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Major-general

Ucrânia: nem vencedores nem vencidos

6 jul 2022, 12:16

Constituindo a Ucrânia um território vasto não é, de todo, fácil protegê-lo e defendê-lo. Este país não estava militarmente bem preparado para fazer frente de igual para igual ao exército russo. No entanto isso não significa que vá ceder.

Com o apoio agora mais claro dos países da NATO e demais aliados, é provável que até ao final deste mês ou início de agosto, a Ucrânia possa dispor de aproximadamente um milhão de homens a combater e a usar os meios mais letais e sofisticados finalmente fornecidos em quantidade suficiente pelos países amigos do Ocidente.

Assim que a Ucrânia começar a receber e a operar o tão esperado armamento de defesa anti aérea de grandes áreas (defesa em cluster), de que são exemplo os sistemas norueguês e americano NASAMS e o alemão IRIS-T, a Ucrânia vai ser capaz de proteger de forma mais eficaz os grandes centros populacionais, os locais de armazenamento e manutenção de equipamento militar, bem como depósitos de munições e explosivos.

Por outro lado, logo que a Ucrânia tenha capacidade de ripostar à altura através da execução de fogos de artilharia e de lança foguetes múltiplos de longo alcance, iremos observar uma Ucrânia muito mais ofensiva, que tentará recuperar o território perdido.

Assim sendo, a sul poderemos assistir a uma contra ofensiva generalizada com as forças russas a remeterem-se a uma postura defensiva tentando manter e consolidar os territórios entretanto conquistados.

Seria importante que a guerra não se prolongasse pelo inverno por muitos e bons motivos. Desde o evitar da “russificação” das populações dos territórios ocupados pela Federação Russa, passando pela possibilidade de assistirmos à desmotivação da população ucraniana devido ao enorme sofrimento a que vem sendo sujeita e mesmo das populações ocidentais, face ao aumento generalizado do custo de vida e da energia em particular, com especial incidência na Alemanha, por via das conhecidas dependências deste país do gás natural russo.

Os líderes ocidentais vão ter de ser capazes de preparar a suas populações para as dificuldades que irão enfrentar em prol de um bem maior. A defesa e a segurança.

Estamos perante uma clara luta contra o tempo. É imprescindível conduzir ataques decisivos antes da chegada do inverno, que sabemos ser muitíssimo rigoroso naquelas regiões. Quando as temperaturas do ar se aproximam ou ultrapassam os 20 graus negativos, inviabilizam por completo as operações militares terrestres.

A semelhante temperatura nem os soldados são capazes de combater nem os equipamentos militares funcionam devidamente. As queimaduras causadas pelo frio, as gangrenas de membros inferiores e/ou superiores, e a congelação dos combustíveis e dos óleos dos hidráulicos dos equipamentos tornam as operações terrestres impraticáveis.

Assim sendo, só no final do inverno voltará a ser possível dar novo ímpeto às operações militares terrestres.  

De qualquer forma a Rússia não deverá terminar, de modo algum, vencedora desta guerra. Uma potencial derrota da Ucrânia é também uma derrota de todo o Ocidente, desde a UE à NATO passando por todos os países que a apoiam. Contudo, parece haver entre nós quem ainda, infelizmente, não tenha interiorizado esta realidade.

Se a Ucrânia perdeu as batalhas por Severodonestsk e Lysyshansk também o Ocidente as perdeu, assim como perderá todas as outras nas quais o exército ucraniano não tenha sucesso. As posições oficialmente assumidas coletivamente na NATO, na EU e no G7, bem como individualmente pelos próprios países que as compõem conduzem-nos a essa dedução lógica.

Enquanto o Ocidente alargado apoiar a Ucrânia ela será capaz de sobreviver à fúria da artilharia russa e terá a fundada esperança de poder restaurar a sua integridade territorial, pelo menos nos mesmos moldes de 23 de fevereiro último.

Diria que neste momento seria uma verdadeira catástrofe para o Ocidente se a Ucrânia perdesse esta guerra!

Pese embora os avanços russos no Donbas, de momento nada está definitivamente ganho, mas também temos de ter a consciência, de que ainda nada está definitivamente perdido por nenhuma das partes em confronto.

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