Pode o telefonema de Putin ter atraído Trump para mais perto do Kremlin?

CNN , Análise de Matthew Chance, Coordenador de Assuntos Globais
17 out, 07:42
O Presidente Donald Trump e o Presidente russo Vladimir Putin chegam para uma conferência de imprensa na Base Conjunta Elmendorf-Richardson, a 15 de agosto, em Anchorage, Alasca. Andrew Harnik/Getty Images

 

 

 

O timing é tudo na diplomacia, e o Kremlin parece ter cronometrado na perfeição a sua mais recente e longa chamada telefónica com a Casa Branca - a oitava nos últimos oito meses.

Com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prestes a reunir-se com o líder ucraniano Volodymyr Zelensky, em Washington, e a ponderar publicamente os riscos de fornecer a Kyiv mísseis de cruzeiro Tomahawk de longo alcance, responsáveis russos descreveram a chamada que iniciaram como “positiva e produtiva” e “realizada num ambiente de confiança”.

Na realidade, tratou-se de uma intervenção de quase duas horas e meia do Presidente Vladimir Putin - uma tentativa de última hora para travar todo aquele discurso perigoso sobre o potencial envio de armamento norte-americano que poderia mudar o rumo da guerra na Ucrânia.

Os Tomahawk - que têm alcance suficiente para atingir grandes cidades russas como Moscovo e São Petersburgo - não teriam qualquer impacto significativo no campo de batalha, terá sublinhado Putin durante a chamada com Trump. Apenas prejudicariam a relação entre os Estados Unidos e a Rússia, acrescentou, algo que sabe ser extremamente valorizado por Trump.

Segundo um assessor do Kremlin, Putin também elogiou Trump como pacificador no Médio Oriente e além.

Foram novamente sugeridos acordos económicos e - de forma crucial - chegou-se a um acordo para uma segunda cimeira presidencial presencial, desta vez em Budapeste, Hungria, onde o fim da guerra na Ucrânia poderia voltar a ser discutido, mesmo que não acordado.

Isso inevitavelmente suscitará comparações com a fracassada cimeira do Alasca há apenas alguns meses, quando Trump deu a Putin uma receção de tapete vermelho, mas não obteve resultados concretos nos seus esforços por um acordo de paz na Ucrânia.

Agora, porém, encorajado pelos seus feitos na intermediação de um cessar-fogo em Gaza e na libertação de reféns israelitas, Trump sugeriu que o seu sucesso no Médio Oriente, contra todas as probabilidades, ajudará a pôr fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

De que forma, continua a ser incerto. O Kremlin não deu qualquer indicação de estar disposto a ceder. Apesar do aumento das baixas no campo de batalha e da intensificação dos ataques de drones ucranianos contra a infraestrutura energética russa, que têm provocado escassez de combustível em todo o país, a Rússia tem recusado sistematicamente pôr fim à guerra na Ucrânia antes de atingir os seus objetivos maximalistas.

Entre esses objetivos estão o controlo sobre vastas áreas de território ucraniano anexado ainda não conquistado e a imposição de rígidos limites militares e de política externa a uma Ucrânia pós-guerra que, na prática, submeteria Kyiv à vontade de Moscovo.

Nada na mais recente chamada telefónica entre Trump e Putin sugeriu que algo disso tivesse mudado.

Mas, ao longo dos últimos nove meses desta segunda administração Trump, o Kremlin também aprendeu que oferecer envolvimento pessoal e a possibilidade de uma vitória de curto prazo pode ser tão eficaz quanto qualquer compromisso doloroso.

Responsáveis ucranianos, reunidos em Washington, dizem que foi a discussão sobre os Tomahawk que forçou Putin a regressar ao diálogo.

Isso pode ser verdade. Mas o cálculo em Moscovo é que a mera perspetiva de progressos nas conversações de paz pode ser suficiente para atrair Trump, ávido por um acordo, a abandonar as suas ameaças militares.

E.U.A.

Mais E.U.A.