Irão prepara-se para enviar mais drones e mísseis para a Rússia usar contra a Ucrânia

CNN , Kylie Atwood com Jennifer Hansler e Ellie Kaufman
3 nov 2022, 08:00
Mísseis iranianos (EPA)

O Irão prepara-se para enviar cerca de mil armas, incluindo mísseis de curto alcance e mais drones kamikaze, para a Rússia usar na guerra contra a Ucrânia, segundo fontes oficiais de um país ocidental que monitoriza de perto o programa de armamento do Irão.

O carregamento está a ser acompanhado de perto, porque será a primeira vez que o Irão envia mísseis de alta precisão para a Rússia, o que pode dar uma vantagem significativa ao Kremlin no campo de batalha.

O último carregamento de armas do Irão para a Rússia incluía cerca de 450 drones, que foram usados pelos russos com consequências mortais. Fontes oficiais ucranianas afirmaram na semana passada que já abateram mais de 300 drones iranianos.

Este novo carregamento marcaria um reforço significativo do apoio iraniano à Rússia. Apesar de ainda não se conhecer a data exata em que o carregamento chegará à Rússia, acredita-se que as armas serão entregues antes do final do ano.

Os drones têm tido um papel significativo no conflito, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia no final de fevereiro, mas o recurso aos mesmos aumentou no verão, altura em que Washington e Kiev dizem que Moscovo adquiriu drones iranianos. Nas últimas semanas, estes drones têm sido utilizados para atingir infraestruturas energéticas cruciais na Ucrânia.

Os drones iranianos são conhecidos como “munições vagantes”, porque têm a capacidade de rondar durante algum tempo a área que foi identificada como potencial alvo e de atacar apenas quando identifica um bem valioso do inimigo.

São pequenos, portáteis e fáceis de lançar, mas a sua maior vantagem é serem difíceis de detetar e poderem ser disparados à distância.

Os EUA alegam ainda que o Irão enviou militares para a Crimeia, para prestar assistência aos ataques russos por drone.

Enviar mais armamento iraniano para a Rússia é uma medida que provavelmente danificará ainda mais a relação com os EUA. Na segunda-feira, o enviado dos EUA ao Irão, Rob Malley, disse que a administração Biden não vai "desperdiçar tempo" em conversações para reavivar o acordo nuclear "se não acontecer nada". O apoio do Teerão a Moscovo na guerra da Ucrânia e as severas medidas tomadas contra os protestos a nível nacional, provocados pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em setembro, levaram os EUA a impor mais sanções ao Irão.

No início do mês, John Kirby, coordenador de comunicação do Conselho de Segurança Nacional, afirmou que a presença de militares iranianos é a prova do envolvimento direto de Teerão no conflito.

“Podemos confirmar que houve militares russos, situados na Crimeia, a pilotar VANTs iranianos e a usá-los para levar a cabo ataques à Ucrânia, incluindo ataques a Kiev”, afirmou Kirby, referindo-se aos drones (Veículos Aéreos Não Tripulados).

Malley fez declarações veementes contra o fornecimento de drones iranianos, na passada segunda-feira.

“Sabemos que esses drones têm sido usados para atacar civis e infraestruturas civis. Sabemos também que o Irão, perante todas as provas, continua a mentir e a negar que isto está a acontecer” afirmou Malley.

Na terça-feira, um porta-voz do Pentágono afirmou que os EUA estão “preocupados” que a Rússia possa “tentar adquirir mais munições avançadas do Irão”, disse o general Pat Ryder aos jornalistas durante uma conferência de imprensa.

“Estamos preocupados que a Rússia possa tentar adquirir mais munições avançadas do Irão, como mísseis terra-terra, para usar na Ucrânia”, afirmou.

Yuriy Ihnat, porta-voz da Força Aérea ucraniana, disse esta terça-feira que, atualmente, a Ucrânia não tem “nenhum método de defesa eficaz contra estes mísseis". "Teoricamente, é possível abatê-los, mas é muito difícil fazê-lo com os recursos que temos neste momento.”

Os representantes iranianos da ONU não deram resposta a um pedido de comentário sobre o novo carregamento. O Irão já negou anteriormente fornecer armas para a Rússia utilizar na Ucrânia, afirmando que “nunca o fez, nem nunca fará”.

O Washington Post foi o primeiro a reportar os planos do Irão de enviar mísseis e mais drones para a Rússia.

Os EUA estão “a analisar tudo o que podem fazer, para além das sanções”, de forma a impedir o envio de armamento iraniano para a Rússia, disse o Secretário de Estado Tony Blinken. Ele afirmou ainda que os EUA estão “a tentar quebrar estas redes”.

No entanto, não se sabe se os EUA poderão impedir o envio de futuros carregamentos, correndo o risco de os iranianos enviarem ainda mais armamento avançado para a Rússia.

As autoridades norte-americanas afirmam também estar a par de discussões sobre mais envios de armamento iraniano para a Rússia que ainda não foi entregue.

No mês passado, os EUA sancionaram uma transportadora aérea pelo seu envolvimento no envio de drones iranianos. Os EUA estão também dispostos  a “visar produtores e compradores” que contribuam para o programa dos drones, segundo o Gabinete de Terrorismo e Inteligência Financeira do Departamento do Tesouro.

A questão da longevidade e sustentabilidade mantém-se, pois não é claro por quanto tempo o Irão poderá ou continuará a fornecer armamento – incluindo mais mísseis avançados – à Rússia.

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