Todos contra todos?

21 out 2022, 00:58

Da lei marcial nas regiões ucranianas anexadas pela Rússia

Nos ataques com drones “kamikaze” - mais um sinal do terror caído dos céus que atormenta e fragiliza as populações ao destruir estruturas energéticas às portas do Inverno -, a Rússia vai sinalizando manobras de distração que alimentam a ideia de uma escassez de armamento. Apenas conseguindo fornecimento de outros estados apátridas na comunidade internacional, como o Irão.

E os sinais de desnorte alastram-se à realidade do mapa no sul da Ucrânia ocupada, com as tropas de Kiev a avançar rumo a Kherson, prontas para a libertação - uma contra-ofensiva que as próprias autoridades pro-russas e forças invasoras temem e já admitem. Daí que a imposição da lei marcial nas regiões ucranianas anexadas possa também sinalizar a admissão da falta de controlo em território ocupado. 

Simbolicamente, serve para reforçar o sentido do processo de anexação - que ninguém reconheceu - e alimentar a narrativa de proteção das populações que a Rússia considera como “suas”.

Mas há um lado potencialmente insidioso nos objetivos potencialmente tácticos deste anúncio. Sobre a grande operação de evacuação de Kherson parar retirar entre 50 mil e 60 mil civis, a Ucrânia fala de “um espectáculo de propaganda”. O que, na guerra da hiperinformação, lança as dúvidas: servirá de um qualquer pretexto para a Rússia? Mostrar ao mundo e aos seus que tentou proteger as populações dos territórios ocupados se algo vier a acontecer? Mesmo que esse algo possa significar uma qualquer encenação que sirva para depois culpar o lado ucraniano, como já aconteceu desde o início da guerra? Haverá instrumentalização em tudo isto?

São algumas dúvidas que questionam o tempo do anúncio marcial e que insuflam o sentido de encruzilhada na contra-ofensiva de Kherson. Especialmente com uma lei que pode ainda pressupor a mobilização total da população em idade legal para combater - e assim colocar ucranianos (ou russos aos olhos dos russos) contra ucranianos. Um jogo final de todos contra todos na tentativa de evitar o avanço de um lado ou a capitulação do outro. E mesmo que esta já tenha sido sinalizada pelas tropas invasoras que equacionam “todos os cenários”, a Rússia arriscaria mais uma retirada no mapa? 

E quem fica, novamente escudos humanos? Os horrores e a experiência desta guerra já mostraram de tudo e multiplicam as dúvidas.

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