opinião
Diretor TVI Norte

Na encruzilhada

3 abr 2022, 22:56

Crónica dos enviados especiais da CNN Portugal/TVI João Fernando Ramos e Nuno Miguel Santos

A guerra de meia dúzia de dias já leva um mês.

São as pessoas que estão a sofrer com isto, com danos brutais nas famílias, no sentido de vida de cada um, no crescimento de tantas e tantas crianças que não percebem porque tocam as sirenes e depois caem as bombas que lhes levam os pais, os irmãos e tantas vezes as mães que tudo dão para os protegerem. São delas os olhos que levo desta guerra. 

O vazio total aliado a uma determinação de sobrevivência que nunca tinha visto em nenhuma das outras terras de desgraça por onde tinha passado em reportagem. Vi os meus filhos naqueles meninos e não consegui imaginar a mãe com eles pela mão, depois de eu os ter deixado numa qualquer fronteira para ir lutar de armas na mão. É impensável, mas isto é o que está a acontecer a milhares de famílias. Conseguem colocar-se neste papel por um minuto?

Elas partem com uma mala pequena, com pouco ou nenhum dinheiro no bolso, sem ninguém do outro lado da fronteira para os receber. Fogem em nome da vida dos filhos, depois de um último abraço a pais, que podem nunca mais ver.

É devastador o efeito que isto tem e terá na organização desta sociedade em várias gerações literalmente dizimadas pelo conflito. Será fácil reconstruir casas, estradas, pontes e até cidades. Será que alguém sabe como se poderá reconstruir uma família destas?

Que princípios de vida vai ter quem viu estas atrocidades e as viveu tão diretamente?

Isto acontece na Europa da liberdade, no mundo das nações unidas, que não conseguiu travar Putin que lidera uma das nações com presença permanente no Conselho de Segurança da ONU. Tudo falhou a começar pela Rússia que não assumiu o que deveria ser um papel pacificador decisivo no concerto das nações. Mas falhámos e continuamos todos a falhar quando acreditamos que uma guerra pode ter solução e não encontramos uma forma de amarrar estas duas nações a uma negociação que para o conflito. Não adianta armar a Ucrânia, embora isso vá travando a Rússia, mas apenas travando. Cada dia com mais armas no terreno será marcado por novas desgraças. Numa guerra ninguém ganha e nesta quem perde são as pessoas que aqui viviam. Saíram da Ucrânia cerca de 5 milhões de pessoas, metade da população portuguesa. Cada dia de batalha vai fazer crescer este número, dividindo mais famílias, matando mais mães, pais e tantos filhos que não queriam de todo esta guerra. Também na Rússia o conflito terá um efeito devastador, quando a verdade do que está aqui a acontecer se contar. 

Será um dia, não sabemos quando, mas será.
 

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