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Professor Universitário e Doutor em Cibersegurança

A Nova Ordem Digital. A trama adensa-se e descobrem-se as verdades...

28 fev 2022, 12:57

A Nova Ordem Digital é uma rúbrica para ler na página da CNN Portugal

No meio do conflito onde a informática tem no campo da estratégia e da tática de guerra um papel idêntico ao que se vê no terreno militar, o mundo do hacktvismo levanta-se para movimentar para dentro das fronteiras da Ucrânia e da Rússia, aquilo que a Nato e os vizinhos europeus temem fazer.

Antes dos grupos de hackers altamente competentes e organizados terem arrancado para as trincheiras domésticas que são as caves por eleição e excelência, foram e continuam a ser os grupos de especialistas em OSINT (Open Source Intelligence) que direcionaram os seus esforços para dar olhos com precisão às forças ucranianas. Recorrendo a cameras de vigilância particulares e públicas espalhadas por todo o lado e a outras colocadas por pedido ao povo ucraniano, um interminável grupo de olhos muito bem preparados juntou as imagens recolhidas pela população via smartphone às das cameras espalhadas pelo terreno, e identificam no Google Maps os locais precisos onde estão localizados os recursos militares e ataques efetuados pelos russos.

Desta forma, e com recurso a grupos no Signal e no Telegram pois o WhatsApp não lhes inspira confiança e a mim também não, fizeram e continuam a fazer chegar a informação a quem dela necessita. O resultado são as fileiras de maquinaria russa abatida nas estradas perto de Kyiv. O resultado fica à vista de todos quando uma nação não capitula e consegue manter-se viva após uma noite de incursão intensa do exército opositor. Chegada a manhã, volta a luz do dia, voltam os olhos de todo o mundo e afasta-se o agressor; missão cumprida.

Mas o que estamos a ver não é uma moeda sem troco. Hoje o Twitter, que tem estado a eliminar o OSINT russo da sua plataforma, emitiu um alerta com medidas de segurança reservadas ao público ucraniano em geral. Os destinatários principais da mensagem são grupos de OSINT Pró-Ucrânia que estão a trabalhar no terreno digital e que estão a ser alvo de tentativas de roubo das contas. Quem tiver tempo e paciência pode colocar no Twitter a #OSINT e ficará espantado com a qualidade da informação.

A investida dos grupos sociais é tão bem sucedida que o exército russo está atento a qualquer camera de vigilância ou outra parecida que se encontre em zonas de passagem sua, aplicando todos os esforços para as abater / remover e tentar identificar quem as colocou. Geraram-se imensos pop-up fóruns na DeepWeb onde a informação pode ser trocada de forma segura em grupos secretos e anónimos, onde se entra por convite para evitar olhos e dedos alheios, e onde se entra em debate sobre onde está o tanque, o pilar, a ponte, a rua. Chega-se ao distrito, à zona, à rua e ao ponto preciso. A seguir faz-se história.

Como parte das ações ocultas de apoio à Ucrânia entrou em campo a malfadada (para alguns) organização civil de hackers, os “Anonymous”. Quem sabe quem são, rapidamente se recordará dos ataques famosos à Coreia do Norte, ao Irão, aos movimentos pedófilos e mais recentemente à Igreja da Cientologia, sob o lema que informa que são uma legião, que garante que não perdoam, não se esquecem e que os devem esperar.

Este grupo espalhou a sua tradicional mensagem de combate pela DeepWeb e pela web convencional, reunindo os esforços e recursos necessários para atacar a Rússia. Para espanto de todos o website do Kremlin, o congénere da Casa Branca, caiu redondamente no chão. Ter-se-á levantado, voltando a cair para depois se voltar a levantar, mas sem antes ficar enlameado e espantado, típico na reação de um bully esbofeteado.

O que conseguimos aprender com estes tempos recentes é que não há espaço de manobra para relaxar na segurança informática e que uma nova ordem mundial se está a estabelecer fora das sombras. Do lado da Rússia, os supostos grupos que não estavam ligados ao governo saíram da toca e mostraram as suas cores e missão; crime organizado que andou a extorquir mundo e meio para encher os cofres de Moscovo, algo que esmiuçarei no texto de amanhã.

Antes de me despedir deixo uma nota adicional relativamente à “DeepWeb e à DarkNet”. Apesar de ser usada para ocultar atividades ilícitas, a génese do TOR (The Onion Router) é poder ajudar quem necessita ultrapassar a censura e as adversidades à comunicação. Essa é a alma do TOR Project, do I2P e do POSMASWEB. Bem hajam.

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