O que é a Reserva Estratégia de Petróleo dos Estados Unidos e porque é que Biden quer usá-la para combater a Rússia?

CNN Portugal , David Goldman e Matt Egan
2 mar 2022, 15:34
Joe Biden

O conflito na Ucrânia é exatamente aquilo para que a reserva foi projetada: para amortecer o mercado contra os choques de oferta relacionados com a segurança nacional. Mas não é uma solução a longo prazo.

A Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA, conhecida pela sigla SPR, é um complexo subterrâneo de armazenamento de combustível que serve como alternativa para suprir o mercado em alturas de crise, construído na costa do Golfo do Texas e do Louisiana.

No total, a SPR contém atualmente, em quatro localizações diferentes, cerca de 600 milhões de barris de crude. E estão prestes a ficar 30 milhões de barris mais leves.

A administração Biden, em conjunto com os outros 30 países membros do conselho de administração da Agência Internacional de Energia, autorizou a libertação de 60 milhões de barris das reservas de petróleo de emergência para evitar a escalada dos preços resultante da invasão russa da Ucrânia. Metade desse petróleo sairá da SPR.

O Ocidente espera que o aumento de oferta ao mercado global de energia coloque um travão nos preços do petróleo. Embora a Rússia não tenha cortado o fornecimento para o resto do mundo - e os analistas de mercado não esperam que isso aconteça - os preços do petróleo subiram acima dos 100 dólares por barril nas últimas semanas. O petróleo russo tornou-se tóxico para muitos negociadores de petróleo, que dizem ter problemas em obter financiamento de bancos ocidentais para comprá-lo.

Se o presidente russo, Vladimir Putin, decidir restringir as remessas de petróleo, mesmo que em pequena quantidade, isso poderá fazer disparar os preços globais. A SPR continua a ser uma ferramenta na caixa de ferramentas do presidente Joe Biden para contrabalançar as restrições na oferta.

Mas não é perfeito. Na verdade, pode nem provocar danos.

Afinal, o que é a SPR?

A SPR foi criada no rescaldo da apreensão de petróleo árabe de 1973-74, quando os países produtores de petróleo do Médio Oriente interromperam as exportações. Com a escassez de petróleo e gasolina, os preços da energia dispararam e a economia dos Estados Unidos entrou em recessão.

Em 2009, a SPR contava com um número recorde de 727 milhões de barris de petróleo, mas, ao longo da última década, os Estados Unidos têm vindo a reduzir gradualmente a capacidade máxima da reserva, que entretanto diminuiu para os 714 milhões de barris.

Destinada a isolar os Estados Unidos de abalos na oferta, tem sido mais usada como uma ferramenta política para os presidentes que enfrentam eleitores irritados quando os preços da gasolina estão altos.

Por exemplo, Biden libertou 50 milhões de barris em novembro – a maior saída de barris da SPR alguma vez registada - quando os preços da gasolina rondavam os 0,92 dólares por litro.

A administração Obama desbloqueou 30 milhões de barris (o recorde anterior), em 2011, quando o petróleo chegou aos 100 dólares por barril. A administração de George W. Bush libertou 20,8 milhões de barris em 2005, pouco antes de o furacão Katrina atingir a costa do Golfo.

Porque é que a SPR não fará grande diferença no mercado?

O consumo de petróleo, ao nível mundial, ascende aos 100 milhões de barris por dia. Embora 60 milhões de barris possam parecer muito, esse número é o que é consumido em cerca de 16 horas.

Os investidores do petróleo, que não se mostraram impressionados com o plano da Agência Internacional de Energia, responderam com o aumento do valor dos barris. O petróleo atingiu um novo máximo dos últimos sete anos, na terça-feira.

“A conclusão é que isto não é suficiente para acalmar o mercado. É como um penso-rápido”, disse Michael Tran, diretor de estratégia global de energia da RBC Capital Markets.

O petróleo dos EUA subiu cerca de 10% na manhã de terça-feira, para um máximo de 105,14 dólares por barril. É o nível mais alto desde 2014. O Brent, referência mundial, subiu cerca de 8%, para os 105,40 dólares por barril.

“É preciso aumentar os números [do que sai da SPR]”, disse Robert Yawger, vice-presidente do departamento Energias do Futuro na Mizuho Securities.

Em novembro, quando a administração Biden libertou uma quantidade recorde de petróleo da SPR, os preços caíram um pouco – e tombaram quando a variante Ómicron impediu novamente as pessoas de viajar. Mas, em poucos meses, os preços da energia estavam de volta ao ponto de partida.

“Libertámos 50 milhões de barris e o mercado atropelou-os como um comboio. Não sei porque seria diferente agora”, disse Yawger.

Ainda assim, executivos e analistas do setor de energia admitiram que o conflito na Ucrânia é exatamente aquilo para que a SPR foi projetada: para amortecer o mercado contra os choques de oferta relacionados com a segurança nacional. “É melhor do que não fazer nada”, acrescentou Yawger.

Mas não é uma solução a longo prazo. As reservas de emergência apenas podem conter uma quantidade finita. Na verdade, a SPR detém neste momento a menor quantidade de petróleo desde setembro de 2002, segundo estatísticas do governo.

Matt Smith, analista de petróleo da Kpler para as Américas, disse que os desbloqueios de emergência são indiscutivelmente otimistas do ponto de vista do sentimento do mercado. Mas têm um preço.

“Sempre que os EUA anunciam uma libertação da SPR, é uma bala a menos que poderiam usar mais tarde", concluiu Smith.

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