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Planos de campanha falhados, generais demitidos e cadeia de comando sob pressão!

25 mai 2022, 14:23

O designado Plano A visando a conquista de Kiev, de Kharkiv e de outras áreas e pontos sensíveis da Ucrânia ao estilo de uma “Blitzkrieg”, visando depor os seus líderes políticos e substitui-los por outros de feição pró-russa, podemos afirmar que falhou de forma rotunda com óbvios danos ao nível global e até para a própria reputação de invencibilidade do exército russo.

Seguiu-se o Plano B, essencialmente baseado no ataque simultâneo em vários eixos: no norte, no sul, no nordeste, no leste, um pouco ao estilo da velha doutrina soviética de ataques frontais ao longo de toda a frente, sempre precedidos de barragens de fogos intermináveis, atingindo de forma indiscriminada alvos civis e militares.

Este segundo plano falhou também redondamente. Foi assim que o “nível de ambição” do Kremlin acabou por se resumir ao controlo do Donbas e à conquista de uma “ponte terrestre” ligando a Rússia Continental à Crimeia, passando certamente pela martirizada cidade de Mariupol.

Numa campanha militar, o sucesso ou o insucesso obtido na conduta das respetivas batalhas no terreno acaba por obrigar sempre a uma reavaliação constante do nível de ambição dos objetivos políticos.

De facto, o que se ambiciona politicamente, muitas vezes, acaba por diferir daquilo que se consegue materializar, face a um conjunto de vários fatores, entre os quais se releva a oposição de outra vontade inteligente, os erros de cálculo e o volume e a qualidade dos meios disponíveis.

São muitos os indícios que apontam para a substituição de comandantes no campo de batalha que estarão a ser demitidos devido aos insucessos das suas unidades. Esta não é em regra uma prática aconselhável pelos reflexos que pode desencadear no moral das tropas.

São conhecidos, também, os elevados níveis de indisciplina nas unidades regulares do exército russo. A falta de motivação para combater, as pilhagens, as violações e outros crimes de guerra são indicadores claros da falta de profissionalismo e da indisciplina reinante. Neste capítulo, muitas vezes o “exemplo” tem vindo de cima, como terá alegadamente acontecido em Bucha. Concomitantemente, confirma-se a ideia de que alguns dos “Batlle Groups” russos que se encontram a combater na batalha decisiva pelo Donbas resultam da amálgama do remanescente de duas ou mais unidades que terão combatido designadamente no cerco a Kiev. Diz-nos a doutrina militar que esta prática produz unidades desgastadas, pouco capazes de combater essencialmente por falta de espírito de corpo e de confiança na cadeia de comando.

Segundo fontes do Ministério da Defesa do Reino Unido existem dúvidas razoáveis sobre se o chefe militar de mais alta patente nas forças armadas da Federação Russa, general Valery Gerasimov, ainda detém a confiança do seu Presidente, pois a sua ausência já é notada pelo menos desde as celebrações de 9 de maio passado.

Mais recentemente circulam notícias que apontam para o facto de Vladimir Putin ter demitido o general responsável pela retirada das forças russas de Kharkiv e estar a exercer grande pressão sobre os seus generais para obterem resultados decisivos no Donbas.

Os principais combates têm-se focado essencialmente em torno da região de Kharkiv, agora retomada pelas forças ucranianas, e no Donbas, onde, com exceção da tomada de Mariupol pelas forças russas, não há grandes alterações.

No sul da Ucrânia, em Kherson, as forças russas remeteram-se a uma postura defensiva. Contudo, a ideia de que a Ucrânia poderá vir a adquirir capacidade para efetuar um contra-ataque está na origem do receio russo de que esta cidade possa voltar ao controlo ucraniano, daí a pressa de levar a cabo mais um dos seus famosos “referendos”.

Ainda no sul, as forças russas tentam a todo custo conquistar Mykolaiv, porém sem sucesso. Objetivo este imprescindível para possibilitar a continuação do ataque para sul em direção a Odessa e para oeste em direção à Transnístria e ao resto da Moldova.

A chegada prevista de mais armamento com maior poder de fogo e proteção blindada que os 38 mil milhões de euros de ajuda americana possibilitam serão certamente decisivos no esforço de defesa da Ucrânia, bem como numa mais que provável contraofensiva permitindo desequilibrar decisivamente o curso da guerra a favor de Kiev.

Esta mesma possibilidade foi equacionada pelo coronel russo Mikhail Khodarenok na televisão estatal russa, “a Rossiya 1”, alertando para o facto de a situação militar ir piorar porque, na sua opinião e citando-o, “o mundo inteiro está contra nós”.

Face à situação vivida no teatro de operações interrogamo-nos acerca dos atuais objetivos estratégicos da Federação Russa no que concerne ao presente conflito e sobre que estratégia de saída estará a equacionar, visto que contrariamente à Ucrânia tem vindo a manifestar vontade de regressar à mesa das negociações.

Por tudo o que ficou dito parece-nos bem mais distante o sonho do Kremlin de recuperar o estatuto de superpotência a nível global.

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