O homem do boné, o do cromossoma, o do escândalo sexual, o poliglota - quem são os 11 que estão a negociar em nome de Putin e Zelensky?

3 mar 2022, 08:00
Primeiro dia de negociações Rússia - Ucrânia (AP)

Está prevista nova ronda de negociações para esta quinta-feira. A anterior, no início da semana, resultou em muito pouco (ou até nada)

A equipa diplomática russa garante que o cessar-fogo vai estar em cima da mesa durante as negociações que estão agendadas para esta quinta-feira na Bielorrússia entre representantes russos e ucranianos. De acordo com a agência AFP, o exército russo vai criar um corredor de segurança para os diplomatas ucranianos. 

Putin enviou cinco homens e Zelensky mandou seis. Os 11 vão estar sentados à mesa a tentar chegar a um acordo. Entre os escolhidos estão um político que se viu envolvido num escândalo sexual, um conselheiro que acredita que os russos têm um cromossoma a mais, um advogado famoso, um poliglota e um político que gosta de aparecer de boné.

Os russos

Vladimir Rostislavovich Medinsky

Este conselheiro de Vladimir Putin tem 51 anos e é um político, professor e publicitário russo. É membro do Conselho Geral do partido Rússia Unida. Filho de uma médica e de um militar. O pai foi coronel do exército, tendo participado na invasão da antiga Checoslováquia em 1968 e na guerra do Afeganistão. Medinsky foi ministro da Cultura entre 2012 e 2020 mas a sua nomeação gerou controvérsia. Numa entrevista em 2012 ao jornal RussKaya Zhizn, disse que o povo russo tem um cromossoma-extra por ter sobrevivido a tantas catástrofes. Defensor da retirada de Lenine do Mausoléu, viu-se envolvido numa polémica devido a duas das suas três teses sobre Ciência Política, tendo sido alvo de acusações de plágio.

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Alexander Fomin

É o ministro da Defesa da Federação Russa desde 2017 e tem 62 anos. Em janeiro foi um dos que integraram a comitiva enviada por Vladimir Putin à reunião do Conselho da NATO/Rússia, que decorreu em Bruxelas e que já tinha como objetivo reduzir a tensão entre Moscovo e o Ocidente, depois de a Rússia ter enviado um contingente militar para uma zona próxima da fronteira com a Ucrânia. Fomin foi autor de várias frases que nos tempos que antecederam a invasão deram sinais da estratégia em Moscovo. “A Aliança Atlântica passou à prática das provocações diretas, o que envolve um elevado risco de escalada num conflito militar”, avisou. O coronel-general é poliglota, sendo fluente em português, espanhol, inglês e crioulo. Nasceu em Leninogorsk, no Cazaquistão. Formou-se em 1984 na Universidade Militar do Ministério da Defesa da Rússia. Cumpriu o serviço militar entre 1977 e 1993.

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Leonid Slutsky

É o homem que aos 54 anos lidera a comissão dos assuntos externos do Parlamento Russo (Duma). Esteve envolvido numa polémica de assédio sexual em 2018 quando foi alvo de acusações de quatro jornalistas. Duas chegaram a prestar depoimentos na comissão de ética do parlamento sobre o alegado assédio sexual, mas Slutsky foi absolvido. Uns tempos depois, o aliado de Putin fez uma publicação no Facebook em que dizia: “Aproveito esta oportunidade para pedir perdão a todas as mulheres a quem tenha causado más experiências, voluntária ou involuntariamente. Acreditem que não tinha más intenções”. É membro do Partido Liberal Democrata da Rússia.

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Andrey Rudenko

É o ministro dos Negócios Estrangeiros russo. Tem 60 anos e move-se nos circuitos dos Negócios Estrangeiros desde 1985, tendo ocupado vários cargos. Em fevereiro, quando a Alemanha anunciou que ia suspender o processo de certificação do gasoduto Nord Stream 2, após os avanços da Rússia na Ucrânia, Rudenko reagiu assim: “Moscovo não acredita em lágrimas”. Nasceu em Moscovo e é formado em Relações Internacionais pela Universidade de Moscovo. Entre as pastas que tem de gerir estão as relações com duas regiões que se declararam independentes e que Moscovo reconheceu: a Abkhazia, uma república no norte da Geórgia, e Tskhinvali, a capital da região georgiana da Ossétia do Sul.

