolífera do mar Cáspio, experiência que o ajudou quando, após ter conseguido o doutoramento em económicas, foi nomeado vice-ministro para supervisionar a indústria petrolífera da União Soviética. Em 1991 e a partir de três grandes campos petrolíferos, criou a empresa Lukoil, hoje a maior empresa petrolífera independente russa e a terceira depois das duas empresas estatais, a Sherbank e a Rosneft. Alekperov é proprietário de quase um quarto da Lukoil e seu presidente. Em declarações públicas, o magnata tem afirmado que, quando morrer, as suas ações da Lukoil serão transferidas para uma fundação de caridade.

Oligarca da era de Putin, é detentor de 36,8% das ações do Clube de Futebol Spartak de Moscovo. É ainda dono dos estaleiros Heesen Yachts, nos Países Baixos, onde foi construído em 2016 o seu iate Galactica Super Nova.

Casado e pai de um filho, Alekperov tem uma paixão: a numismática. De acordo com a Forbes, mais de 700 moedas estão expostas no museu privado de Alekperov, o que será cerca de um quarto do total da coleção. A mesma consiste em moedas de ouro da Rússia antiga e moderna, algumas moedas de prata assim como de platina do Império russo.

Leonid Mikhelson é o quinto milionário russo, com uma fortuna de 24,9 mil milhões de dólares, alcançada essencialmente através do gás. Casado e pai de dois filhos, judeu asquenaze, de 66 anos, é um próximo de Putin.

Fundador e presidente da companhia de gás natural Novatek, Mikhelson começou a sua carreira como capataz da empresa que construiu o pipeline do gás na região russa de Tyumen.  Em 2017, adquiriu 17% das ações da Sibur, a empresa petroquímica de Kirill Shamalov, o ex-genro de Putin. Com essa aquisição, Mikhelson passa a deter 48% das ações da Sibur.

Gennady Timchenko, de 69 anos, surge em sexto lugar na lista dos mais ricos da Rússia, com uma fortuna avaliada em 22 mil milhões de dólares, construída através de negócios do petróleo e do gás: tem ações em várias empresas russas, incluindo a empresa de gás Novatek e a petroquímica Sibur.

Casado e pai de três filhos, é considerado uma das pessoas mais poderosas da Rússia, dada a sua relação de proximidade com Vladimir Putin, de quem é confidente. Oriundo da Arménia, possui ainda a cidadania russa e finlandesa, Timchenko é proprietário do grupo Volga, especialista em investimentos nas áreas da energia, transporte e infraestruturas.

A sua amizade com Putin data do início dos anos 90, quando o empresário era um comerciante de petróleo em São Petersburgo e Putin um político em ascensão. As suas relações privilegiadas com o presidente colocaram-no na rota das sanções do Ocidente e levaram a que o seu iate, ancorado no porto italiano de Imperia, tenha sido apresado pelas autoridades locais. De acordo com responsáveis do Reino Unido, Timchenko é um dos grandes detentores de ações do Banco Rossyia, o mesmo que desempenhou um papel significativo na desestabilização da Ucrânia após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

Alisher Usmanov é o sétimo milionário russo, com uma fortuna de 18,4 mil milhões de dólares e sendo ele um dos oligarcas da era Putin.

As telecomunicações, o aço e investimentos estão na origem da riqueza deste empresário que nasceu em Chust, Uzbequistão, há 68 anos. Filho de um procurador de estado, Usmanov licenciou-se em direito internacional pelo Instituto de Relações Internacionais de Moscovo com o objetivo de seguir a carreira diplomática. Em 1976, após a licenciatura, juntou-se à família em Tashkent, a capital da então república soviética do Uzbequistão, e foi nomeado diretor da Associação Económica Estrangeira do Comité de Paz soviético. Mas algo correu mal quatro anos depois: é detido, condenado a uma pena de oito anos de prisão por fraude e “roubo de propriedade socialista”. Cumpriu seis anos. Em 2000, a sentença foi anulada pelo Supremo do Uzbequistão, que considerou a acusação como falsa.

Muçulmano, Usmanov casou com uma judia, Irina Verner, ginasta rítmica e próxima de Putin. Os seus interesses são vastíssimos e abarcam vários setores chaves da Rússia, desde a banca, aos média, às comunicações, é dono da segunda maior companhia de telemóveis, a MegaFon, internet. É um dos investidores no Facebook.

Já era milionário quando se deu a implosão da URSS mas depois deste acontecimento, a sua fortuna aumentou consideravelmente. Os seus investimentos ultrapassaram há muito as fronteiras da Rússia. Em 2007, comprou 14,8% do Arsenal, o clube de futebol britânico. Depois, decidiu investir nas artes, tornou-se filantropo mas não hesitou em despedir o diretor da Kommersant Vlast, a revista semanal de que é proprietário, por ter publicado um artigo critico de Putin.

Usmanov possui uma villa na Sardenha, e duas propriedades no Reino Unido. O seu luxuoso iate, Dilbar, avaliado em 600 milhões de dólares, foi apreendido no passado dia 2 em Hamburgo.

Mikhail Fridman também é visado pelas sanções do Ocidente pela sua proximidade a Vladimir Putin. Possuidor de uma fortuna de 15,5 mil milhões de dólares, surge no 11º lugar da lista dos milionários russos. Petróleo, banca – fundou o Alfa Bank, o maior banco privado russo - e telecomunicações estão na origem da fortuna deste oligarca que também fez parte do círculo dos próximos de Boris Ieltsin. Nasceu na Ucrânia há 57 anos mas prefere viver no Reino Unido onde comprou, em 2016, uma mansão por 90 milhões de dólares. Para além das nacionalidades russa e ucraniana, sendo judeu possui ainda a israelita.

