A CNN já tinha noticiado que o Irão tinha recentemente transferido mísseis balísticos de curto alcance para a Rússia, para serem utilizados na guerra contra a Ucrânia
Um navio de carga russo suspeito de transportar mísseis balísticos iranianos para a guerra de Moscovo contra a Ucrânia foi visto num porto russo no Mar Cáspio há uma semana, segundo imagens de satélite obtidas pela CNN.
O navio - o Port Olya 3 - foi identificado pela Maxar Technologies em imagens de satélite tiradas a 4 de setembro no Porto Olya em Astrakhan. O navio tinha estado anteriormente no porto iraniano de Amirabad a 29 de agosto, de acordo com os dados de localização do navio. O mesmo desligou o seu transponder algures depois disso.
O Departamento do Tesouro dos EUA determinou na terça-feira que o Ministério da Defesa russo tinha “utilizado o navio Port Olya-3 para transportar CRBMs do Irão para a Rússia”.
“No início de setembro de 2024, a Rússia recebeu o primeiro carregamento de CBRM (mísseis balísticos de curto alcance) do Irão”, declarou o Tesouro, ao anunciar sanções contra o Port Olya 3, juntamente com outros navios e vários indivíduos iranianos.
A CNN noticiou no passado fim de semana que o Irão tinha recentemente transferido mísseis balísticos de curto alcance para a Rússia, para serem utilizados na guerra contra a Ucrânia, o que representa uma escalada significativa no apoio do Irão à Rússia.
A relação militar entre o Irão e a Rússia estreitou-se desde o início da invasão, em fevereiro de 2022. O Irão forneceu milhares de drones de ataque Shahed à Rússia e, de acordo com responsáveis dos EUA, construiu uma fábrica de drones na Rússia.
As imagens de satélite surgiram um dia depois de o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, ter afirmado em Londres, na terça-feira, que os EUA acreditavam que os militares russos tinham recebido carregamentos de mísseis balísticos iranianos Fatah-360 e que “provavelmente os utilizariam dentro de semanas na Ucrânia”.
O Fateh-360 tem um alcance de até cerca de 120 quilómetros e pode transportar uma carga útil de cerca de 150 quilogramas. Embora a carga útil seja inferior à de muitas bombas aéreas russas, seria útil para atingir posições da linha da frente ucraniana a uma distância considerável e, como míssil balístico, seria muito mais difícil de intercetar.
O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla original) estimou que “as forças russas irão provavelmente utilizar os mísseis fornecidos pelo Irão para atingir as infraestruturas energéticas, militares e civis ucranianas nos próximos meses”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Seyed Abbas Araghchi, negou que a República Islâmica tenha fornecido mísseis balísticos à Rússia, publicando no X: “Mais uma vez, os EUA e o E3 (Reino Unido, França e Alemanha) agem com base em informações erradas e numa lógica errada, o Irão NÃO forneceu mísseis balísticos à Rússia. Ponto final.”
O Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano convocou o responsável de negócios iraniano, Shahriar Amouzegar, esta semana, na sequência de notícias sobre o envio de mísseis balísticos para a Rússia. Amouzegar foi avisado das “consequências devastadoras e irreparáveis” para as relações entre a Ucrânia e o Irão, caso os relatos fossem verdadeiros.
As autoridades ucranianas contactadas esta quarta-feira pela CNN não quiseram fazer mais comentários.
O ISW - um think tank com sede em Washington - observou que o Irão já transferiu armas dos portos de Amirabad e Anzali, no Mar Cáspio, para Astrakhan. O próprio Port Olya 3 fez uma dúzia de visitas registadas aos dois portos iranianos este ano. A 6 de setembro, tinha deixado o porto russo para mais uma viagem.
Blinken referiu na terça-feira que Washington tinha “avisado o Irão em privado que dar este passo constituiria uma escalada dramática”.
O secretário de Estado norte-americano referiu que dezenas de militares russos foram treinados no Irão para utilizar o Fateh-360, cujo fornecimento “permite à Rússia utilizar mais do seu arsenal para alvos que estão mais longe da linha da frente, ao mesmo tempo que dedica os novos mísseis que recebe do Irão a alvos mais próximos”.
A CNN foi anteriormente informada por responsáveis norte-americanos que as negociações russas para adquirir os mísseis balísticos de curto alcance ao Irão começaram em setembro do ano passado, quando o então ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, viajou para o Irão para ver os sistemas de mísseis balísticos de curto alcance Ababil dos Guardas da Revolução Islâmica.
“A Rússia partilha a tecnologia que o Irão procura. Trata-se de uma via de dois sentidos, incluindo as questões nucleares, bem como algumas informações espaciais”, acrescentou Blinken, na terça-feira.
O que ainda não é claro é se o fornecimento pelo Irão de mísseis balísticos que podem ser disparados a partir da Rússia contra alvos na Ucrânia irá persuadir os EUA e os aliados europeus a flexibilizarem as restrições à utilização dos seus mísseis contra mais alvos na Rússia pelos ucranianos.
Os mísseis HIMARS de fabrico americano têm sido ocasionalmente utilizados pela Ucrânia contra alvos situados a cerca de 60 a 80 quilómetros dentro da Rússia. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem apelado frequentemente aos aliados de Kiev para que lhes seja dada uma maior latitude na utilização de mísseis ocidentais contra alvos dentro da Rússia.
O tema deve ser abordado na reunião desta sexta-feira, em Washington, entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer.
*Victoria Butenko, Natasha Bertrand e Kylie Atwood contribuíram para este artigo