Onde está "o carniceiro de Bucha"? A história do tenente-coronel russo que o mundo procura

6 abr 2022, 20:00

Chama-se Azatbek Omubekov, tem cerca de 40 anos e já foi condecorado pelo exército russo por mérito. Liderou o batalhão que ocupou a região de Bucha durante cerca de um mês. Moscovo diz que saiu de território ucraniano

O site ucraniano InformNapalm garante ter encontrado a identidade do tenente-coronel russo que estava à frente do batalhão que ocupou a cidade de Bucha, nos arredores de Kiev, durante cerca de um mês. A página, que indica ser mantida por um grupo de voluntários internacionais, partilhou no Telegram o nome, as fotos, o email e a morada de Azatbek Omubekov, líder do 64º batalhão do exército russo, que esteve na localidade onde foram denunciados massacres cometidos contra civis. 

A página InformNapalm publica regularmente conteúdos sobre a atividade das tropas do Kremlin em território ucraniano. Os autores afirmam ter chegado até Omubekov graças ao uso de software open source, ou seja, ferramentas informáticas de uso livre de direitos de autor e que podem ser usadas pelos internautas. 

Azatbek Omubekov terá cerca de 40 anos - os ativistas não referem uma data de nascimento específica - e pertence à unidade do exército da Federação Russa na região de Khabarovsk, no leste do país. Em 2014, o tenente-coronel recebeu uma medalha de mérito das mãos do vice-ministro da Defesa russo, Dmitry Bulkagov. O momento de entrega da medalha constituía esta quarta-feira uma das poucas fotos disponíveis de Azatbek Omubekov nas redes sociais e em várias publicações internacionais. 

Mas existe outra foto que chama igualmente a atenção. Em novembro de 2021, antes do seu destacamento para território ucraniano, o tenente-coronel recebeu a benção de um padre da igreja ortodoxa russa. A instituição tem sido criticada por não condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia de Vladimir Putin. Críticos do patriarca de Moscovo, Cirilo I, dizem que não fez o suficiente para se distanciar do Kremlin. A "Economist", por exemplo, escreve que a Igreja Ortodoxa russa encara a invasão da Ucrânia como uma "guerra sagrada". 

De acordo com o "Times of London", Azatbek Omubekov terá dito que "a História demonstra que lutamos grande parte das nossas batalhas com as nossas almas" e que "as armas não eram o mais importante," já que "com a benção de Deus" poderiam atingir os mesmos objetivos "que os seus antepassados."

Acusações de genocídio 

O Ministério da Defesa da Federação Russa diz que o batalhão liderado por Aztabek Omubekov deixou Bucha no final de março e que agora se encontra na vizinha Bielorrússia. No entanto, vários serviços secretos ocidentais acreditam que, na realidade, o batalhão do "carniceiro de Bucha" se dirigia para a cidade russa de Belgorod, situada a norte de Kharkiv. As mesmas fontes, citadas pela imprensa britânica e norte-americana, acreditam que Omubekov se encontra em fase de preparação para liderar ataques contra cidades-chave no norte e leste da Ucrânia, nomeadamente Kharkiv. 

Enquanto a Comunidade Internacional condena o que considera, de forma quase unânime, um massacre, Moscovo insiste na "falsidade das imagens" que têm estado a circular em diários, revistas e nos grandes canais de informação de todo o mundo. Conhecidas as imagens, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo disse estar pronto para apresentar o que definiu como "provas empíricas" de que as forças do Kremlin nada tinham a ver com as matanças em Bucha. 

O "New York Times", recorrendo a técnicas de investigação visual, comparou imagens do antes e depois, tendo confirmado o exato posicionamento de muitos dos cadáveres agora descobertos pelas forças ucranianas. Estavam naquelas ruas quando as tropas russas ainda dominavam a zona.

Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, disse na ONU que o sucedido em Bucha assemelha-se a um genocídio, já que as tropas do Kremlin terão agido com intenção de levar a cabo uma limpeza étnica.  As fotografias de cadáveres espalhados ao longo das ruas da cidade recordaram aos europeus a guerra que sucedeu à desintegração da antiga Jugoslávia, nos anos 90, em particular o massacre de Sebrenica - território da atual Bósnia e Herzegovina -, cometido às mãos das milícias da Republika Srpska, em 1992, sob o comando do general Ratko Mladic. Morreram em Sebrenica mais de oito mil bósnios muçulmanos, menores e adultos do género masculino.

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