O que os russos deixaram para trás em Izium - e que vai ser muito útil à Ucrânia

14 set 2022, 18:13

Libertação da cidade foi muito celebrada e nas redes sociais multiplicam-se os vídeos dos militares no local, que esta quarta-feira foi visitado por Zelensky

A inesperada contraofensiva da Ucrânia no nordeste do país precipitou uma retirada da Rússia de quase toda a região de Kharkiv. Uma das cidades “libertadas” por Kiev foi Izium, de onde as tropas russas saíram tão rapidamente que deixaram vários equipamentos para trás, desde mantimentos alimentares até importantes dispositivos militares.

Vários vídeos que têm surgido nas redes sociais, e que foram verificados pelo The Washington Post, mostram as tropas ucranianas com máquinas de guerra, algumas degradadas, mas muitas em bom estado. Aquelas que estavam em pior estado foram utilizadas para sinalização, com os ucranianos a fazerem fumo junto dos veículos, para que as forças que vinham atrás soubessem a direção em que deviam ir. Noutros casos poderão ter sido os próprios russos a danificar os veículos.

Apesar de o cenário ser idêntico noutros locais, como Balakliia ou Kupiansk, foi em Izium, cidade estratégica um pouco a sul de Kharkiv, e que servia de rota para transportes russos, que se encontraram mais vestígios da presença russa.

“A retirada começou do lado russo muito rápido, assim que perceberam que as ligações entre as autoestradas e as linhas de comboio tinham sido cortadas”, refere o investigador do Royal United Services Institute, Justin Bronk, em declarações ao The Washington Post, sublinhando que Izium também era um importante posto de manutenção do exército russo.

Um vídeo partilhado pelos serviços de informação do Ministério da Defesa da Ucrânia mostra um tanque russo a ser tomado pelos ucranianos, sendo que aquela conta refere ainda que o veículo será "outra parte de uma exposição futura".

Ao que tudo indica, a saída russa foi de tal forma rápida que nem sequer houve tempo para sabotar os tanques operacionais, que assim ficam ao dispor dos soldados ucranianos. É isso que leva alguns soldados, em muitos dos vídeos publicados, a dizerem “todos temos direito a um tanque”.

O tenente-general Ben Hodges refere ao jornal norte-americano que as tropas russas poderiam estar à espera de ordens para uma nova missão ou que podiam só ter parado no local para um reabastecimento, acabando surpreendidos com a chegada dos ucranianos. Só isso explica que tenham saído sem sabotar os veículos, com o militar a admitir a hipótese de que os russos tenham escapado do local a pé ou em carros mais leves, de modo a evitar a deteção.

“Se sais de um tanque para escapar, é porque pensas que o tanque é um alvo”, acrescenta o especialista.

Mas não foram apenas tanques que ficaram para trás. As imagens recolhidas no local (algumas na galeria associada ao artigo) mostram que os russos deixaram armas, como Howitzers, um obus amplamente utilizado pelos russos. Outras imagens mostram ainda armamento mais pesado, nesse caso destruído, o que indica que os russos foram ali atingidos durante a batalha. Um outro vídeo mostra ainda um lançador de mísseis TOS-1A.

Um vídeo desse equipamento foi partilhado pelo conselheiro presidencial, Anton Gerashchenko.

Zelensky de visita a Izium 

Numa rara saída de Kiev, o presidente da Ucrânia apareceu esta quarta-feira em Izium. Durante a visita à cidade, Volodymyr Zelensky participou numa cerimónia em que a bandeira ucraniana foi hasteada e saudou os soldados que participaram na operação de libertação.

A cerimónia, que começou com um minuto de silêncio em homenagem aos soldados que morreram durante a recaptura da cidade, contou também com a presença da vice-ministra da Defesa, Hanna Malyar, bem como de vários representantes das Forças Armadas ucranianas.

Zelensky visita tropas que libertaram Izium (AP)

Na contraofensiva ucraniana, mais de 300 localidades foram já recapturadas pelas forças de Kiev na região do nordeste do país, de onde as forças russas já se retiraram quase por completo.

Izium, com cerca de 45 mil habitantes antes do início da guerra e que se situa a cerca de 120 quilómetros a sudeste da capital regional, Kharkiv, era um posto de importância crucial para as tropas russas, que controlavam as cidades que conduziam à região de Lugansk.

Após a retirada das forças russas, o exército ucraniano assumiu o controlo de Izium, em 10 de setembro.

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