"Ofertas de emprego são bem-vindas". Quem é o diplomata russo que renunciou ao cargo por sentir “vergonha” do seu próprio país?

23 mai 2022, 20:46

Numa entrevista telefónica ao jornal Guardian, Bondarev confirmou que escreveu a carta que está a ser divulgada nas redes sociais e que fez o pedido de demissão esta segunda-feira

Esta segunda-feira ficou marcada pela carta de demissão de um diplomata veterano russo da delegação da ONU, que justificou a decisão por sentir “vergonha” pelo seu próprio país desde o início da invasão da Ucrânia.

Boris Bondarev, de 41 anos, trabalha no Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia desde 2002, essencialmente como conselheiro para a não-proliferação nuclear. Em 2013 foi chefe da delegação russa nas Reuniões de Peritos Técnicos do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, antes de rumar até Genebra para assumir o cargo de conselheiro para a missão russa nas Nações Unidas.

Uma fotografia tirada ao passaporte de Boris Bondarev, com a permissão do mesmo (Boris Bondarev via AP)

O nome de Bondarev aparece, aliás, no site oficial da ONU entre os restantes nomes da missão permanente da Federação Russa para as Nações Unidas e outras organizações em Genebra.

De acordo com o perfil de LinkedIn de Bondarev, o diplomata diz ser especialista em "controlo de armas, desarmamento e não-proliferação". Bondarev diz ainda que as suas principais áreas de interesse são "a não-proliferação de mísseis e de UAV (Unmanned Aerial Vehicle, um tipo de drone) e políticas de sanções nesta área".

"Estudei para ser um diplomata e sou diplomata há 20 anos. O Ministério [dos Negócios Estrangeiros da Rússia] tem sido a minha casa e a minha família. Mas não consigo simplesmente continuar a partilhar esta ignomínia sangrenta e absolutamente desnecessária", disse na publicação em que anuncia a sua demissão da missão permanente da Federação Russa da ONU.

A carta de demissão que disse ter enviado para cerca de 40 diplomatas e outros funcionários da ONU em Genebra está a ser divulgada nas redes sociais, e Bondarev confirmou ao The Guardian que a imagem é fidedigna.

Em entrevista ao The Guardian, Bondarev disse que "a decisão foi muito simples". "Quando vês que o teu país está a fazer as piores coisas e, sendo um funcionário público, estás de alguma forma relacionado com isso, a decisão de terminar a tua ligação ao governo só pode ser tomada por ti. Todos devemos ser responsáveis. E eu não quero ter qualquer responsabilidade por algo que não aprovo", disse o diplomata, citado por aquele jornal, referindo-se à guerra na Ucrânia.

Na verdade, acrescentou, a decisão de pedir a demissão foi tomada no dia 24 de fevereiro deste ano, dia em que começou a invasão russa da Ucrânia. "Mas levou algum tempo para conseguir reunir alguma determinação para a anunciar”, admitiu.

No seu perfil oficial do LinkedIn, Bondarev admitiu não ter agora planos futuros para a sua carreira profissional. "Ofertas de emprego são bem-vindas", disse, no final da publicação de demissão do cargo de diplomata na ONU.

De acordo com o Politico, Bondarev é o segundo funcionário de alto nível da Rússia a apresentar publicamente a sua demissão desde o início da guerra. No passado dia 23 de março, há precisamente um mês, Anatoly Chubais, conhecido como “O Pai dos Oligarcas”, abandonou o cargo que ocupava desde 2020 como representante especial de Vladimir Putin junto das organizações internacionais, sem adiantar, contudo, um motivo para a decisão. Mas, de acordo com a Reuters, a demissão terá sido em protesto contra a invasão da Ucrânia.

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