Desde 1989 que se aliou a German Khan e Alexei Kuzmichev, amigos do tempo de estudante, com quem criou o Grupo Alfa e o LetterOne, grupo de investimento que controla as redes de supermercados Dia e Minipreço.

Possuidor de uma fortuna da ordem dos 14,5 mil milhões de dólares, Roman Abramovich, de 55 anos, é o 12º homem mais rico da Rússia e integra o grupo de oligarcas da era Putin. E, como tal, alvo das sanções do Ocidente.

Conhecido por ter comprado o clube de futebol Chelsea, que agora procura vender, Abramovich fez a maior arte da sua fortuna no fim da União Soviética; adquiriu ações em empresas de mineração como a Evraz e Norilsk Nickel e possuiu títulos de uma das maiores empresas petrolíferas russa.

É detentor de quatro cidadanias: russa, israelita - porque filho de judeus -, lituana – nasceu na Lituânia – e portuguesa, por ter antepassados judeus sefarditas que fugiram de Portugal.

Abramovich é proprietário do segundo maior iate do mundo, o Eclipse. Protegido por um sistema de defesa antimísseis, tem dois heliportos, três barcos e dois mini-submarinos e está avaliado em 302 milhões de euros.

Mikhail Prokhorov, de 56 anos, é também um oligarca da era Putin e o 14º milionário da Rússia, com uma fortuna de 11,4 mil milhões de dólares conseguida através de investimentos. Preside a uma das maiores empresas de mineração da Rússia, a Polyus Gold. Tem ações no setor bancário, de seguros e na energia. Em 2018 vendeu 49% das ações do seu clube de basket Brooklyn Nets.

De origem judaica, Prokhorov foi candidato à presidência da Rússia nas eleições de 2012 mas apenas conseguiu 8% dos votos, ficando a vitória para Putin.

German Khan é o 17º milionário russo, com 10,1 mil milhões de dólares de fortuna conseguida através do petróleo e das finanças. Nascido na Ucrânia, há 60 anos, casado e pai de quatro filhos, Khan controla o Grupo Alfa e o LetterOne juntamente com Mikhail Fridman e Alexei Kuzmichev, dois dos seus amigos milionários. Foi cofundador do Alfa Bank.

Em 2003, a empresa Tyumen Oil do Grupo Alfa fundiu-se com os ativos russos da BP para formar a TNK-BP. Dez anos depois, os parceiros venderam 25% das suas ações por 14 mil milhões de dólares. Um lucro nada desprezível para este magnata próximo de Putin e detentor das nacionalidades russa, israelita e ucraniana.

Nove mil milhões de dólares é o quanto vale a fortuna de Viktor Vekselberg, o 19º milionário russo. Nascido na Ucrânia, há 64 anos, proprietário e presidente do Grupo Renova, é um próximo do Kremlin onde supervisiona projetos para modernizar a economia russa.

Casado e pai de dois filhos, este oligarca tem quatro cidadanias - russa, israelita, ucraniana e cipriota - e é alvo de sanções dos EUA desde a administração Trump, o que considera como “tragédia pessoal” porque não pode visitar a filha e o neto que vivem em Nova Iorque.

Dmitry Rybolovlev, médico, empresário e investidor, é considerado o 26º milionário russo com a sua fortuna avaliada em 6,7 mil milhões de dólares. Em 1990, após ter terminado o curso de medicina, Rybolovlev optou por se juntar ao pai, cientista, e criar uma empresa de fertilizantes, a Uralkali. Esta transformou-se na maior produtora de fertilizantes de potássio. Em 2010, a empresa foi vendida por 6,5 mil milhões de dólares.

Rybolovlev, de 55 anos e pai de duas filhas, é proprietário da ilha grega de Scorpios mas vive no Mónaco, numa penthouse que adquiriu pela módica quantia de 300 milhões de dólares. É ainda proprietário do clube de futebol As do Mónaco e do clube belga Cercle Brugge.

Pyotr Aven, empresário, economista e politico, fez parte do grupo de oligarcas que rodeava Boris Iletsin e continua a integrar o círculo restrito de Vadimir Putin. Licenciou-se na Universidade Estatal de Moscovo. Em 1989 entra como funcionário no Ministério dos Negócios Estrangeiros e dois anos depois é nomeado para ministro das relações económicas.

É também um dos fundadores do Alfa Bank e membro da direção do Grupo LetterOne, de que foi cofundador em 2013. É o 29º milionário russo, com a fortuna avaliada em 5,3 mil milhões de dólares. Tem 66 anos, dois filhos,

Com os seus 3,8 mil milhões de dólares, Oleg Deripaska surge em 34º lugar na lista dos milionários russos. Aos 54 anos, é o diretor executivo da companhia Basic Element e membro do conselho de administração e CEO da United Company Rudsal, a empresa de alumínio da Rússia.

Órfão de pai ainda pequeno, Deripaska começou a trabalhar aos 11 anos numa fábrica. Isso não impediu que prosseguisse os estudos e, em 1985, matriculou-se na Universidade Estatal de Moscovo para se licenciar em Fisica. Convocado para o exército, interrompeu o curso que só viria a terminar em 1993.

Com amigos que conhecera na universidade fundou uma empresa de mineração, a VTK, mas foi com a queda da URSS e investindo em setores básico que conseguiu fazer grande parte da sua fortuna. No início do século XXI, foi um elemento chave na criação da Ursal, juntamente com Usmanov e Abramovich.

A Basic Element surge com o objetivo de administrar a sua fortuna e os negócios.

Deripaska, que chegou a ser acusados pelos EUA de lavar  dinheiro para Putin, afastou-se recentemente da órbita do presidente russo ao condenar a guerra contra a Ucrânia.

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