Nem ONU nem G7. EUA não querem que ninguém diga que há uma "agressão russa" à Ucrânia

20 fev, 19:15
Elon Musk, Donald Trump, Vladimir Putin e JD Vance (Munich against Hate/EPA)

Administração Trump recusa condenar a Rússia nas instâncias internacionais, deixando a Ucrânia mais sozinha nas negociações que já decorrem

Os Estados Unidos não vão apoiar uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que vai assinalar os três anos de guerra na Ucrânia, a 24 de fevereiro, em mais uma decisão que confirma que a administração Trump se está a distanciar do apoio a Kiev, enquanto começa a estreitar relações com Moscovo.

De acordo com a agência Reuters, que cita três fontes diplomáticas, o governo norte-americano decidiu não assinar a resolução que vai defender a integridade territorial da Ucrânia e que vai voltar a pedir a saída das tropas russas do país invadido.

Num dos pontos, o da integridade territorial, Donald Trump já deixou bem clara a sua posição: a Ucrânia não vai recuperar todo o território perdido, nomeadamente no Donbass, muito menos a península da Crimeia, que Kiev continua a exigir, apesar da anexação ocorrida em 2014.

De acordo com a Reuters, a resolução vai pedir uma “desescalada, um fim breve das hostilidades e uma resolução de paz na guerra contra a Ucrânia, em linha com a Carta das Nações Unidas e o direito internacional”.

Pede ainda uma “aplicação total das resoluções adotadas em resposta à agressão contra a Ucrânia”, além da saída “imediata, total e incondicional das forças militares da Rússia do território da Ucrânia”.

Em paralelo, a administração Trump decidiu também que os Estados Unidos vão ficar fora de um comunicado do G7 que vai apelidar a Rússia de aggressor. Segundo o Financial Times, que cita cinco fontes ocidentais, até a participação do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na reunião está em risco, depois das recentes quezílias entre Kiev e Washington DC.

O grupo que junta as maiores economias mundiais costuma emitir comunicados em datas importantes da guerra, como será 24 de fevereiro, mas os enviados de Trump estão a bloquear a nova nota, nomeadamente por causa da expressão “agressão russa”. “Os americanos estão a bloquear essa linguagem, mas ainda estamos a trabalhar e esperamos um acordo”, referiu um responsável ao jornal britânico.

Donald Trump está a tentar terminar com a guerra o mais rápido possível, mas isso tem significado uma maior aproximação à Rússia e um colocar da Ucrânia em aparente segundo plano, o que ganhou força com críticas do presidente norte-americano a Volodymyr Zelensky, a quem chamou de “ditador”, além de ter dito que foi responsável pelo início da guerra.

Os aliados ucranianos, com os Estados Unidos de Joe Biden à cabeça, têm reiterado o apoio a Kiev nestas datas redondas, condenando sempre a Rússia e aquilo que entendem ser uma invasão em larga escala. Agora parece haver uma clara e marcada mudança da posição norte-americana.

No caso da ONU, os países podem decidir apoiar ou não uma resolução até à data do voto, que acontece na próxima segunda-feira na Assembleia-Geral composta por 193 Estados-membros. Embora não sejam vinculativas, este tipo de resoluções ajuda a marcar uma agenda política e a refletir a visão global sobre um assunto.

“Nos últimos anos, os Estados Unidos apoiaram constantemente resoluções deste género para apoiar uma paz justa na Ucrânia”, lembrou uma das fontes da agência Reuters.

Não parece ser o caso desta vez.

E no G7 a situação é semelhante. O comunicado deve sair na próxima segunda-feira, mas os Estados Unidos também não parecem dispostos a colocar lá a sua assinatura. O mais recente comunicado do grupo foi assinado por todos os ministros dos Negócios Estrangeiros há uma semana. Embora não referisse a “agressão russa”, falava numa “guerra devastadora da Rússia na Ucrânia”.

E.U.A.

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