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Boris Gryzlov

Embaixador russo para a Bielorrússia, é um dos grandes aliados de Vladimir Putin. É engenheiro e até 1999 não era uma figura pública. Depois de se licenciar em engenharia, em 1973, trabalhou como engenheiro de rádio e pouco depois tornou-se diretor de uma fábrica. Mas em 1999 envolveu-se em cargos políticos e teve uma rápida ascensão até ao círculo de poder russo. Começou na divisão regional do partido Unidade de Sergiuei Choigu e um mês depois, em dezembro, foi eleito para o parlamento russo. Tornou-se ministro do Interior, assumiu a presidência do Rússia Unida, o partido que dá apoio ao presidente russo, e dirigiu o parlamento. Em 2011 renunciou a este cargo, atitude que foi vista como uma forma de aliviar as acusações de fraude eleitoral nas eleições parlamentares de 4 dezembro de 2011. Tem 71 anos.

Os ucranianos

Davyd Arakhamia

Dirigente do partido Servos do Povo, tem 42 anos e é considerado uma das "100 pessoas mais influentes da Ucrânia". Faz parte do círculo de políticos que se mantêm com Zelensky em Kiev. Nasceu em Sochi, na União Soviética, e morou na Geórgia até 1992, quando se mudou com os pais para a Ucrânia. Licenciou-se em Economia e fundou várias empresas de tecnologia. Em março de 2014, Arakhamia, juntamente com amigos, criou um site para angariar fundos para os equipamentos dos paraquedistas da 79ª Brigada Aeromóvel. Em agosto desse ano foi nomeado conselheiro do governador de Mykolaiv Oblast e, depois, em outubro, chegou a conselheiro do ministro da Defesa. David Arakhamia ficou conhecido por, no primeiro dia das negociações, ter aparecido de boné na cabeça.

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Rustem Umerov 

É um político, empresário, investidor e filantropo ucraniano, muçulmano de origem tártara da Crimeia. Filho de um engenheiro de tecnologia e de uma engenheira química, Rustem Umerov estudou Economia e Finanças e, antes de ser eleito deputado do parlamento em 2019, foi fundador e CEO da ASTEM Company, empresa especializada em comunicações, tecnologia e infraestruturas. Enquanto deputado foi coautor de quase 100 projetos-lei. Rustem Umerov é secretário do comité parlamentar sobre Direitos Humanos, Desocupação e Reintegração dos Territórios Ocupados Temporariamente. Desde dezembro de 2020, é também copresidente da Plataforma da Crimeia, iniciativa do presidente Zelensky cujo objetivo é procurar uma via diplomática para a desocupação russa e reintegração da Crimeia.

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Mykola Tochytskyi

Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros desde setembro de 2021, Tochytskyi tem uma longa carreira na diplomacia. Foi embaixador extraordinário junto da Bélgica e do Luxemburgo e é o responsável pela missão diplomática da Ucrânia junto da União Europeia e da Comunidade Europeia da Energia Atómica.

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Andriy Kostin 

É vice-chefe do Grupo de Contacto Trilateral sobre a Ucrânia, que inclui representantes da Ucrânia, da Rússia e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, formado para facilitar uma solução diplomática para a guerra na região do Donbass, na Ucrânia.

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Oleksii Reznikov 

Ministro da Defesa ucraniano desde 4 de novembro de 2021, Reznikov é advogado e político, tendo já ocupado, entre outros, os cargos de vice-primeiro-ministro, ministro para a Reintegração dos Territórios Ocupados Temporariamente da Ucrânia. Em 2020 foi escolhido pelo presidente Volodymyr Zelensky para representar a Ucrânia no subgrupo político do Grupo de Contacto Trilateral para debater um acordo para a guerra no Donbass. Atualmente com 55 anos, Oleksii Reznikov  nasceu em Lviv e foi um dos fundadores, em 1997, da Magisters, firma de advogados que em em 2009 e em 2010 ganhou o Chambers Europe Award e foi também eleita pela revista britânica The Lawyer como o melhor escritório de advogados da Rússia e Comunidade de Estados Independentes. Como advogado, Reznikov defendeu o então candidato presidencial Viktor Yushchenko perante o Supremo Trubunal da Ucrânia, fazendo com que a terceira volta das presidenciais de 2004 fossem anuladas. Em 2014, Reznikov  viu a sua a licença de advocacia suspensa devido à sua nomeação como secretário da Câmara Municipal de Kiev.

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Mykhailo Podoliyak

Conselheiro da presidência ucraniana.

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