"Nada fica a salvo" do lado russo. Eis os Storm Shadow, os mísseis de longo alcance que o Reino Unido não teve medo de dar à Ucrânia

11 mai 2023, 17:10
Míssil Storm Shadow (Ben Stansall/Getty Images

Utilizadas pelas forças britânicas no Iraque, são as primeiras armas de longo alcance que a Ucrânia recebe nesta guerra

Um possível game changer na guerra da Ucrânia: é assim que o major-general Isidro de Morais Pereira vê a entrega dos mísseis Storm Shadow por parte do Reino Unido a Kiev. Trata-se de armas com um alcance superior a 250 quilómetros, o que permite ao exército ucraniano realizar manobras até então impossíveis, como alcançar as zonas mais longínquas do Donbass ou da Crimeia.

“Se criarmos um raio, a partir das posições ucranianas em Zaporizhzhia ou no Donbass, nem a ponte de Kerch fica segura”, nota o especialista à CNN Portugal, mencionando a ponte que faz a ligação entre a Rússia continental e a península da Crimeia, anexada em 2014 por Moscovo. “São mísseis com uma capacidade de destruição e um alcance muito superiores aos sistemas HIMARS”, exemplifica. E que diferença faz isso?

A Ucrânia passa a poder olhar de forma efetiva para as três rotas de abastecimento do esforço de guerra da Rússia: a nordeste, em Belgorod, a sudeste, em Rostov-on-Don, e a sul, precisamente na ponte de Kerch. Essas três ligações permitem ao exército russo transportar os materiais e as tropas de que necessita. Por Belgorod, onde há uma importante ligação ferroviária à Ucrânia, entram até à zona de Lyman, por Rostov-on-Don faz-se a ligação a Mariupol, podendo chegar a Zaporizhzhia e até mesmo Kherson, enquanto a ponte de Kerch dá a tal possibilidade de uma ligação terrestre à Crimeia.

“As forças ucranianas vão ter capacidade para combater em profundidade, atacando depósitos de munições, rotas de abastecimento… se decidirem cortar a ponte de Kerch têm a possibilidade de a deitar abaixo, passam a ter alcance para isso”, explica Isidro de Morais Pereira. Note-se que a ponte de Kerch sofreu sérios danos há alguns meses, mas foi preciso um camião carregado de explosivos para o fazer. Agora, a Ucrânia ganha capacidade para conseguir esse objetivo, se quiser, a uma grande distância. No limite, lembra o especialista, Kiev até conseguirá atingir território russo com estas bombas, mas o acordo para que o Reino Unido as enviasse deixou bem claro que isso não pode acontecer.

Disponibilizados em 2002, os Storm Shadow foram utilizados pelas forças britânicas no Iraque em 2003 (AP)

Mas não se trata apenas da distância, que sobe dos cerca de 150 quilómetros até então possibilitados pelas GLSDB (Bombas de pequeno diâmetro lançadas a partir do solo), entregues pela empresa sueca SAAB à Ucrânia, e que eram os projetéis com maior alcance até agora. Os Storm Shadow chegam aos 261 quilómetros de distância, e dentro levam cerca de 450 quilos de explosivos, o que “tem um efeito devastador”, nas palavras de Isidro de Morais Pereira, que destaca o poder “significativo” destes mísseis de alta precisão que são guiados por GPS.

“Na quantidade que estão a ser fornecidos vêm colmatar algumas deficiências que a Ucrânia tem”, reitera o major-general, que vê nesta arma uma possibilidade de compensar a menor capacidade aérea de Kiev, que tem, pela primeira vez, mísseis de longo alcance ao seu dispor.

“Isto vem trazer uma nova dimensão às capacidades da Ucrânia. Não há nenhuma parte do território ocupado [pela Rússia] que não possa ser atingida por este armamento. Nada fica a salvo”, sublinha Isidro de Morais Pereira.

Outra vantagem é a “relativa facilidade” com que este sistema pode ser operado. O major-general garante que o Reino Unido treinou as tropas ucranianas para a utilização dos Storm Shadow, até porque “a formação também é relativamente curta”.

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