A prioridade deste pai é arranjar uma casa para a família ficar nos próximos meses. E depois sim, partir para lutar pelo seu país
Nazar R. traz um boné amarelo, uma das cores da pátria. A filha, Vikoria, de sete anos, segue no meio. Entre ele e Iryna, a mulher. É uma das primeiras vezes que pisam a Avenida da Liberdade, em Lisboa, a cidade que escolheram para fugir à guerra. Estão aqui há dois dias.
Foi preciso cruzar parte do mundo até chegarem a este destino improvisado. No mesmo dia em que a Rússia lhes invadiu o país natal, esta família tinha voo de regresso marcado para Kiev. Estavam no Sri Lanka, a trabalhar à distância durante o inverno, porque a tecnologia é a especialidade de Nazar. Mas, com o visto a acabar, havia que voltar a casa.
Só que o voo acabou cancelado. E nenhuma alternativa servia, com o espaço aéreo ucraniano fechado a voos civis. O primeiro local que lhes surgiu foi Portugal, onde tinham passado férias há uns meses. Nazar comunica em inglês, Iryna e Viktoria não sabem outra língua além do ucraniano. Mas sentiram a “simpatia e o lado descomplicado” dos portugueses.
Chegar aqui, depois de uma escala no Dubai, é “uma sorte”. Porque se a viagem inicial tivesse acontecido, com a lei marcial Nazar não poderia deixar a Ucrânia para colocar a família em segurança. “A minha família está segura. A minha filha pode viver num país pacífico. E isso é o principal.”
A prioridade agora é arranjar uma casa para que a mulher e a filha possam passar pelo menos os próximos dois ou três meses em Portugal. E para que a mãe e a sogra, abrigadas numa cidade do oeste da Ucrânia onde se espera que Putin não chegue, possam juntar-se. Depois desse passo, Nazar R. sabe para onde quer ir, por muito que a esposa o tente demover dessa vontade.
“Quero trazer a minha família para Portugal e ir lutar para a Ucrânia. Eles precisam de toda a gente possível. Não tive treino militar, mas sei como disparar. Vejo muitas mulheres que nunca tiveram armas nas mãos. Se elas conseguem, eu também consigo”, explica este homem de 41 anos.
Nazar é o único que trabalha. Muito do dinheiro que tem está bloqueado na Ucrânia, mas há poupanças que permitem segurar a família enquanto Nazar estiver a combater o inimigo russo. De Kiev, a cidade onde viviam, vão chegando pelos amigos e pelos ecrãs relatos de destruição. “É inacreditável. A nossa cidade tornou-se um local de catástrofe. É difícil ver pela televisão. Nem imagino o que será viver lá.”
Mas está disposto a ir ver com os próprios olhos, para não abandonar os amigos e compatriotas. Não quer ser um desertor. “Esperamos que esta situação, que esta guerra, termine muito depressa. Que o mundo se levante para fazer algo. Acredito que vamos vencer”. Viktoria, o nome que o move.