Há uma grande empresa dos EUA a ajudar Putin a manter a "máquina de guerra bem oleada"

19 out, 19:08
Vladimir Putin antecipa reunião dos BRICS (Alexander Zemlianichenko/AP)

A SLB aproveitou a saída de concorrentes no mercado russo para intensificar a sua influência

Estados Unidos e União Europeia aplicaram, desde a primeira hora, uma série de sanções à Rússia, na tentativa de demover Vladimir Putin da continuada invasão na Ucrânia. O problema é que, aqui e ali, vão-se descobrindo casos de empresas que não seguem as diretivas dos governos ocidentais, acabando por ajudar o regime russo a subsistir economicamente.

É por isso que democratas e republicanos do Congresso dos Estados Unidos estão a exigir à administração Biden que, no já no seu fim, aplique novas sanções à indústria de serviços petrolíferos que serve a Rússia.

Entendem os representantes e senadores norte-americanos que a Rússia está a favorecer dos serviços da SLB, empresa também conhecida pelo nome original de Schlumberger, e que importou cerca de 17,5 milhões de dólares (perto de 15 milhões de euros) em equipamento para a Rússia entre agosto e dezembro do ano passado. Temem os legisladores do Congresso que este tipo de movimentações encontrem um buraco legal para continuarem a ocorrer, financiando assim a máquina de guerra de Putin.

O Congresso pediu dados concretos aos departamentos do Tesouro e de Estado para perceber a relação exata entre o Kremlin e a empresa sediada no Texas, que é a maior do mundo em serviços que ajudam a exploração petrolífera.

Estas exigências do Congresso surgem depois de uma investigação do Financial Times, que revelou que a SLB continuou a expandir as suas operações na Rússia, mesmo apesar das sanções, acabando por capitalizar com a monopolização de um mercado onde os seus concorrentes já não estão.

“Esta empresa sediada nos Estados Unidos está a manter a máquina de guerra de Vladimir Putin bem oleada ao financiar a bárbara invasão da Ucrânia”, referiu o grupo de trabalho do Congresso, numa carta assinada por mais de 50 representantes e senadores, e que foi dirigida aos secretários de Estado e do Tesouro, Antony Blinken e Janet Yellen, respetivamente.

“Pedimos que se continue a apoiar o nosso aliado ucraniano ao aplicar sanções mais rigorosas para restringir de forma eficaz os lucros de Putin”, acrescenta a mesma carta.

Embora não atuem diretamente na prospeção de petróleo, empresas como a SLB, que fornecem serviços especializados, ajudam a desbloquear muitas barreiras no mercado do petróleo e do gás natural, duas fontes de energia abundantes na Rússia, e que alimentam, em grande parte, a economia de Moscovo. São também estas empresas que ficam responsáveis por trabalhos como a construção de estradas ou das canalizações necessárias, além dos poços de exploração ou de bombeamento de crude.

Antes do aviso do Congresso norte-americano, vários grupos de direitos humanos e o próprio governo ucraniano - que colocou a SLB na "lista negra" de patrocinadores da guerra" tinham alertado que as atividades da SLB podem ajudar a garantir milhares de milhões de euros à Rússia, o que acaba por financiar o esforço de guerra.

Apesar de tudo isto, vários decisores ocidentais têm hesitado na aplicação de mais sanções, uma vez que a limitação de serviços petrolíferos de empresas deste género podia causar um sufoco na indústria, levando a um aumento inevitável dos preços finais do petróleo.

A SLB até garantiu, em julho de 2023, que estava a “suspender todos os envios de produtos e tecnologia para a Rússia em resposta às sanções internacionais”. Mas dados do Financial Times mostram que não será bem assim: é que as importações continuaram, ainda que de outra fonte. Em concreto, mais de dois milhões de euros chegaram à Rússia vindas daquela empresa tendo passado pela União Europeia. A grande parte desses produtos veio, porém, da China, onde o controlo é menor.

Em paralelo, a SLB também aproveitou as saídas das suas concorrentes Baker Hughes e Halliburton para estender contratos com a Rússia, tendo mesmo colocado 1.300 anúncios de emprego na Rússia desde dezembro do ano passado. Um deles, que anuncia uma posição para técnico de computadores em Tumen, e que data de 15 de outubro, é bem claro: “Somos uma empresa internacional e estamos agora a expandir a nossa equipa”.

O membro da Câmara dos Representantes Lloyd Doggett, que foi eleito pelo Partido Democrata no Texas, avisou que a permissão deste tipo de atividades faz com que o governo norte-americano esteja “essencialmente a financiar ambos os lados da guerra”.

“Embora estejamos conscientes do preço do petróleo, devemos parar de olear a máquina de guerra de Putin para ganhar esta guerra, uma paz segura e reparações”, afirmou.

Por agora, a SLB diz apenas que não tem planos para sair da Rússia, ainda que negue que esteja a expandir o negócio no país, garantindo ainda estar a cumprir com todas as sanções aplicadas.

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